‘Você não está só’: Como reconhecer, tratar e prevenir a Síndrome de Burnout

A doença ocupacional cresce no Brasil e pode afetar profundamente a saúde mental e física

Por Wallace Leray em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
14/04/2025 17:02 / Atualizado em 23/04/2025 16:45

Fadiga constante, perda de memória, irritabilidade e desânimo com o trabalho. Esses são alguns dos sinais de que o corpo e a mente podem estar dando um alerta mais sério do que um simples cansaço. Para Helloá Regina, empresária e fundadora da CIA Vencendo o Burnout, é preciso entender que a síndrome é uma reação ao estresse crônico, diretamente ligado à vida profissional.

“Os sintomas podem ser físicos, mentais e emocionais, como fadiga extrema, dificuldade de concentração, falhas na memória, alterações no sono, desconfortos gastrointestinais, ansiedade, perda de prazer em relação ao trabalho, irritabilidade, entre outros”, responde a administradora, em entrevista exclusiva à Catraca Livre.

‘Você não está só’: Como reconhecer, tratar e prevenir a Síndrome de Burnout (Foto usada apenas para fins ilustrativos. Posada por profissional)
‘Você não está só’: Como reconhecer, tratar e prevenir a Síndrome de Burnout (Foto usada apenas para fins ilustrativos. Posada por profissional) - iStock/PeopleImages

Não é só cansaço

Diferente de um estresse pontual, o burnout não passa com uma boa noite de sono ou alguns dias de folga. Segundo Helloá, a diferença está justamente na persistência dos sintomas, mesmo fora do ambiente profissional.

“A principal diferença para o cansaço rotineiro e o estresse pontual é que estes passam quando o indivíduo descansa ou tira férias. No burnout, esses sintomas persistem mesmo quando o profissional não está trabalhando.”

E os impactos não se restringem à esfera do trabalho. A síndrome, quando instalada, pode afetar relacionamentos, vínculos familiares e até projetos pessoais.

“Os sintomas podem se manifestar em diversas áreas, prejudicando relacionamentos, amizades, relações com a família e até outros projetos não relacionados ao trabalho.”

Quem está mais vulnerável?

Não existe uma regra, mas algumas profissões estão mais expostas ao risco. Helloá destaca trabalhadores que enfrentam ambientes de alta pressão, como professores, bancários, profissionais da saúde e da segurança. Mas o ambiente não é o único fator.

“O estresse do trabalho, somado a características pessoais como perfeccionismo, alta cobrança por resultados, dificuldade de colocar limites, entre outras, contribuem muito para que uma pessoa desenvolva burnout.”

Consequências sérias e duradouras

Se ignorado, o burnout pode evoluir e comprometer profundamente a saúde física e mental.

“Se não tratado, os sintomas de burnout tendem a se agravar, podendo desencadear o surgimento de doenças físicas e mentais, como depressão e ansiedade generalizada, reduzindo a qualidade de vida e podendo até incapacitar totalmente o profissional para continuar trabalhando.”

A síndrome também pode ser a porta de entrada para transtornos mais severos.

“Além de terem sintomas muito parecidos, o burnout pode ‘abrir a porta’ para que a ansiedade generalizada e a depressão atinjam esse profissional.”

Exaustão constante e perda de prazer no trabalho podem ser sinais de burnout. (Foto usada apenas para fins ilustrativos. Posada por profissional)
Exaustão constante e perda de prazer no trabalho podem ser sinais de burnout. (Foto usada apenas para fins ilustrativos. Posada por profissional) - iStock/PeopleImages

Recuperar é possível, mas exige mudança

A boa notícia é que há recuperação, desde que o tratamento seja levado a sério e envolva uma abordagem ampla, que vai além do uso de medicamentos.

“O tratamento pode exigir afastamento do trabalho e medicação, conforme orientação de um profissional habilitado. Mas não para por aí. É fundamental que haja mudanças no estilo de vida, melhorando o cuidado com o corpo e buscando equilibrar melhor vida pessoal e profissional. A terapia tem um papel essencial nisso.”

Helloá também reforça que é comum que a pessoa em burnout perca a noção de quem é fora do contexto profissional. Por isso, recomenda uma reestruturação completa da rotina.

“Recomendo que se faça uma organização da agenda que respeite os momentos de lazer e descanso tanto quanto se respeita os compromissos profissionais.”

Apoio é essencial

Durante o processo de recuperação, o acolhimento da rede de apoio pode fazer toda a diferença. Mas é preciso respeitar o tempo da pessoa em sofrimento.

“O que recomendo para amigos, colegas e familiares: tenha empatia; escute sem julgar; incentive a pessoa a fazer terapia; não tenha pressa para que a pessoa volte a ser quem era antes. Muito provavelmente ela não voltará a ser quem era, mas pode se tornar uma pessoa muito mais feliz e satisfeita com a própria vida.”

E se ainda não chegou lá?

Helloá alerta que, se você sente que está no limite, é hora de agir antes que o colapso se instale.

“Para quem está no limite, mas ainda não chegou ao burnout, alerta vermelho. A hora de cuidar é agora! Após o colapso, o tratamento fica muito mais complexo.”

Entre os primeiros passos que ela recomenda estão iniciar a terapia, priorizar o sono, cuidar da alimentação, inserir atividades físicas prazerosas e reservar tempo para o lazer. “A qualquer momento que você desejar, busque ajuda! Você não está só!”.

Autocuidado, pausas e apoio emocional são fundamentais na prevenção do esgotamento. (Foto usada apenas para fins ilustrativos. Posada por profissional)
Autocuidado, pausas e apoio emocional são fundamentais na prevenção do esgotamento. (Foto usada apenas para fins ilustrativos. Posada por profissional) - iStock/Santiaga

Burnout no Brasil

O cenário é preocupante: no Brasil, cerca de 30% dos trabalhadores sofrem de síndrome de burnout, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt).

O país ocupa a segunda posição no ranking mundial de casos da doença, ficando atrás apenas do Japão. Em 2023, o número de afastamentos relacionados ao burnout cresceu 136% em comparação a 2019, revelando um agravamento expressivo do problema.

Reconhecida oficialmente como uma doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a síndrome exige atenção urgente de empresas, profissionais e da sociedade como um todo.

Causas e sintomas mais comuns

A Síndrome de Burnout pode se desenvolver de forma silenciosa, a partir de uma série de fatores acumulados no cotidiano profissional. Entre os principais causadores, estão:

  • Excesso de demandas e responsabilidades no trabalho
  • Jornada prolongada e falta de pausas regulares
  • Ambiente organizacional hostil ou competitivo demais
  • Falta de reconhecimento e apoio da liderança
  • Dificuldade de equilibrar vida pessoal e profissional
  • Alta exigência emocional, comum em profissões como saúde e educação

Os sintomas podem surgir aos poucos e se intensificar com o tempo. Fique atento aos sinais mais frequentes:

  • Cansaço físico e mental extremo
  • Sensação de fracasso e impotência
  • Irritabilidade e alterações de humor
  • Insônia ou sono não reparador
  • Dores musculares, de cabeça e problemas gástricos
  • Queda de produtividade e desmotivação