Vírus Zika: por que se preocupar?
Recentemente, todos nós fomos bombardeados com inúmeras informações sobre um “novo” vírus em circulação no Brasil, gerando muita preocupação na população, principalmente nas gestantes e mulheres que pretendem engravidar em breve. Mas quem é o vírus Zika? O que há de novo em relação a ele? Há realmente motivos para alarde?
Bem, esse vírus não é exatamente novo. Sua descoberta se deu ainda na década de 1940, quando cientistas depararam-se com um vírus semelhante aos da dengue e da febre amarela, a que deram o nome da floresta Zika, local onde viviam os macacos infectados, em Uganda.
Os primeiros casos em seres humanos foram descritos em 1954. Durante os 50 anos que se seguiram, casos esporádicos foram registrados, caracterizados principalmente por febre, manchas vermelhas e coceira pelo corpo, dor nas articulações e, às vezes, vermelhidão e irritação dos olhos, que se resolviam rápida e espontaneamente, sem deixar nenhum tipo de sequela. Por essa razão, pouco se avançou nas pesquisas sobre o vírus em meio século.
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A partir de 2007, o comportamento da doença mudou, quando ocorreu o primeiro surto numa ilha da Micronésia, seguido de outros de maiores proporções, até chegar ao Brasil, onde os primeiros casos foram descritos em abril de 2015, embora quadros sugestivos já viessem ocorrendo antes disso. Sucedeu-se uma epidemia de grandes proporções no nordeste do país, e a seguir registraram-se casos em todos os estados brasileiros. O grande aumento de incidência permitiu que se percebessem complicações que anteriormente não haviam sido documentadas: a Síndrome de Guillain-Barré (SGB) e a microcefalia.
O que é Síndrome de Guillain-Barré (SGB) e microcefalia?
A SGB é uma doença neurológica que cursa com inflamação dos nervos periféricos e paralisia dos músculos, progressiva de baixo para cima no corpo, e que pode causar a morte quando atinge a musculatura respiratória. Já é conhecida há muito tempo e pode ser desencadeada por uma série de fatores, inclusive infecções. Assim, não é novidade que possa seguir uma infecção viral; contudo, há evidências de que ocorre com maior frequência quando se trata de vírus Zika, em comparação com outros agentes. Alguns estudos bem feitos recentemente publicados apontam para essa associação, embora o mecanismo que a explique ainda não tenha sido esclarecido.
Por sua vez, a microcefalia é uma malformação fetal caracterizada por tamanho reduzido do crânio, acompanhado por alterações do desenvolvimento das estruturas cerebrais. Tem causas variadas, desde mutações genéticas até infecções transmitidas da mãe para o bebê durante a gestação. Considerada rara, a alteração chamou a atenção durante a epidemia de vírus Zika no Brasil, porque passou a ocorrer com frequência muito maior do que aquela conhecida anteriormente. Diversas hipóteses foram levantadas para explicar este aumento da incidência, algumas plausíveis – como o aumento das notificações depois que se tornaram obrigatórias – outras, nem tanto. A comunidade científica rapidamente se organizou para estudar o vírus e a doença, de modo que já é possível dizer que a relação causa-efeito está comprovada. Os bebês acometidos podem apresentar, ainda, outras malformações físicas como graves lesões dos olhos com problemas visuais e diferentes graus de atraso do desenvolvimento físico e mental.
Como podemos nos prevenir contra a infecção pelo vírus Zika?
Diante das graves consequências que a infecção por vírus Zika pode trazer, podemos dizer que sua presença no Brasil é mesmo motivo de preocupação e deve motivar toda a população a se mobilizar para sua prevenção. Sabemos que a principal via de transmissão é a picada de mosquitos do gênero Aedes, nossos velhos conhecidos porque também transmitem dengue. Evidentemente, o combate a sua proliferação é essencial para o controle da epidemia, e é altamente dependente de ações individuais e comunitárias, tanto quanto dos programas governamentais. Em poucas palavras, cada um precisa ser responsável por seu próprio quintal.
Como a erradicação do mosquito, que é muito bem a adaptado a se reproduzir e sobreviver nas cidades, não é uma tarefa fácil ou que possa ser concluída em curto prazo, são muito importantes as medidas de proteção individual, sobretudo para as gestantes.
Devo usar os repelentes de mosquitos durante a gestação?
Para as gestantes, o uso de repelentes de insetos deve ser feito de forma constante e seguindo à risca as recomendações de reaplicação do fabricante. Todos os princípios ativos dos repelentes disponíveis no Brasil são seguros para grávidas, mas a eficiência do produto depende de sua concentração: em geral, protegem melhor e por mais tempo aqueles que tem concentrações de, pelo menos, 20% do princípio ativo.
É seguro engravidar?
Casais que pretendem engravidar devem procurar orientação médica antes de interromper o uso de contraceptivos, para se orientar sobre riscos e, especialmente, para verificar se um dos dois teve infecção recente – já que frequentemente cursa sem sintomas – e se será preciso esperar algum tempo para garantir a segurança da gestação.
A epidemia de vírus Zika, assim como todas as dificuldades que venham a assolar uma população, só pode ser resolvida com conscientização e muito esforço conjunto. Cabe a cada um de nós procurar se manter informado a partir de fontes confiáveis, não disseminar informações não comprovadas e fazer a sua parte para transformar preocupação em solução.
Autora: Carolina Lázari – voluntária Horas da Vida
Médica assessora em infectologia do Grupo Fleury
Médica infectologista do HCFMUSP