Entenda a relação entre os traços de personalidade e maior risco de demência

Estudo sugere como nossas mentes, emoções e escolhas diárias podem moldar nossa saúde cognitiva no futuro  

12/12/2024 13:00

Os achados revelaram uma relação complexa entre personalidade, bem-estar e o risco de demência – iStock/monkeybusinessimages
Os achados revelaram uma relação complexa entre personalidade, bem-estar e o risco de demência – iStock/monkeybusinessimages - iStock/monkeybusinessimages

Um estudo inovador, publicado na prestigiada revista Alzheimer’s and Dementia, revelou uma intrigante conexão entre características de personalidade e o risco de desenvolver demência.

A pesquisa consolidou dados de oito estudos menores, abrangendo um total de 44.531 pessoas com idades entre 49 e 81 anos.

Dentre os participantes, 1.703 desenvolveram demência ao longo do período de análise. Para chegar às conclusões, os voluntários passaram por avaliações de personalidade e, após seu falecimento, seus cérebros foram examinados em busca de sinais de demência.

Desvendando os “cinco grandes” traços da personalidade

Os cientistas focaram nos chamados “cinco grandes” traços de personalidade, explorando como cada um poderia influenciar o risco da doença:

  • Abertura a experiências – uma inclinação para a curiosidade, criatividade e amor pela novidade, como a mentalidade de um explorador.
  • Conscienciosidade – marcado por organização, disciplina e foco em metas.
  • Extroversão – caracterizada por energia social e entusiasmo em interações.
  • Amabilidade – refletindo um espírito cooperativo e empático, como o de um mediador que preza pela harmonia.
  • Neuroticismo – tendência a se preocupar excessivamente e lidar com emoções negativas intensas.

Além disso, os pesquisadores analisaram a influência do afeto positivo (traços como alegria e entusiasmo) e do afeto  negativo (emoções como raiva e medo) na probabilidade de desenvolver a doença.

O quebra-cabeça dos resultados

Os achados revelaram uma relação complexa entre personalidade, bem-estar e o risco do transtorno. Enquanto traços como neuroticismo e afeto negativo aumentaram as chances de diagnóstico, características como consciência, extroversão e afeto positivo demonstraram um efeito protetor.

Curiosamente, ao examinar os sinais neuropatológicos – os danos físicos no cérebro associados à demência – não houve uma associação consistente com traços de personalidade. Por exemplo, altos níveis de neuroticismo não estavam diretamente ligados a uma maior carga neuropatológica. Isso sugere que, embora a personalidade possa influenciar a probabilidade de receber um diagnóstico de demência, ela não se conecta diretamente aos danos cerebrais subjacentes.

A resiliência como aliada

Outro ponto fascinante emergiu: certos traços, como a abertura a experiências, podem funcionar como um “escudo” contra a demência. Em 42% dos estudos, esse traço mostrou efeitos protetores, enquanto o afeto positivo e a satisfação com a vida tiveram resultados semelhantes em 50% dos casos.

Os pesquisadores especulam que essas características podem ajudar as pessoas a enfrentar deficiências cognitivas de maneira mais eficaz, adaptando-se inconscientemente aos desafios impostos pelo declínio mental.

Além das expectativas

Ao contrário de pesquisas anteriores, o estudo não encontrou uma relação clara entre gênero, nível de escolaridade e o vínculo entre personalidade e demência.

Com esses resultados, os autores destacaram que traços de personalidade podem ser ferramentas valiosas na detecção precoce, planejamento de tratamentos e até na identificação de grupos de risco para demência. Este campo de estudo abre novas possibilidades para entender como nossas mentes, emoções e escolhas diárias podem moldar nossa saúde cognitiva no futuro.