Estudante aposta na aloe vera para tratar retocolite ulcerativa de forma natural; médico opina

Daiany encontrou na abordagem natural um novo caminho para conviver com a retocolite ulcerativa; conheça essa história neste Maio Roxo

Por Caroline Vale em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
23/05/2025 17:51

Aos 16 anos, a estudante e assistente de dentista, Daiany Setmaier, começou a enfrentar episódios frequentes de diarreia, gases e inchaço abdominal.

Inicialmente, achava que os sintomas tinham relação com a alimentação fora de casa. Como muitos brasileiros, recorreu à automedicação, acreditando que fosse algo passageiro.

O diagnóstico de retocolite ulcerativa (RCU), no entanto, veio dois anos depois. “Estava cansada de ouvir que ninguém sabia ao certo o que eu tinha. […] Só quando consegui dinheiro para consultar um especialista é que as coisas começaram a caminhar. Ele me pediu vários exames, incluindo a colonoscopia — e foi esse exame que confirmou”, lembra Daiany, que hoje tem 32 anos, em entrevista à Catraca Livre para o Maio Roxo.

Na época, o médico explicou que era uma doença crônica, sem cura, e que eu teria que aprender a conviver com ela.”

Daiany foi diagnosticada com retocolite ulcerativa na adolescência.
Daiany foi diagnosticada com retocolite ulcerativa na adolescência. - Acervo pessoal

Os desafios com os tratamentos convencionais

Durante quase 17 anos, Daiany passou por uma longa jornada com diferentes medicações. Começou com a mesalazina, seguida por corticoides, imunossupressores, biológicos e, por último, um tratamento injetável semanal.

No início, todos pareciam funcionar bem por três ou quatro meses, mas depois os sintomas voltavam com força”, conta a estudante, que é natural de Piracanjuba (GO) e atualmente mora em Atlanta, nos Estados Unidos.

Esse último medicamento trouxe efeitos colaterais severos, como cansaço extremo e sonolência. “Foram seis meses assim, até que os sintomas voltaram com ainda mais intensidade.”

Uma nova forma de tratar a retocolite ulcerativa

A mudança de rota veio quando seu médico informou que não havia mais opções convencionais.

A proposta foi participar de um protocolo experimental. Daiany até aceitou, mas ao pesquisar mais sobre os riscos, decidiu parar e buscar um novo caminho.

“Quando ouvi do meu médico que não havia mais medicação para mim, fiquei abalada e comecei a buscar caminhos naturais por conta própria. […] Comecei a pesquisar, ouvir histórias, buscar informação. Perceber que meu corpo já não respondia mais aos medicamentos foi um alerta claro de que era hora de mudar de abordagem”, relembra a assistente.

Então, ela iniciou um tratamento mais natural, com foco na escuta do próprio corpo e no fortalecimento do sistema digestivo e imunológico.

Segundo Daiany, ela também se deu conta de que o cuidado não pode se limitar ao intestino — é preciso enxergar o corpo todo. “Uma inflamação intestinal afeta muitas outras áreas da saúde.”

Aloe vera no centro da rotina de cuidados

A planta, chamada popularmente de babosa, se tornou um dos pilares da nova abordagem de Daiany, após uma orientação simples de sua avó.

Desde que comecei a cuidar melhor de mim e adotei a suplementação e principalmente a aloe vera, não só meu intestino tem melhorado, meu corpo inteiro tem respondido de forma positiva.”

Hoje, adota uma abordagem natural para controlar a inflamação intestinal.
Hoje, adota uma abordagem natural para controlar a inflamação intestinal. - Acervo pessoal

Além da aloe vera, Daiany incluiu na rotina vitamina D, K2, glutamina, probióticos e uma alimentação mais natural, com menos laticínios, glúten e ultraprocessados.

Não faço uso de medicamentos farmacológicos atualmente. Tudo o que utilizo tem como objetivo ajudar o corpo a se reequilibrar de forma gentil, sem forçá-lo.”

Resultados e aprendizados

Atualmente, Daiany está há cinco meses sem crises — o maior período de estabilidade desde o diagnóstico. “Tenho buscado o equilíbrio e, pela primeira vez, estou tratando a doença de forma natural e sem nenhum efeito colateral.”

Mesmo ainda em fase de adaptação, já sente melhorias evidentes que vão além do intestino: na pele, cabelo, sono e até na concentração.

Hoje tenho muito mais qualidade de vida: não me preocupo tanto com o banheiro, consigo trabalhar mais horas e, principalmente, aprendi a escutar meu corpo. Isso é libertador“, ressalta a estudante.

Aloe vera virou um dos pilares do tratamento natural de Daiany.
Aloe vera virou um dos pilares do tratamento natural de Daiany. - Acervo pessoal

Embora não esteja usando medicamentos farmacológicos no momento, ela retomou recentemente o acompanhamento com um profissional de saúde, que orienta de forma mais segura o uso da suplementação.

A experiência também lhe trouxe reflexões sobre o sistema de saúde: “a medicina tradicional nem sempre está preparada para tratar o indivíduo por trás da doença. O tratamento muitas vezes é padronizado, como está nos livros, mas por trás de cada diagnóstico existe uma história, uma vida, sonhos.”

Daiany relata que esses métodos naturais têm funcionado bem no seu caso e costuma compartilhá-los com quem passa por situações semelhantes. Ainda assim, ela faz questão de deixar o lembrete:

Cada corpo reage de forma única. O que funciona para mim pode não funcionar para outro, e vice-versa.”

O que dizem os especialistas?

Para o cirurgião gastrointestinal Dr. Lucas Nacif, membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD), mudanças no estilo de vida e hábitos alimentares saudáveis realmente podem contribuir para o controle da retocolite ulcerativa.

Toda essa orientação que ela faz — e que normalmente os nutricionistas recomendam — é importante tanto para o cuidado de uma doença inflamatória intestinal quanto para manter um hábito intestinal saudável.” 

No entanto, ele reforça o que a própria Daiany também pontuou: o tratamento da retocolite ulcerativa deve ser sempre individualizado. “Não podemos colocar como uma receita que é igual para todo mundo.”

O médico também destaca a importância do acompanhamento profissional, pois cada paciente tem um grau de inflamação.

“Eu não recomendaria a interrupção da medicação sem avaliar o grau da doença. Há pacientes com quadros mais avançados, outros com quadros leves ou até com diagnósticos duvidosos. As medicações, como os corticoides, os imunossupressores, as biológicas, já têm eficácia muito bem comprovada na literatura científica para o tratamento da retocolite. Então, não devemos desaconselhar esse tipo de cuidado e o acompanhamento médico específico.”

 

Maio Roxo

Neste mês dedicado à conscientização sobre as doenças inflamatórias intestinais (DII) que impactam a qualidade de vida de milhões de pessoas, a Catraca Livre prepara uma série de reportagens para informar seus leitores. Clique aqui para acessar.