HQ ‘Volume Morto’ retrata as histórias e crises de uma São Paulo sem água

Produzido de forma independente, o quadrinho recém-lançado contém 11 histórias feitas por nove autores, além de colagens, ilustrações e serigrafia

São Paulo sem água. No fundo de uma Cantareira seca, começam a surgir ossadas e restos de cadáveres. Quem foram aquelas pessoas? Talvez a solução de quase todos os desaparecimentos da cidade das últimas décadas esteja ali. Mas o que acontece agora?

Vira a página.

São Paulo num futuro não muito distante. A água é um bem raro e seu uso é controlado. Por ser viciante, é traficada e vendida ilegalmente em mercados paralelos. A polícia tenta controlar com violência, mas cada vez mais pessoas procuram pelo produto.

São histórias como essa que compõem a revista “Volume Morto”, uma história em quadrinhos publicada de forma independente que tem como tema a crise da água em São Paulo. A HQ conta com 11 histórias de nove autores diferentes, além de ilustrações, colagens e serigrafia.

“O objetivo era pegar esse tema tão atual e deixá-lo em aberto para várias interpretações”, conta Shun Izumi, um dos idealizadores e autores da HQ. “Por isso tivemos resultados tão variados, mas que conseguimos organizar sob o mesmo formato.”

Por enquanto, foram impressos apenas 100 exemplares da história, que serão vendidos durante seu lançamento oficial, nessa sexta, dia 26 (veja mais no box no fim do texto). “Mas se houver demanda, podemos fazer os cálculos para imprimir mais”, conta Evandro Malgueiro, outro dos autores e idealizadores do projeto.

Espaço aberto

A ideia da HQ surgiu durante a oficina “Trovão de Quadrinhos”, que trabalhou durante três meses o processo de criação e publicação independente. Os encontros foram ministrados por Izumi e seus parceiros do Estudio 1+2, os ilustradores Benson Chin e Breno Ferreira, e aconteceram na Casa Locomotiva, um espaço de artes e cultura visual que o trio mantém com Malgueiro, que é fotógrafo.

É nessa casa, um sobrado colorido na zona oeste, que o quarteto pretende transformar mais ideias surgidas em oficinas e cursos do tipo em produções práticas, como o “Volume Morto”. Inaugurada há dois meses, a Casa Locomotiva é uma mistura de galeria, ateliê e espaço de convivência.

Os parceiros, que se conheceram enquanto estudavam na Escola de Comunicações e Artes da Usp, contam que a casa é uma união de dois propósitos: um espaço para que eles desenvolvam seus trabalhos pessoais (eles ganham a vida produzindo peças para o mercado editorial e publicitário) e um local aberto para que qualquer outra pessoa também possa fazer o mesmo. “É um espaço para proporcionar não só a teoria, mas também a prática”, explica Chin.

Por enquanto, o grupo já organizou algumas oficinas e pretende inaugurar cursos regulares de moda, desenho, pintura, serigrafia, entre outras técnicas. “O foco é deixar o pessoal descobrir o que temos a oferecer e também ver o que eles têm a nos oferecer”, diz Shun Izumi.

A intenção da casa é abrir suas portas para pessoas que tenham algo a ensinar, mas não sabem em que espaço fazê-lo. “Queremos ser mais livres do que os ambientes normais que oferecem cursos e oficinas, por isso queremos a casa movimentada, cheia de ideias”, conclui Malgueiro.