Cinco lugares para conhecer nos arredores de Brasília de carro

Além dos pontos turísticos da capital, região do cerrado é repleta de atrativos naturais e históricos

27/06/2019 15:02

Com uma população de mais de três milhões de habitantes, o Distrito Federal é um caldeirão de costumes, sotaques e culturas resultante do processo de sua construção, no final dos anos 1950.

De fato, Brasília é mundialmente conhecida por abrigar monumentos desenhados pelo arquiteto Oscar Niemeyer e ter sido planejada como “a cidade em forma de avião”.

Vista da Esplanada dos Ministérios a partir do Congresso Nacional, em Brasília
Vista da Esplanada dos Ministérios a partir do Congresso Nacional, em Brasília - Roberto Castro | MTur

O projeto, assinado pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa, é reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade e tem como marca a valorização da alvorada no Planalto Central: as construções valorizam a visão do céu da cidade, sendo possível enxergar o horizonte em praticamente todos os pontos do Plano Piloto.

Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida, mais conhecida como Catedral de Brasília
Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida, mais conhecida como Catedral de Brasília - Roberto Castro | MTur

A alvorada traduz o sentimento de “novo tempo” vivido à época do mandato de Juscelino Kubitschek como presidente do Brasil. A cidade ganhou de André Marlaux o título de “Capital da Esperança” e se tornou símbolo do processo de modernização pelo qual o país passava enquanto ocorria sua construção e fundação.

Memorial JK é um dos cartões-postais de Brasília
Memorial JK é um dos cartões-postais de Brasília - Roberto Castro | MTur

Em novembro do ano passado, o Senado aprovou um projeto de lei inscrevendo o nome de Kubitschek no Livro dos Heróis e das Heroínas da Pátria, guardado no Panteão da Pátria, na capital. JK foi o responsável pela transferência da capital do Rio de Janeiro para Brasília, cidade construída por ele e inaugurada em 21 de abril de 1960. Naquele ano, ele conseguiu realizar o antigo plano de transferir a capital federal para o planalto central do país.

Brasília é considerada hoje uma das mais relevantes obras da arquitetura e do urbanismo contemporâneos do mundo.

Vista panorâmica do Lago Paranoá, em Brasília
Vista panorâmica do Lago Paranoá, em Brasília - Bento Viana | GDF

No entanto, há muito mais coisas para fazer em Brasília do que apreciar apenas a arquitetura modernista ou entrar em contato com a história recente brasileira: usando um serviço de aluguel de carros no DF ou até mesmo de táxi, é possível acessar tanto construções e destinos turísticos alternativos como pontos naturais para se aliviar do calor — clima que toma conta da cidade na maior parte do ano.

A seguir, a Catraca Livre indica alguns deles.

Poço Azul

O escritor Milton Hatoum, autor de “Dois irmãos”, “Cinzas do Norte” e “A Noite da Espera”, o último com história ambientada em Brasília no final dos anos 1960, foi de Manaus para a capital federal quanto tinha 15 anos para estudar o “colegial” no extinto Centro Integrado de Ensino Médio (Ciem), colégio de aplicação então vinculado à Universidade de Brasília (UnB). Gostava de frequentar as margens do Lago Paranoá e de caminhar pelas largas ruas, mas também frequentava lugares então “secretos, como o Poço Azul.

O Poço Azul é uma das atrações queridinhas dos moradores de Brasília
O Poço Azul é uma das atrações queridinhas dos moradores de Brasília - Jean Marconi |Flickr! Creative Commons

O Poço Azul é, na verdade, a junção de duas cascatas, uma com uma piscina natural rasa e outra mais mais profunda — ambas ideais para banhistas — em Chapada da Contagem, na região de Brazlândia (59 km da capital federal). As cores esmeralda e azul garantem não apenas a vista, mas as fotografias para as redes sociais. Como foi devastada nos anos 1970, hoje a área nativa em que se situa a cachoeira é propriedade privada — os visitantes pagam uma taxa de R$ 8 e a entrada é controlada.

Chapada Imperial

Um das cachoeiras da Chapada Imperial
Um das cachoeiras da Chapada Imperial - Divulgação | Chapada Imperial

Santuário ecológico preservado desde 1985 em uma propriedade particular, a Chapada Imperial possui trilhas e mais de 30 cachoeiras rodeadas do bioma do cerrado. Habitantes de Brasília costumam passar o fim de semana na região, hospedando-se em chalés ou em campings, mas é possível ficar apenas um sábado ou domingo e voltar para a capital no fim do dia (são 50 km de distância).

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Os turistas costumam adquirir pacotes em que, além da hospedagem, têm direito à alimentação e acesso à estrutura local, com tirolesa, redário, arvorismo e o contato com animais silvestres livres na natureza. Para os mais aventureiros, há três opções de trilhas: a mais curta tem 1 km e dura 1h40 de caminhada. A média, com 3 km, é percorrida em 3h30, e a mais longa, com 4 km, leva 4h30 — todas elas acompanhadas por guias.

