USP investiga ressurgimento de vírus letal após 20 anos

Virose rara causa febre hemorrágica e foi diagnosticada apenas quatro vezes no país

Pesquisadores a Universidade de São Paulo (USP) informaram que aprofundaram uma investigação sobre o Brazillian mammarenavirus, vírus sabiá (SABV), causador da da febre hemorrágica brasileira, após a virose voltar a ser registrada no Brasil depois de mais de 20 anos sem registro de casos.

Os dois diagnósticos mais recentes foram registrados em 2019, em meio a um surto de febre amarela na região Sudeste do País.

USP investiga vírus letal que ressurgiu no Brasil
Créditos: Wikimedia Commons
USP investiga vírus letal que ressurgiu no Brasil

Vírus sabiá

O nome do vírus é uma referência ao bairro Sabiá, localizado no município de Cotia, na Grande São Paulo, onde suspeita-se que a primeira vítima tenha sido infectada.

Ainda falta conhecer muito sobre o vírus. Não se sabe, por exemplo, qual o seu reservatório na natureza, a forma de transmissão, nem se é possível haver transmissão de pessoa para pessoas.

De acordo com dados preliminares do estudo, uma das hipóteses de transmissão é a “inalação de partículas virais, talvez de fezes de roedores”.

Patologia da infecção grave pelo SABV. Imagens mostram fígado danificado e detalhes do vírus
Créditos: Assessoria de Comunicação da FMUSP
Patologia da infecção grave pelo SABV. Imagens mostram fígado danificado e detalhes do vírus

“Inferimos, baseados nos outros Mammarenavirus da América do Sul, que provavelmente a pessoa se contamina por inalação de partículas virais, talvez de fezes de roedores. Mas isso não está comprovado justamente porque temos pouquíssimos casos descritos”, disse a médica Ana Catharina Nastri, da Faculdade de Medicina da USP.

Antes do início do estudo, apenas quatro infecções por SABV haviam sido registradas no Brasil.

Dois casos foram de trabalhadores rurais que acabaram morrendo em decorrência de complicações da febre hemorrágica e outros dois foram de trabalhadores de laboratório que, provavelmente, foram infectados enquanto manipulavam o vírus. Ambos sobreviveram.

Os casos dos trabalhadores rurais, chamados no estudo conduzido no Hospital das Clínicas de “Caso A e Caso B”, ocorreram nas cidades de Sorocaba e Assis (no interior de São Paulo). Os pacientes foram admitidos no Hospital das Clínicas (HC) com suspeita de caso grave de febre amarela.

O primeiro caso, um homem de 52 anos, apresentou sintomas como dor muscular, dor abdominal e tontura. No dia seguinte, ele desenvolveu conjuntivite, sendo medicado em um hospital local e depois liberado.

Quatro dias depois, foi internado novamente com febre alta e sonolência. Com suspeita de febre amarela, ele foi transferido para o Hospital das Clínicas. Durante a internação, seu quadro clínico foi agravado e ele acabou morrendo.

O segundo caso foi de um homem de 63 anos, que apresentou febre, dor no corpo generalizada, náusea e prostração. Os sintomas pioraram e oito dias depois ele foi admitido no HC com depressão do nível de consciência e insuficiência respiratória com necessidade de intubação. Ele morreu 11 dias após o início dos sintomas.