Saiba quais são os tipos sanguíneos raros e como é feita a busca por eles
Neste Junho Vermelho, entenda a importância dos tipos sanguíneos raros e os desafios para encontrar doadores compatíveis
Você já ouviu falar em sangue raro? Existem tipos sanguíneos tão difíceis de encontrar que exigem um esforço nacional — e até internacional — para garantir uma transfusão compatível.
Neste Junho Vermelho, mês de incentivo à doação de sangue, entenda o que torna um tipo de sangue raro e por que isso importa.

O que torna um tipo de sangue raro?
De acordo com a Sociedade Internacional de Transfusão Sanguínea (ISBT), um tipo de sangue é considerado raro quando aparece em menos de 1 a cada 1.000 pessoas.
Isso acontece quando a pessoa tem a ausência de antígenos que são comuns na maioria da população. Os antígenos são proteínas presentes na superfície das células vermelhas do sangue, e é isso que define, por exemplo, se alguém é A, B, AB ou O; Rh positivo ou negativo.
Algumas pessoas nascem com combinações muito específicas desses antígenos — ou com a ausência de vários deles — e por isso se tornam casos raros. E quanto mais raro o sangue, mais difícil é achar um doador compatível.
O famoso “sangue dourado”
Entre os tipos mais raros do mundo está o sangue Rh nulo, conhecido popularmente como “sangue dourado”.
Segundo a hematologista Maria Cristina Pessoa dos Santos, responsável pela Agência Transfusional do Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, no Rio de Janeiro, ele é extremamente raro: existem menos de 50 pessoas conhecidas com esse tipo no mundo.
“Esse tipo de sangue é adquirido de maneira hereditária, pai e mãe devem ser portadores dessa mutação. […] O que fazemos ao identificar uma pessoa Rh nulo é estudar a família para localizar outros semelhantes e cadastrá-los, para que, caso ela precise de transfusão sanguínea, possa receber de outro igual e também ser doadora para outro paciente com as mesmas características”, afirma dra. Maria Cristina, em entrevista à Catraca Livre.
Quem tem sangue Rh nulo não possui nenhum dos antígenos do sistema Rh. E pode doar para qualquer outra que seja Rh negativo, mas só pode receber sangue de alguém igual a ela, ou seja, quem tem Rh nulo só pode receber sangue de outro doador Rh nulo.

“Pessoas com Rh nulo precisam de cuidados especiais em transfusões”, explica a médica. Muitas vezes, o próprio sangue da pessoa é coletado e guardado com antecedência, para ser usado em cirurgias ou emergências.
A médica pontua que, como esse sangue não pode ser congelado com facilidade, as doações são feitas sob demanda. “Devido à fragilidade da membrana, esse tipo de sangue não reage bem ao congelamento, por isso não é comum encontrar bolsas já prontas. O mais comum é convocar um doador ‘nulo’ para doar quando há uma demanda. Essa pode ser, inclusive, internacional, com o envio da bolsa coletada por avião para o paciente necessitado.”

Existem outros tipos raros?
Além do Rh nulo, há outros tipos de sangue considerados raros por apresentarem combinações incomuns de antígenos.
Esses casos podem ser mais comuns em certos grupos étnicos, como indígenas da América do Sul ou pessoas de origem africana, por exemplo.
Isso também explica por que, no Brasil, com tanta mistura de origens, encontrar sangue compatível pode ser ainda mais complicado, conforme o Guia do Cadastro de Sangue Raro do Ministério da Saúde.
Além disso, vale reforçar que a frequência dos tipos sanguíneos varia entre diferentes povos e etnias. Por isso, um tipo de sangue que é raro em uma população pode ser comum em outra.
Como a pessoa descobre se tem sangue raro?
Geralmente, isso só aparece quando a pessoa precisa fazer uma transfusão, uma cirurgia ou quando está grávida e passa por exames mais detalhados.
Quando os exames detectam anticorpos contra antígenos comuns, o laboratório investiga mais a fundo e pode identificar um tipo raro.
Em alguns casos, a família da pessoa também é investigada para ver se há parentes com o mesmo sangue. Assim, se for necessário, já há doadores cadastrados.

O que o Brasil faz para cuidar desses casos?
Em 2016, o Ministério da Saúde criou o Cadastro Nacional de Sangue Raro (CNSR), que reúne informações de pessoas com tipos sanguíneos raros.
Isso ajuda os hemocentros a encontrarem doadores compatíveis com mais rapidez quando aparece um paciente com necessidade urgente.
Hoje, o CNSR tem quase 9 mil doadores cadastrados. A maioria está na região Sudeste, segundo o guia do Ministério da Saúde.
Entre os 8.880 doadores cadastrados no CNSR, a maioria (88%) tem sangue raro por não apresentar vários antígenos comuns de diferentes sistemas sanguíneos. Os outros 12% têm sangue raro por faltarem antígenos de um único sistema ou por não terem um antígeno considerado público.
Como a sociedade pode ajudar?
Além de doar sangue com regularidade, é importante incentivar que mais pessoas conheçam seu tipo sanguíneo e façam exames em hemocentros.
Alguém pode ter um tipo raro e nem saber, e essa informação pode ser essencial para salvar uma vida.
Durante o Junho Vermelho, a atenção se volta para todos os doadores. Mas lembrar dos tipos raros é entender que, às vezes, apenas poucas pessoas no mundo podem ser a chave para salvar uma vida.

Como doar sangue?
Para doar, é preciso ter entre 16 e 69 anos (menores de 18 com autorização dos responsáveis), pesar mais de 50 quilos e estar em boas condições de saúde.
No dia da doação, é importante estar descansado, alimentado e apresentar um documento oficial com foto. Alguns impedimentos temporários incluem gripes, febre, uso recente de certos medicamentos, cirurgias recentes ou tatuagens feitas há menos de um ano.
Uma única doação pode salvar até quatro vidas. Para saber onde doar, basta acessar o site do Hemocentro do seu estado ou procurar o serviço de saúde mais próximo. Clique aqui para ver alguns locais.
Para a campanha Junho Vermelho, a Catraca Livre prepara uma série de reportagens especiais sobre o assunto para informar, conscientizar e incentivar todos vocês a doarem sangue. Saiba mais clicando aqui.