Comuna 13, a favela em Medellín que se tornou atração turística
A Comuna 13, uma gigantesca favela que reúne bairros de baixa renda em uma encosta no oeste de Medellín, já foi considerada uma das mais perigosas do mundo. Agora, é um dos destinos mais populares da cidade para turistas estrangeiros que querem mergulhar em uma cultura única que resistiu a décadas de violência.
Há pouco mais de vinte anos, Medellín passou da reputação de capital do crime organizado e assassinato à cidade cujo modelo inovador tem sido copiado mundo afora. Boa parte desta transformação é devido ao estilo de desenvolvimento urbano inclusivo que conectou os cidadãos, diminuindo a desigualdade social e a violência na cidade.
Durante a mudança do estilo de planejamento urbano em Medellín, a Comuna 13 foi um dos lugares mais contemplados, mudando a vida da população de forma definitiva. No entanto, um pouco antes disso, em 2002, o local passou por um polêmico processo de pacificação chamado de ‘Operação Órion’, quando a área foi sitiada por forças de segurança colombianas durante a maior operação militar urbana da história do país.
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O objetivo da operação era expulsar criminosos que dominavam a comunidade. A Comuna 13 está localizada próxima à Rodovia San Juan, local muito estratégico. Quem controla a rodovia tem também o controle sobre as mercadorias ilegais que entram e saem de Medellín e de grande parte da Colômbia, por este motivo, grupos guerrilheiros, paramilitares, assim como gangues e cartéis de drogas disputavam o local enquanto a vida dos moradores era cercada pelo medo.
A Operação Órion foi realizada para dar um fim a estes grupos, mas nem tudo saiu como o planejado, pois os militares que vieram para resolver a situação não agiram exatamente como os ‘mocinhos’ da história. Apesar de bem-sucedidos em remover a maior parte dos criminosos do lugar, as forças de segurança cometeram abuso de poder e houve relatos de muitas atrocidades como extorsões, prisões injustificadas e violações dos direitos humanos, como mortes de muitas pessoas inocentes, incluindo crianças. Até hoje esta operação é lembrada com muita tristeza pelas pessoas da Colômbia.
Cansados da vitimização e do medo, os moradores decidiram reagir e foi através da ação comunitária que as transformações começaram. Grupos locais canalizaram suas frustrações através de projetos sociais, recuperando seu bairro com esforços de limpeza e arte pública que refletiam sobre a violência que tinham sofrido. Eles pediam paz.
Além da ação comunitária colaborativa, também houve vários projetos importantes iniciados pelo estado nos últimos anos. Estes ajudaram a melhorar o modo de vida dos habitantes locais e reduzir o nível de criminalidade.
Em 1996, teleféricos (metrocable) foram inaugurados como uma extensão do sistema principal de metrô. A novidade proporcionou aos moradores de todas as origens socioeconômicas, especialmente as mais humildes, facilidade de acesso ao resto da cidade. Com eles, a jornada entre as montanhas ao longo do vale, pode ser feita em apenas 37 minutos, incluindo as paradas.
Antes da conclusão dos teleféricos, para ter acesso a seus empregos, educação, saúde e até mesmo compras básicas, as pessoas tinham que fazer uma viagem lenta pela encosta da montanha que levava entre 1,5 e 2 horas usando o sistema de transporte de ônibus convencional.
Mais tarde, as famílias receberam novos telhados, casas e centros comunitários como parte das iniciativas governamentais para melhorar a Comuna 13.
Em 2012, uma série de 384 metros de escadas rolantes ao ar livre com telhado laranja foi concluída nas encostas íngremes da comuna. O que antes era uma árdua caminhada de 35 minutos, tornou-se uma rápida subida de seis minutos, melhorando drasticamente a qualidade de vida dos habitantes locais.
Movimentos culturais construídos em torno das artes do hip hop – rap, grafite, breakdance e dJing – também foram fundamentais para articular a transformação na comunidade, oferecendo alternativas aos jovens em situação de vulnerabilidade social. Hoje a Comuna 13 é uma referência mundial em arte de rua e os belíssimos grafites do local são visitados por milhares de pessoas de todo mundo.
Passando por murais coloridos de grafite pintados com spray em quase todos os lares e empresas à vista. É possível ouvir o hip hop de um boombox em algum lugar distante e os moradores locais observam enquanto os estrangeiros tiram fotos de sua vizinhança. Os visitantes bebem cerveja, comem comida de rua e seguem guias que narram sobre cada local.
Falando em comida, um dos maiores sucessos da Comuna 13 é a sua paleta de manga com suco de limão e sal. Por onde quer que se ande na comunidade se vê alguém com um desses sorvetes nas mãos, turistas ou locais. Mas atenção para o jeito certo de comer: deve-se molhar a paleta no suco de limão, esfregá-la no sal e só então mordê-la. Garantem os colombianos que desta forma é mais saboroso do que simplesmente ignorar a ordem do processo.
O agito é constante por lá e é muito comum presenciar grupos de jovens fazendo apresentações de dança. Daí percebe-se de onde vinha o som do boombox que antes se ouvia ao longe. Os meninos dançam hip hop rodeados por um bando de turistas animados que batem palmas no ritmo da música e dão gritos a cada movimento mais elaborado. Posicionados bem no alto de uma das escadas rolantes, um lugar estratégico, os artistas recebem donativos ao fim de cada apresentação.
As transformações atraíram turistas que passaram a frequentar a comunidade e a percorrer o caminho sinuoso subindo a encosta da montanha. Durante o trajeto é possível observar moradores conversando despreocupados, crianças jogando bola na rua, visitantes caminhando sozinhos e fotografando o que encontram pela frente. Cenário impossível em um passado recente em que ninguém andava livremente por lá e que até existia toque de recolher às 6 da tarde.
Atualmente, apesar de ainda estar repleta de problemas, a Comuna 13 está tentando esquecer seu passado sórdido e a história de violência. É um bairro que foi revitalizado por meio de acesso público aprimorado, infraestrutura renovada e desenvolvimento cultural e artístico apoiado por uma comunidade que tem muito orgulho de sua resiliência e de suas raízes.
A jornalista Tuka Pereira, do blog Pra Onde Vai Agora, viajou a Medellín a convite do Medellin Convention & Visitors Bureau.