Casal viaja pela Europa cuidando de cachorros abandonados

O Projeto Por Uma Vida Mais Rica, idealizado pela viajante Amanda Barbosa, foi concebido para inspirar e ajudar cada vez mais pessoas a realizarem viagens com propósito, e que vão muito além de conhecer apenas novos lugares.

Viajar com propósito nada mais é do que a busca por experiências que geram qualquer tipo de impacto positivo ao planeta e as pessoas. E foi através do work exchange que Amanda têm conseguido espalhar essa mensagem ao mundo.

Bulgária

Para quem não sabe, work exchange é apenas um termo que se resume a troca de trabalho voluntário por hospedagem. Viajar dessa maneira, lhe permite vivenciar a cultura local mais profundamente, através do convívio diário com seus moradores e, ao mesmo tempo, apoiar uma causa ou projeto fornecendo sua própria ajuda.

E foi depois de acessar um artigo do Projeto Por Uma Vida Mais Rica, publicado no Catraca Livre, que o casal Guilherme e Victória conheceram o work exchange e atualmente estão viajando a Europa cuidando de cachorros abandonados em troca de hospedagem. Se você ficou curioso para saber mais sobre essa viagem, leia o relato do casal no texto abaixo:

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Relato por Guilherme Araki

Como tudo começou

Nós conhecemos o work exchange através de um post do portal Catraca Livre, onde explicava que é possível trabalhar fazendo diversos tipos de serviço para uma pessoa ou família, e em troca receber moradia. Alguns hosts oferecem comida também, podendo ser apenas uma ou todas as refeições por dia (café da manhã, almoço e jantar). Achamos o texto interessante, mas a princípio não seguimos em frente com a idéia.

Eu (Guilherme) estava super desanimado com a vida, trabalhando em telemarketing sem nenhuma perspectiva. Victória (minha namorada), tinha sido demitida de uma empresa que acabara de fechar e usava o dinheiro da rescisão para viver sozinha em Florianópolis.

Foi então que assistimos a um vídeo da Amanda, contando sobre todas as experiências que ela já tinha passado fazendo work exchange, de como é seguro, de como foi importante para ela trilhar um rumo na vida dela, e isso caiu como uma luva tanto para mim quanto para Vic. Após assistir o vídeo, começamos a planejar nossa viagem e entrar em contato com as pessoas.

Iniciando a viagem

Durante nossas pesquisas, vimos também que é possível ficar até um ano viajando pela Europa de forma legal, onde você fica três meses nos países que fazem parte do acordo Schengen e mais três meses nos países fora do acordo, que aceitam turistas sem visto. Escolhemos começar pelos países fora do acordo, pois estes não utilizam euro e a moeda é muito mais barata.

Para encontrar oportunidades, nós escolhemos utilizar a plataforma Workaway. O visual do site é super simples e fácil de navegar, e o legal dele é que você pode ter acesso a algumas informações com a conta gratuita, como pesquisar os hosts no mundo inteiro, verificar o que eles têm para oferecer, o trabalho que necessitam no momento, fotos dos lugares, feedbacks, etc.

Depois, caso tenha interesse em algum (ou alguns) anfitrião, você paga a taxa para poder entrar em contato com os hosts cadstrados no site:  32 EUR para conta singular ou 42 EUR para conta casal/dupla (informação de 21/04/2018).

Obs: a taxa é anual, então é necessário fazer o pagamento uma vez por ano.

Começamos enviando as mensagens em setembro, e nossos planos eram viajar no final de janeiro Acho que recebemos umas 10 mensagens de hosts pedindo desculpas, porque no momento eles não tinham disponibilidade. Devo admitir que eu estava ficando desencanado, quando um dia Vic recebeu a resposta de uma pessoa dizendo que tinha disponibilidade, mas que o país era muito frio e que poderia não ser uma boa idéia, pois nós estávamos vindo de um país com clima quente.

Combinamos tudo e a viagem ficou preparada para o dia 28 de Janeiro!

Saindo do Brasil

Nossa viagem começou na Bulgária, em Sirakovo (nome da vila que ficamos), localizada há duas horas de Sofia, capital do país. Foram longos três dias de avião, ônibus, taxi e muita espera. Saímos dia 28 de janeiro do Brasil, fizemos conexões entre Lisboa e Madrid, e depois de um dia, chegamos em Sofia, capital da Búlgaria.

Fomos parar no aeroporto mais vazio e minúsculo do mundo. Tínha um café aberto e duas saídas. Só isso. Era madrugada e a gente queria pegar o ônibus para Sirakovo, mas estava tudo em búlgaro (para quem não conhece, o alfabeto deles é parecido com o russo) e ninguém sabia falar inglês.

Árvores

Um taxista (que falava inglês básico) nos abordou e perguntou onde pretendíamos ir. Explicamos que queríamos pegar um ônibus para Sirakovo e ele disse que teriamos que pegá-lo na bus station de Sofia, e que podia nos levar por um preço bacana. Ficamos meio desconfiados achando que ele só queria nosso dinheiro, mas não havia outra opção.

Chegamos à estação por volta das 23:00h e tivemos que esperar até 7:30h para pegar o primeiro ônibus. Tentamos dormir para passar as horas, mas a temperatura batia 1°C. Chegada a hora, entramos no ônibus, que na verdade era uma mini-van e o motorista não sabia falar inglês. Usamos a linguagem universal, com “yeah” “aham” “Sirakovo” “we need” e vários gestos com as mãos, e no final, ele acabou entendendo.

