Quando o mundo grita: como o barulho afeta a vida de pessoas autistas

Para quem tem hipersensibilidade auditiva, cada ruído pode soar como um alarme em volume máximo, capaz de causar verdadeiro colapso sensorial

Por André Nicolau em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
18/04/2025 18:00

Para quem tem hipersensibilidade auditiva, cada ruído pode soar como um alarme em volume máximo, capaz de causar verdadeiro colapso sensorial – iStock/MariaDubova
Para quem tem hipersensibilidade auditiva, cada ruído pode soar como um alarme em volume máximo, capaz de causar verdadeiro colapso sensorial – iStock/MariaDubova - Getty Images/iStockphoto

Em um mundo onde o barulho é praticamente constante – buzinas, sirenes, multidões, alertas de celular –, viver pode ser um desafio diário. Para muitos, esses sons fazem parte do cotidiano e mal são notados. Mas, para quem tem hipersensibilidade auditiva, cada ruído pode soar como um alarme em volume máximo, capaz de causar verdadeiro colapso sensorial.

Essa é a realidade de muitas pessoas autistas, para quem o som não é apenas um pano de fundo. Ele pode se tornar protagonista de cenas caóticas e exaustivas. E o que para uns é só “um pouco de barulho, para outros é uma barreira invisível que afeta o bem-estar, a concentração e até a capacidade de realizar tarefas básicas.

Quando o som vira sobrecarga

Imagine entrar em um shopping movimentado. Para a maioria, há música ambiente, conversas misturadas e passos apressados. Mas, para pessoas autistas com hipersensibilidade auditiva, esse ambiente pode parecer um campo de batalha acústico: o zumbido das lâmpadas, o bip das máquinas, o tilintar de talheres, o clique dos saltos – tudo chega junto, sem filtro, sem pausa. O cérebro não consegue hierarquizar os estímulos. O resultado? Cansaço extremo, confusão mental e, em casos mais severos, crises ou desligamentos.

Afinal, o que é hipersensibilidade auditiva?

Trata-se de uma condição na qual sons comuns – que muitas pessoas mal percebem – se tornam desconfortáveis, angustiantes ou até fisicamente dolorosos. Essa resposta aumentada aos estímulos sonoros está ligada a diferenças na forma como o cérebro processa e interpreta os sons.

Para o público neurotípico, o som distante de um ventilador pode ser inofensivo ou até relaxante. Para alguém com hipersensibilidade, ele pode parecer ensurdecedor, provocando tensão, irritabilidade ou ansiedade.

Esse excesso de estímulo pode levar à chamada sobrecarga sensorial, uma situação em que o corpo e a mente dizem “basta”. A reação pode variar: de explosões emocionais a um completo shutdown – um estado de desligamento em que a pessoa parece ausente, incapaz de reagir ao ambiente ao redor.

Nem toda pessoa autista é hipersensível

É importante lembrar que o espectro do autismo é vasto e diverso. Algumas pessoas são hipersensíveis, outras são hipossensíveis – ou seja, têm uma percepção reduzida dos estímulos e muitas vezes buscam sensações intensas para se sentirem equilibradas. No caso da audição, isso pode significar o gosto por músicas em alto volume ou sons repetitivos.

A relação de cada pessoa autista com os sons é única – e deve ser respeitada como tal.

Barulho em excesso: impacto real e cotidiano

Pense em uma criança autista em uma sala de aula barulhenta, ou em um adulto tentando trabalhar em um escritório com telefones tocando e colegas conversando ao redor. Para quem é hipersensível ao som, esses ambientes são mais do que desconfortáveis – podem ser intransitáveis. Em momentos de sobrecarga, o corpo reage como pode: com ansiedade, crises ou desligamento completo.

Como ajudar? Estratégias que fazem diferença

A boa notícia é que existem formas de amenizar os impactos da hipersensibilidade sonora. Conheça algumas delas:

  • Fones com cancelamento de ruído: aliados poderosos para criar uma bolha de silêncio em meio ao caos.
  • Músicas familiares: funcionam como um “escudo auditivo”, ajudando a bloquear ruídos imprevisíveis.
  • Tampões de ouvido: discretos, úteis em salas de aula ou reuniões.
  • Espaços tranquilos: ter um local seguro e silencioso para se recolher pode evitar crises e facilitar a recuperação.

Um mundo mais acessível começa com escuta

A hipersensibilidade auditiva é invisível, mas profundamente real. Ela não desaparece com força de vontade, nem com “acostumar-se”. Por isso, a empatia e o entendimento são essenciais para criar ambientes mais inclusivos – seja reduzindo ruídos em locais públicos, oferecendo espaços silenciosos ou simplesmente respeitando o tempo e os limites de cada pessoa.

Afinal, viver em sociedade é também saber ouvir – e isso começa com escutar quem mais sente o som do mundo.

Outras dicas de Saúde na Catraca Livre 

A ansiedade é como uma tempestade interna que pode trazer consigo tensão, palpitações, suor frio e boca seca. Mas não se preocupe. Diagnosticada em cerca de 9,3% da população, Brasil é o pais com maior número de casos de ansiedade no mundo.

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