Quando é bom comentar sobre o corpo do outro?
O caso da atriz Cleo expõe a insensibilidade da patrulha corporal que persegue a forma física alheia e dá pitaco mesmo sem liberdade para isso
Muitos de nós já ouvimos a expressão de que nosso corpo é nosso templo. Independentemente de concordarmos ou não com ela, essa mensagem traz consigo uma ideia muito importante que vale a pena refletirmos: a de que corpo nenhum deveria ser assunto público.
Muitos propagam que a liberdade individual passa também pela liberdade do corpo. E me sinto muito confortável para estender essa máxima à verdade de que nenhuma forma corporal deve ser objeto de debates. Seja o corpo magro, forte, gordo, velho, pequeno ou grande. Nenhum corpo deve ser passível de julgamento ou comentário.
O caso recente da atriz Cleo ilustra bem a importância dessa máxima. A artista veio a público recentemente desabafar após ter sofrido duras críticas em razão de um ganho de peso. E isso mesmo após ter reconhecido que havia lançado mão de medicações e comportamentos inadequados para manter o corpo antigo. Para os comentadores de corpo de plantão, porém, o número da balança ou as medidas da silhueta são mais importantes do que a própria saúde das pessoas.
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O que move a patrulha corporal
As críticas sobre a forma corporal podem surgir de duas formas principais. A primeira, por pressão estética, como foi o caso da atriz Cleo, definida como a pressão social, perpetuada e difundida pela sociedade e pela tentativa de encaixar pessoas no padrão de beleza vigente, com relação direta com a insatisfação corporal e com a imagem.
A segunda, por gordofobia, que é o preconceito e aversão ao corpo gordo, manifestada de várias formas, mas comumente expressa pelo entendimento de que todo corpo gordo seria doente ou não mereceria direitos básicos, como o de ir e vir, especialmente em espaços públicos.
A pressão por um corpo idealizado faz com que muitas pessoas adoeçam e permaneçam insatisfeitas com o próprio corpo. Isso porque transtornos alimentares e o ato de comer de maneira transtornada não são questão de escolha. E nem acontecem com um determinado tipo de corpo apenas, como geralmente se imagina. Não é possível adivinhar a relação das pessoas com o próprio corpo. Muitas mulheres e homens travam batalhas diárias como a da Cleo. Comentário de nenhuma natureza ajuda ninguém a ter mais “motivação” para mudar seu corpo.
É fundamental não reforçarmos qualquer tipo de comportamento relacionado à maneira que alguém experimenta ou deveria experimentar o próprio corpo. Não devemos dar conselhos sobre a forma física ou sobre a saúde de ninguém. Não somos capazes de saber o que se passa na vida dos outros. O respeito à individualidade, que passa inclusive pelo respeito às diferentes formas corporais, deve vir primeiro. Sempre.
Texto escrito pela nutricionista Marcela Kotait.