Por que é tão difícil manter o peso perdido?

A memória biológica das células de gordura explica o desafio do efeito sanfona e abre caminhos para novas terapias contra a obesidade

14/12/2024 14:02

Muitas pessoas enfrentam o conhecido “efeito sanfona” após perder peso, recuperando os quilos perdidos em pouco tempo. Mesmo com dietas rigorosas e programas de exercícios, manter o peso a longo prazo é um desafio.

Um estudo recente publicado na revista Nature lança luz sobre as razões biológicas por trás desse fenômeno, revelando que as células de gordura possuem uma “memória biológica” que dificulta a manutenção do emagrecimento.

Por que é tão difícil manter o peso perdido?
Por que é tão difícil manter o peso perdido? - Depositphotos/mangostock

O que o estudo revelou?

Os pesquisadores analisaram o tecido adiposo de indivíduos obesos antes e após cirurgias bariátricas e compararam os resultados com pessoas que nunca tiveram obesidade.

Eles descobriram que, mesmo com a perda significativa de gordura, as células de gordura mantêm alterações epigenéticas, ou seja, mudanças que afetam a expressão dos genes sem modificar o DNA.

Essas mudanças epigenéticas permitem que as células adiposas “se lembrem” do estado anterior, tornando-as mais propensas a armazenar nutrientes e a crescer rapidamente quando submetidas a ambientes ricos em calorias.

Esse processo explica por que muitas pessoas recuperam o peso de maneira acelerada após períodos de emagrecimento.

Como essa memória afeta o corpo?

A memória das células de gordura influencia diretamente o funcionamento do organismo. Essas células se tornam mais eficientes no armazenamento de nutrientes, aumentam de tamanho com maior rapidez e reagem intensamente ao consumo de alimentos calóricos.

Em experimentos com camundongos, os cientistas observaram que, após perderem peso, os animais recuperaram os quilos perdidos mais rapidamente ao serem expostos a dietas hipercalóricas. Esses resultados indicam que a memória celular age como uma barreira biológica que favorece o ganho de peso.

Células de gordura possuem uma memória biológica que dificulta o controle do peso a longo prazo, segundo estudo publicado na Nature.
Células de gordura possuem uma memória biológica que dificulta o controle do peso a longo prazo, segundo estudo publicado na Nature. - Depositphotos/Wavebreakmedia

A memória pode ser apagada?

As alterações epigenéticas nas células de gordura podem persistir por longos períodos. Em humanos, essas mudanças foram observadas até dois anos após a realização de cirurgias bariátricas, enquanto em camundongos, elas permaneceram presentes por até oito semanas após a perda de peso.

Embora os cientistas acreditem que essa memória biológica possa desaparecer com o tempo, ainda não se sabe ao certo quanto tempo seria necessário.

Estudos sugerem que pode levar até 10 anos, que é o tempo médio de vida de uma célula adiposa, para que essas mudanças sejam completamente apagadas.

Alterações epigenéticas tornam as células de gordura mais propensas a armazenar nutrientes e crescer após a perda de peso.
Alterações epigenéticas tornam as células de gordura mais propensas a armazenar nutrientes e crescer após a perda de peso. - Depositphotos/Dmyrto_Z

O futuro do tratamento da obesidade

A descoberta da memória biológica das células de gordura abre novas possibilidades para o desenvolvimento de tratamentos inovadores contra a obesidade.

Pesquisadores esperam criar terapias capazes de reprogramar ou apagar essa memória, reduzindo a propensão ao reganho de peso após emagrecimentos significativos.

Enquanto essas soluções não estão disponíveis, os especialistas destacam que o insucesso em manter o peso perdido não deve ser interpretado como falta de disciplina ou força de vontade.

Trata-se de uma barreira biológica que exige estratégias de longo prazo e acompanhamento profissional para ser superada.