Profissional da saúde é bom apenas quando tem milhares de seguidores?

Não é incomum pessoas preterirem aqueles profissionais com poucos seguidores por outros com mais engajamento nas redes sociais

Ninguém discorda que as redes sociais impactam diretamente em nossas vidas. Porém, desde os tempos de Orkut até o Instagram, é notável a mudança de objetivo e abrangência dessas plataformas. Hoje em dia o uso das redes sociais vai além de postar e curtir fotos, ou viralizar por meio de frases de impacto. Todo tipo de serviço pode e é ofertado nos aplicativos, inclusive o de profissionais autônomos da área da saúde. Mas a tecnologia que nos aproxima da informação e do serviço de saúde é realmente a mais adequada?

Com perfis profissionais lotados de seguidores, médicos, nutricionistas, psicólogos e outros profissionais tornam-se celebridades do mundo virtual: fazem publicidade de seus atendimentos com fotos de pacientes famosos; usam antes e depois para conquistar mais clientela; abusam dos sorteios e dos posts virais para aumentar ainda mais o engajamento de seus perfis e serem cada vez mais conhecidos.

Bom profissional é aquele que tem mais seguidores nas redes sociais?
Créditos: andresr/istock
Bom profissional é aquele que tem mais seguidores nas redes sociais?

Até aí, quando se segue à risca os limites impostos pelos conselhos de classe que regulam as profissões, não há nada de mal. Mas é preciso atenção na escolha: será que um profissional é bom apenas por ter milhares de seguidores e fazer dancinhas gesticulando frases sobre seu trabalho? Ou será que nos tornamos mais preguiçosos para buscar o que de fato interessa quando o assunto é nossa saúde, esquecendo do currículo e da experiência dos profissionais formados para cuidar da gente?

Mais uma vez reitero que não há nada de errado em profissionais da saúde terem perfil em qualquer rede social. Eu mesma possuo a minha conta no Instagram e acho incrível a oportunidade de estar próxima a pessoas do mundo inteiro que apreciam o que eu faço. Por meio de likes e comentários, seguidores me animam a continuar no caminho nem sempre fácil de trabalhar com nutrição nos transtornos alimentares e obesidade. O ponto é que esse não pode ser o único critério para selecionar se sou ou não a melhor opção como nutricionista.

Colegas que não gostam ou não se sentem confortáveis para se expor e postar nas redes sociais muitas vezes são preteridos no momento da escolha do agendamento de uma consulta. Não é incomum eu escutar de pessoas que estão buscando acompanhamento nutricional que se o profissional não está conectado ou não tem um perfil com muitos seguidores na rede social, ele, então, não seria a melhor opção – o que, na maioria das vezes, é um grande erro.

Com o alcance imenso dos perfis, cria-se uma barreira que isola não só os profissionais que estão online dos que vivem offline ou que são pouco conhecidos, mas também, tantas vezes, os experientes e competentes dos famosos e aparecidos. Por isso, a melhor maneira de você escolher alguém para te ajudar com seus objetivos de saúde envolve ir além da rede social. Se o primeiro contato tiver sido a partir desse caminho, continue a busca! Investigue o currículo, os lugares onde o profissional já trabalhou, as equipes com quem já esteve ou está envolvido, atente-se a indicações, e verifique a disponibilidade e disposição para te assistir.

Não faltam exemplos de profissionais que se mostraram muito mais preocupados com sua aparência e ego após terem bombado nas redes sociais. E não vale uma linha citá-los aqui. O importante é entender que, quando colocamos nosso bem-estar nas mãos de um profissional da saúde, é preciso sentir-se seguro e confiar no processo. E esse vínculo, além de muito delicado e valioso, é impossível de ser mensurado pelo número de seguidores ou comentários em posts que esse profissional tenha.

Texto escrito pela nutricionista Marcela Kotait.