Você acorda para comer de madrugada? Pode ser um sinal de um transtorno alimentar

A síndrome não se trata de falta de força de vontade, mas sim de uma condição real que pode — e deve — ser tratada com acolhimento e cuidado especializado

Por Caroline Vale em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
06/06/2025 15:05 / Atualizado em 24/06/2025 22:26

Acordar de madrugada e ir direto para a geladeira pode parecer apenas um costume ou um deslize alimentar.

Mas, quando isso se torna frequente, interfere no sono e está ligado à compulsão, pode indicar a síndrome do comer noturno, um transtorno alimentar ainda pouco conhecido, mas que afeta a qualidade de vida de muitas pessoas.

A síndrome do comer noturno faz as pessoas comerem de forma compulsiva e incontrolável grandes quantidades de alimentos à noite.
A síndrome do comer noturno faz as pessoas comerem de forma compulsiva e incontrolável grandes quantidades de alimentos à noite. - AndreyPopov/istock

Esse quadro é marcado por episódios recorrentes de alimentação durante a noite, muitas vezes acompanhados de urgência para comer, mesmo sem fome real.

O comportamento vem acompanhado de distúrbios no sono, cansaço ao longo do dia, mau humor matinal e, frequentemente, culpa após comer.

O que é a síndrome do comer noturno?

A síndrome é caracterizada pelo consumo excessivo de alimentos no período da noite, geralmente após o jantar ou durante despertares noturnos.

A pessoa sente que precisa comer para conseguir dormir ou voltar a dormir — mesmo sem sentir fome. Há ainda um atraso no padrão alimentar, associado a alterações hormonais e no ritmo biológico (ciclo circadiano).

Entre os principais fatores envolvidos estão:

  • Diminuição de hormônios como melatonina e leptina, que regulam o sono e o apetite;
  • Alterações no metabolismo e nos ciclos do corpo;
  • Alta exposição ao estresse e ansiedade;
  • Histórico de depressão e traumas emocionais.

Quais são os sinais que merecem atenção?

Os sintomas mais comuns da síndrome do comer noturno incluem:

  • Aumento da ingestão alimentar no período noturno, principalmente de alimentos calóricos;
  • Episódios de comer durante a noite, com lembrança parcial ou total do que foi consumido;
  • Sensação de que só é possível dormir após comer;
  • Insônia frequente ou dificuldade para manter o sono;
  • Ausência de fome pela manhã, com jejum prolongado no início do dia;
  • Alterações de humor pela manhã, como irritação ou tristeza;
  • Manutenção desses comportamentos por pelo menos três meses.

É importante destacar que, para ser considerada síndrome, a pessoa deve estar consciente do que comeu — o que diferencia o transtorno de episódios de sonambulismo.

Quem tem mais chance de desenvolver o transtorno?

Apesar de poder afetar qualquer pessoa, a síndrome é mais comum entre jovens adultos e mulheres.

Existe uma associação frequente com casos de obesidade e transtornos psiquiátricos, como a depressão.

Fatores genéticos e ambientais podem influenciar o desenvolvimento da síndrome, especialmente quando há histórico familiar de distúrbios alimentares ou de humor.

Como é feito o tratamento?

O cuidado com a síndrome do comer noturno envolve uma abordagem multidisciplinar, que pode incluir psicoterapia, acompanhamento nutricional, tratamento médico e mudanças no estilo de vida.

A terapia cognitivo-comportamental costuma ser bastante utilizada para quebrar padrões negativos e desenvolver estratégias de enfrentamento. A prática de atividades físicas, o controle do estresse e a criação de uma rotina de sono mais saudável também são recomendados.

Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicamentos, como antidepressivos ou suplementação com melatonina, sempre com orientação profissional.

Se você percebe que acordar à noite para comer se tornou frequente e está impactando sua vida, procure ajuda profissional. Reconhecer os sinais precocemente é fundamental para evitar complicações e melhorar a qualidade de vida.