Por que este sintoma da depressão pode piorar consideravelmente a sua qualidade de vida?

O mais intrigante é que esse sintoma nem sempre vem acompanhado da tristeza, tornando sua identificação ainda mais desafiadora

Por André Nicolau em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
06/03/2025 16:01 / Atualizado em 24/03/2025 13:40

O mais intrigante é que esse sintoma nem sempre vem acompanhado da tristeza, tornando sua identificação ainda mais desafiadora – iStock/PeopleImages
O mais intrigante é que esse sintoma nem sempre vem acompanhado da tristeza, tornando sua identificação ainda mais desafiadora – iStock/PeopleImages - iStock/PeopleImages

A depressão é um labirinto de emoções turvas, uma condição que vai muito além da tristeza profunda. Entre seus sintomas, um dos mais silenciosos, mas impactantes, é a anedonia – um verdadeiro ladrão do prazer. Trata-se da incapacidade de sentir satisfação em atividades que antes eram fontes genuínas de alegria. O que antes encantava, agora parece sem cor e sem sentido.

A anedonia não se limita a uma mera falta de vontade passageira; ela é persistente e se infiltra em diversos aspectos da vida. Estima-se que até 75% das pessoas com depressão experimentem essa desconexão com o prazer. O mais intrigante é que esse sintoma nem sempre vem acompanhado da tristeza, tornando sua identificação ainda mais desafiadora. Alguém pode não estar visivelmente triste, mas simplesmente perdeu o brilho nos olhos diante do que antes lhe trazia felicidade.

O alerta silencioso

Se essa apatia se estende por mais de duas semanas, pode ser um forte indicativo de que algo está errado emocionalmente. Curiosamente, a anedonia não se restringe à depressão – também pode estar presente em condições como esquizofrenia, transtornos de ansiedade e até no Mal de Parkinson.

Reconhecer esse sintoma é essencial para um diagnóstico preciso. Afinal, nem sempre a depressão se manifesta da maneira que imaginamos, e entender essa complexidade pode ser o primeiro passo para um tratamento mais eficaz.

A falha nos tratamentos convencionais

Apesar de sua relevância, a anedonia ainda é frequentemente ignorada nas abordagens terapêuticas tradicionais. Os tratamentos convencionais priorizam a melhora do humor geral e a redução do desânimo, mas nem sempre atacam a raiz do problema: o sistema de recompensa cerebral.

Pesquisas recentes sugerem que essa lacuna pode explicar por que muitos pacientes não sentem um alívio completo com os tratamentos existentes. Se a capacidade de sentir prazer não é restaurada, o caminho para a recuperação continua incompleto.

Novas fronteiras no tratamento

A esperança, no entanto, se renova com os avanços na área da saúde mental. Uma das abordagens mais promissoras é a “terapia de realce da depressão”, que busca reativar o prazer em atividades cotidianas. Esse tipo de psicoterapia tem mostrado bons resultados ao ajudar pacientes a redescobrirem motivação e satisfação.

Além disso, medicamentos que estimulam neurotransmissores ligados ao sistema de recompensa, como a dopamina, têm se mostrado mais eficazes na reversão da anedonia. Restaurar esse circuito é essencial para devolver ao paciente a capacidade de se envolver emocionalmente com o mundo ao seu redor.

O momento de pedir ajuda

A anedonia pode ser um síntoma traiçoeiro, muitas vezes mascarando a depressão ou outras condições psicológicas. Identificá-la precocemente e buscar ajuda especializada são passos fundamentais para evitar que esse vazio se instale de maneira definitiva.

Se você ou alguém próximo tem sentido essa perda de prazer de forma persistente, vale a pena procurar apoio profissional. Afinal, a vida é feita de momentos que nos fazem sorrir, e todos merecem redescobrir o encanto do cotidiano.

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