Efeito sanfona: cientistas explicam por que é difícil manter o peso perdido

Um estudo revela que a memória das células de gordura dificulta a manutenção do peso perdido após o emagrecimento

29/11/2024 14:03

Manter o peso perdido após uma dieta ou programa de exercícios é um desafio para muitas pessoas. Apesar de todos os esforços, o chamado “efeito sanfona” pode ocorrer, levando ao rápido ganho de peso novamente. Um estudo recente trouxe novas explicações para isso.

Cientistas explicam por que é difícil manter o peso perdido
Cientistas explicam por que é difícil manter o peso perdido - iStock/Peopleimages

Publicado na revista Nature, o trabalho revelou que as células de gordura possuem uma “memória biológica” que as torna mais propensas a voltar ao estado anterior.

O que o estudo descobriu?

A pesquisa analisou o tecido adiposo de pessoas com obesidade antes e depois de passarem por cirurgias bariátricas, comparando os resultados com indivíduos que nunca foram obesos.

Foi observado que, mesmo após a perda de peso, certas alterações genéticas permanecem ativas nas células de gordura. Essas alterações, chamadas de mudanças epigenéticas, afetam como os genes se expressam sem alterar o DNA em si.

Isso significa que as células de gordura mantêm uma espécie de “memória” do estado anterior, tornando mais fácil o armazenamento de nutrientes e o ganho de peso novamente, mesmo após a perda significativa de gordura.

Como essa memória afeta o corpo?

Os cientistas descobriram que a memória das células de gordura faz com que elas:

  • Armazenem nutrientes de forma mais eficiente;
  • Cresçam de tamanho mais rapidamente em ambientes ricos em calorias;
  • Reajam de forma acelerada ao consumo de alimentos calóricos.

Essas características explicam por que muitas pessoas voltam a ganhar peso de forma mais rápida após um período de emagrecimento.

Além disso, experimentos com camundongos mostraram que esses animais, após perderem peso, recuperavam mais rapidamente quando submetidos a dietas hipercalóricas.

Há como apagar essa memória?

Segundo o estudo, as alterações epigenéticas nas células de gordura podem persistir por anos. Em humanos, os pesquisadores analisaram um período de dois anos após a cirurgia bariátrica e encontraram essas mudanças ainda presentes. Já em camundongos, as alterações foram detectadas até oito semanas após a perda de peso.

É possível que essa memória desapareça ao longo do tempo, mas o período necessário para isso ainda não foi determinado.

Os cientistas estimam que pode levar cerca de 10 anos, o tempo de vida médio de uma célula de gordura, para que essa memória seja completamente apagada.

O que isso significa para o tratamento da obesidade?

Embora atualmente não existam medicamentos capazes de “reprogramar” as células de gordura, a descoberta pode abrir caminhos para novas terapias no futuro.

A ideia seria desenvolver tratamentos que apaguem essa memória celular ou reduzam sua influência no armazenamento de gordura.

Enquanto isso, os autores do estudo destacam que a dificuldade em manter o peso não deve ser vista como falta de força de vontade. A “memória” das células de gordura é uma barreira biológica real que exige estratégias de longo prazo para ser superada.