A experiência na Bulgária

Em Sirakovo, trabalhamos em um abrigo com mais de 90 cachorros abandonados, onde ficamos por um mês. Helen, nossa host, é uma inglesa que se mudou para Bulgária para resgatar cachorros da rua, cuidar deles e deixar para adoção.

Começávamos trabalhando das 7h15 até 10h. Dávamos comida, levávamos os cachorros para passear e limpávamos os canis. Às 12h, era hora de dar mais comida para os 14 filhotes do canil. Às 15h30 voltávamos a fazer o mesmo trabalho e terminávamos às 18h.

Bulgária

Era um pouco cansativo porque trabalhávamos todos os dias, começando muito cedo, e pegamos uma época onde a temperatura fazia -12°C. Sim, isso mesmo… Menos doze graus! Neve, vento, nariz escorrendo, asfalto escorregadio e… já falei neve? Mas tudo isso compensava quando os cachorros retribuíam o amor com uma lambida ou pulando no seu colo com as patas cheias de barro.

Lá, tínhamos uma casa só para gente com quarto, banheiro e cozinha – na verdade, dividíamos a casa com seis filhotes e mais quatro cachorros que dormiam na sala, que por sinal, eram bons vizinhos (só quando queriam). –  A Helen fornecia todas as refeições para gente. Ela deixava um carro também para podermos ir ao supermercado quando ela não pudesse fazer as compras (ou para gente comprar chocolate).

Bulgária

A Experiência na Turquia

A segunda experiência foi em Karaoz, na Turquia onde estamos atualmente. Viemos para um rancho com quase 40 cachorros e mais de 70 gatos. Aqui, podemos começar o trabalho a hora que for mais confortável para nós. Estabelecemos um horário padrão com os outros voluntários (entre 10:00h até 10:30h), onde iniciamos levando alguns cachorros para passear no enorme quintal atrás da casa, passamos aspirador, limpamos a casa e damos comida para os cachorros/gatos. Após isso, temos o resto do dia para fazer o que quisermos.

Estamos alojados em um quarto só nosso com banheiro, que fica separado da casa principal, e temos as três refeições incluídas mais tudo que desejamos. Acho que engordamos uns cinco quilos cada um.

Turquia

Podemos tirar o dia de descanso quando quisermos, é só combinar entre os voluntários para que fique tudo organizado. Nós não temos carro aqui, então começamos a pegar carona nos nossos dias de folga. Isso é algo que o work exchange nos agregou, pois nós nunca faríamos isso no Brasil, nem de dia nem de noite. E além de dar carona, o pessoal às vezes te oferece até água e salgadinho, sem maldade nenhuma!

Estamos há praticamente dois meses aqui na Turquia e no final de abril, vamos para Áustria iniciar nossa terceira experiência.

Imigração

Nós não tivemos problema em nenhuma imigração que passamos. O máximo que perguntaram foi em qual cidade do país estávamos indo. A não ser os policiais olhando para a Vic toda vez que ela apresentava o passaporte, porque na foto ela está com o cabelo rosa e agora ela está loira. Era super engraçado, alguns policiais com o rosto sério, cara de bravo, olhavam para o documento, depois para ela e soltavam um sorrisinho.

O “plus” de se viajar dessa maneira

O work exchange nos agregou diversas coisas. Conhecemos culturas diferentes, aprendemos com outros olhos sobre cachorros e gatos, experimentamos como é viajar sem um roteiro planejado. É algo que recomendamos para todo mundo que deseja conhecer novas pessoas, idéias e culturas.

Acredito que teria sido um pouco diferente se tivéssemos viajado de forma convencional. Para começar, acho que estaríamos de volta ao Brasil há um bom tempo. Sem contar que não teríamos essa imersão cultural, nem poderíamos ter essa experiência com os animais, que é o que mais está nos fascinando.

Viagens com propósito

 Dicas e curiosidades

-Na Turquia, é normal comer qualquer tipo de alimento com iogurte (macarrão, pão, arroz). QUALQUER COISA.

-Na Bulgária, quase ninguém fala inglês e eles não gostam que você fale uma língua que não seja o búlgaro com eles. Eles te tratam mal ou não te respondem. Na Turquia é diferente, o pessoal fica até feliz em conhecer estrangeiros e às vezes até arriscam um inglês.

-Em qualquer tipo de viagem, esteja preparado para imprevistos. Logo no começo dela, antes mesmo de chegarmos à Bulgária, nós perdemos nossa câmera no avião indo para Madrid. O importante de fazer uma viagem é sempre estar com o pensamento positivo, não se desesperar, manter a calma e o foco.

-Nós sempre procuramos as passagens mais baratas no Google Flights. Ele mostra o menor preço da passagem de cada dia. Mas aconselhamos você a entrar no próprio site da companhia aérea para verificar se o valor bate com o que o Google Flights está mostrando. Existem outros sites também, como Skyscanner, Expedia, mas o Google Flights continua sendo nosso melhor amigo.

Para conhecer mais sobre o work exchange e viagens com propósito, assista ao vídeo abaixo e siga o Projeto nas redes sociais: Instagram (@porumavidamaisrica)/Facebook/blog

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Nós

Nós somos Guilherme e Victória, 23 e 20, respectivamente, e estamos viajando tentando fazer cada dia de nossas vidas valerem a pena. Espero que esse texto possa ajudar e/ou encorajar outras pessoas que estão na mesma situação que estávamos. Instagram/Facebook Guilherme/Facebook Victoria

Este conteúdo - assim como as respectivas imagens, vídeos e áudios - é de responsabilidade do usuário amanda_barbosa

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