Tutorial de como se tornar um mulherão foda

Texto escrito por Isabelle Dias e publicado no Superela

Em parceria com Superela
26/05/2017 14:43

Desde que comecei a me descobrir como mulher, lá pelos 15 anos, me considero alguém com uma autoestima razoável. Nem todos os dias foram bons, passei por distúrbios alimentares, depressão, crises de identidade e uma jornada dolorosa, mas cheia de conquistas, rumo ao olhar para o espelho e gostar do reflexo.

Entretanto, tudo isso foi questionado em meio a uma sessão de terapia quando li o seguinte trecho (de um livro que devorei durante uma insônia provocada por uma bad intensa e profunda – culpa do fim de um relacionamento, desculpem o clichê):

“Todos os dias vemos homens que são amáveis, adoráveis e respeitadores com suas esposas e namoradas. Essas mulheres são as mais bonitas? Não usualmente. Elas são as mais inteligentes? Dificilmente. Mas elas possuem uma qualidade tão rara e valiosa que os homens não tem escolha a não ser notar… Elas gostam delas mesmas. Elas têm orgulho das suas conquistas. Elas percebem que um homem soma a sua vida, mas não é a sua vida. Sua linguagem corporal e palavras transmitem a mensagem: ‘Eu espero ser bem tratada. Se você não me respeitar, eu vou deixar você ir (não importa o quanto eu te amo)’. Porque elas se respeitam, seus parceiros as enxergam como a pedra mais preciosa do universo”, PARIKH, Monica e HARTSTEIN, Aimee – “Come Here, Go Away” (Tradução livre minha).

No momento em que terminei de ler o parágrafo, olhei para minha terapeuta e soltei uma descoberta que parecia estar guardada há muito tempo: eu não gosto de mim.

Evan Rachel Wood
Evan Rachel Wood

E isso foi algo tão terrivelmente aterrorizante de admitir, que precisou sair como uma confissão desapercebida para que eu começasse a processar. Porque, ao meu ver, eu tinha feito exatamente tudo o que os manuais de autoajuda e autoestima tinham me recomendado. Eu procurei referências de beleza que se encaixavam no meu biotipo, encontrei meu estilo pessoal, ia sozinha ao cinema sem me preocupar com o que os outros pensariam, desisti de parecer a Adriana Ambrósio, comecei a me empoderar e a desconstruir os padrões de beleza pregados pela sociedade. Eu até seguia os conselhos que dava para as minhas amigas!

Não me interprete mal, o foco aqui não é “se gostar para o macho te achar incrível”, mas sim qual a razão mágica e insistente de ainda não gostarmos de nós mesmas (entrarmos em relacionamentos abusivos, dependentes e completamente desestruturados emocionalmente é só um dos reflexos)?

Sabe o que é? A gente se conformou a declarar que temos uma boa autoestima no momento em que olhamos nosso reflexo no espelho e gostamos dele. Mas e quanto ao reflexo da nossa alma? Em algum momento a gente aprendeu a se importar com o que os olhos não podem ver? Sinceramente, acho que não.

Autoestima vai muito além de como gostamos da nossa nova foto de perfil, tem a ver com a percepção de valor que temos (de nós mesmos) como ser humano. Se você pudesse dar uma nota para a pessoa que é, qual seria?

Emma Stone
Emma Stone

Ultimamente venho vendo as mulheres do meu Facebook comentarem em postagens de outras mulheres a maravilhosa expressão “QUE MULHERÃO DA P*RRA” e acho incrível a maneira como estamos nos empoderando. Mas o que faz você coroar sua amiga com esse adjetivo tão maravilhosamente deslumbrante? Aposto que não tem só a ver em como ela estar gata na selfie.

O que é ser um mulherão foda?

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