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Localizada dentro do Parque Nacional de Brasília, que tem 42,4 mil hectares e abrange áreas em regiões administrativas do Distrito Federal e o município goiano de Padre Bernardo, a chapada sofreu com um grande incêndio em 2017, quando cerca de 10% da área do parque foi atingido pelo fogo. Em 2004, quando a chapada era um parque paralelo, outro incêndio queimou metade dos 4.800 hectares que possuía.

Paraíso na Terra

Paraíso na Terra,em Brazlândia, oferece 20 cachoeiras paradisíacas
Paraíso na Terra,em Brazlândia, oferece 20 cachoeiras paradisíacas - Divulgação

Propriedade do Instituto Teosófico de Brasília (ITB), o chamado Paraíso na Terra fica dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Cafuringa, uma região repleta de rios, cachoeiras, vegetação típica do cerrado, campos e matas de galeria. O local possui ainda uma fauna rica em pássaros e animais silvestres.

O ponto alto do “paraíso”, no entanto, é uma construção humana: o templo ecumênico.

O templo ecumênico, uma das atrações do Paraíso na Terra
O templo ecumênico, uma das atrações do Paraíso na Terra - Divulgação

Situado no ponto mais alto da propriedade, o templo ecumênico tem uma vista que remete, de fato, ao paraíso bíblico, e é por isso que é tão disputado para ensaios de noivas e gestantes –além de casamentos e festas–, e aulas de ioga. Mas há restrições severas: a administração proíbe o consumo de bebidas alcoólicas e de cigarros, além de não permitir que ninguém coma carne –as refeições são ovolactovegetarianas.

Catetinho

Para quem gosta de história, esse é um dos locais que vale a pena visitar durante uma estadia em Brasília. O local abrigou a primeira residência oficial do presidente Juscelino Kubitschek no novo Distrito Federal na época da construção da cidade.

Museu do Catetinho foi a primeira residência oficial do presidente Juscelino Kubitschek na época da construção de Brasília
Museu do Catetinho foi a primeira residência oficial do presidente Juscelino Kubitschek na época da construção de Brasília - Roberto Castro | MTur

O Catetinho (referência diminutiva ao Catete, palácio oficial do governo brasileiro no Rio de Janeiro até 1960) ficou pronto em incríveis 10 dias do mês de novembro de 1956 desde o croqui de Niemeyer, que dizia que a casa foi seu primeiro projeto para a nova capital. Pela sua estrutura predominantemente de madeira, ficou conhecida como “Palácio de Tábuas”.

Projeto de Oscar Niemeyer, o Catetinho foi construído em apenas 10 dias, em novembro de 1956
Projeto de Oscar Niemeyer, o Catetinho foi construído em apenas 10 dias, em novembro de 1956 - Divulgação | GDF

O Catetinho abrigou diretores e engenheiros da Novacap e também personalidades que visitavam a cidade em construção, como o presidente de Portugal à época, Craveiro Lopes. A casa foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1959.

Brasília – O Catetinho, primeira residência oficial do presidente Juscelino Kubitschek na capital federal é um pequeno museu aberto à visitação pública, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (José Cruz/Agência Brasil)
Brasília – O Catetinho, primeira residência oficial do presidente Juscelino Kubitschek na capital federal é um pequeno museu aberto à visitação pública, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (José Cruz/Agência Brasil) - osé Cruz/Agência Brasil

Hoje, o Catetinho é um museu com referências da época em que Brasília foi construída no cerrado pelos arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, como o mobiliário original da residências, fotografias e outros objetos. A suíte presidencial, o quarto de hóspedes e a cozinha preservam o estilo dos anos 1960, e há ainda a possibilidade de acessar algumas roupas do ex-presidente.

Buraco das Araras

o Buraco das Araras é uma cratera com cerca de 1 quilômetro de diâmetro e mais de 100 metros de profundidade
o Buraco das Araras é uma cratera com cerca de 1 quilômetro de diâmetro e mais de 100 metros de profundidade - David Calaça | SeTur de Formosa

A 120 km de Brasília, próximo da cidade goiana de Bezerra, fica o Buraco das Araras, uma cratera no meio de uma área preservada de cerrado em que, no passado, servia como morada das araras do bioma. Na verdade, o nome correto é dolina de colapso, por ser, na verdade, uma caverna cujo teto desabou há milhares de anos, resultando em um imenso buraco circular.

O Buraco das Araras é uma das maiores dolinas de colapso do Brasil, com cerca de 100 metros de altura e quase 300 de diâmetro.

Para descer até a parte de baixo, apenas por meio de rapel — uma prova de que o esporte também pode ser cientificamente útil é que os pesquisadores precisavam das cordas para chegar até o local. Quem chega lá encontra samambaias gigantes oriundas de eras anteriores, além de dois imensos salões e uma lagoa subterrânea de água azul onde os turistas costumam mergulhar.

Outra opção, mais recente, é descer por uma trilha íngreme adaptada com corrimãos feitos de cordas aprisionados a EPIs (Equipamentos de Progressão Individual).