Cinco lugares para conhecer nos arredores de Brasília de carro
Além dos pontos turísticos da capital, região do cerrado é repleta de atrativos naturais e históricos
Com uma população de mais de três milhões de habitantes, o Distrito Federal é um caldeirão de costumes, sotaques e culturas resultante do processo de sua construção, no final dos anos 1950.
De fato, Brasília é mundialmente conhecida por abrigar monumentos desenhados pelo arquiteto Oscar Niemeyer e ter sido planejada como “a cidade em forma de avião”.
O projeto, assinado pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa, é reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade e tem como marca a valorização da alvorada no Planalto Central: as construções valorizam a visão do céu da cidade, sendo possível enxergar o horizonte em praticamente todos os pontos do Plano Piloto.
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A alvorada traduz o sentimento de “novo tempo” vivido à época do mandato de Juscelino Kubitschek como presidente do Brasil. A cidade ganhou de André Marlaux o título de “Capital da Esperança” e se tornou símbolo do processo de modernização pelo qual o país passava enquanto ocorria sua construção e fundação.
Em novembro do ano passado, o Senado aprovou um projeto de lei inscrevendo o nome de Kubitschek no Livro dos Heróis e das Heroínas da Pátria, guardado no Panteão da Pátria, na capital. JK foi o responsável pela transferência da capital do Rio de Janeiro para Brasília, cidade construída por ele e inaugurada em 21 de abril de 1960. Naquele ano, ele conseguiu realizar o antigo plano de transferir a capital federal para o planalto central do país.
Brasília é considerada hoje uma das mais relevantes obras da arquitetura e do urbanismo contemporâneos do mundo.
No entanto, há muito mais coisas para fazer em Brasília do que apreciar apenas a arquitetura modernista ou entrar em contato com a história recente brasileira: usando um serviço de aluguel de carros no DF ou até mesmo de táxi, é possível acessar tanto construções e destinos turísticos alternativos como pontos naturais para se aliviar do calor — clima que toma conta da cidade na maior parte do ano.
A seguir, a Catraca Livre indica alguns deles.
Poço Azul
O escritor Milton Hatoum, autor de “Dois irmãos”, “Cinzas do Norte” e “A Noite da Espera”, o último com história ambientada em Brasília no final dos anos 1960, foi de Manaus para a capital federal quanto tinha 15 anos para estudar o “colegial” no extinto Centro Integrado de Ensino Médio (Ciem), colégio de aplicação então vinculado à Universidade de Brasília (UnB). Gostava de frequentar as margens do Lago Paranoá e de caminhar pelas largas ruas, mas também frequentava lugares então “secretos, como o Poço Azul.
O Poço Azul é, na verdade, a junção de duas cascatas, uma com uma piscina natural rasa e outra mais mais profunda — ambas ideais para banhistas — em Chapada da Contagem, na região de Brazlândia (59 km da capital federal). As cores esmeralda e azul garantem não apenas a vista, mas as fotografias para as redes sociais. Como foi devastada nos anos 1970, hoje a área nativa em que se situa a cachoeira é propriedade privada — os visitantes pagam uma taxa de R$ 8 e a entrada é controlada.
Chapada Imperial
Santuário ecológico preservado desde 1985 em uma propriedade particular, a Chapada Imperial possui trilhas e mais de 30 cachoeiras rodeadas do bioma do cerrado. Habitantes de Brasília costumam passar o fim de semana na região, hospedando-se em chalés ou em campings, mas é possível ficar apenas um sábado ou domingo e voltar para a capital no fim do dia (são 50 km de distância).
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Os turistas costumam adquirir pacotes em que, além da hospedagem, têm direito à alimentação e acesso à estrutura local, com tirolesa, redário, arvorismo e o contato com animais silvestres livres na natureza. Para os mais aventureiros, há três opções de trilhas: a mais curta tem 1 km e dura 1h40 de caminhada. A média, com 3 km, é percorrida em 3h30, e a mais longa, com 4 km, leva 4h30 — todas elas acompanhadas por guias.
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Localizada dentro do Parque Nacional de Brasília, que tem 42,4 mil hectares e abrange áreas em regiões administrativas do Distrito Federal e o município goiano de Padre Bernardo, a chapada sofreu com um grande incêndio em 2017, quando cerca de 10% da área do parque foi atingido pelo fogo. Em 2004, quando a chapada era um parque paralelo, outro incêndio queimou metade dos 4.800 hectares que possuía.
Paraíso na Terra
Propriedade do Instituto Teosófico de Brasília (ITB), o chamado Paraíso na Terra fica dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Cafuringa, uma região repleta de rios, cachoeiras, vegetação típica do cerrado, campos e matas de galeria. O local possui ainda uma fauna rica em pássaros e animais silvestres.
O ponto alto do “paraíso”, no entanto, é uma construção humana: o templo ecumênico.
Situado no ponto mais alto da propriedade, o templo ecumênico tem uma vista que remete, de fato, ao paraíso bíblico, e é por isso que é tão disputado para ensaios de noivas e gestantes –além de casamentos e festas–, e aulas de ioga. Mas há restrições severas: a administração proíbe o consumo de bebidas alcoólicas e de cigarros, além de não permitir que ninguém coma carne –as refeições são ovolactovegetarianas.
Catetinho
Para quem gosta de história, esse é um dos locais que vale a pena visitar durante uma estadia em Brasília. O local abrigou a primeira residência oficial do presidente Juscelino Kubitschek no novo Distrito Federal na época da construção da cidade.
O Catetinho (referência diminutiva ao Catete, palácio oficial do governo brasileiro no Rio de Janeiro até 1960) ficou pronto em incríveis 10 dias do mês de novembro de 1956 desde o croqui de Niemeyer, que dizia que a casa foi seu primeiro projeto para a nova capital. Pela sua estrutura predominantemente de madeira, ficou conhecida como “Palácio de Tábuas”.
O Catetinho abrigou diretores e engenheiros da Novacap e também personalidades que visitavam a cidade em construção, como o presidente de Portugal à época, Craveiro Lopes. A casa foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1959.
Hoje, o Catetinho é um museu com referências da época em que Brasília foi construída no cerrado pelos arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, como o mobiliário original da residências, fotografias e outros objetos. A suíte presidencial, o quarto de hóspedes e a cozinha preservam o estilo dos anos 1960, e há ainda a possibilidade de acessar algumas roupas do ex-presidente.
Buraco das Araras
A 120 km de Brasília, próximo da cidade goiana de Bezerra, fica o Buraco das Araras, uma cratera no meio de uma área preservada de cerrado em que, no passado, servia como morada das araras do bioma. Na verdade, o nome correto é dolina de colapso, por ser, na verdade, uma caverna cujo teto desabou há milhares de anos, resultando em um imenso buraco circular.
O Buraco das Araras é uma das maiores dolinas de colapso do Brasil, com cerca de 100 metros de altura e quase 300 de diâmetro.
Para descer até a parte de baixo, apenas por meio de rapel — uma prova de que o esporte também pode ser cientificamente útil é que os pesquisadores precisavam das cordas para chegar até o local. Quem chega lá encontra samambaias gigantes oriundas de eras anteriores, além de dois imensos salões e uma lagoa subterrânea de água azul onde os turistas costumam mergulhar.
Outra opção, mais recente, é descer por uma trilha íngreme adaptada com corrimãos feitos de cordas aprisionados a EPIs (Equipamentos de Progressão Individual).