Conheça a história por trás de pratos típicos ao redor do mundo
Mais do que uma combinação de ingredientes e sabores, um prato típico é um pedaço de história carregado de detalhes que revelam a cultura, os hábitos alimentares e até fatos históricos.
Mais do que uma combinação de ingredientes e sabores, um prato típico é um pedaço de história carregado de detalhes que revelam a cultura, os hábitos alimentares e até fatos históricos.
O blog Viagem em Pauta selecionou pratos e hábitos alimentares de alguns países que contam curiosidades da gastronomia local.
Caro internauta, a história está servida.
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BATATA FRITA NA BÉLGICA
Nem chocolate, nem cerveja. A especialidade gastronômica da Bélgica é (vejam só!!!) batata frita.
Diz a lenda (e os estudiosos do assunto) que combatentes belgas teriam oferecido batatas fritas a soldados americanos, em plena Primeira Guerra Mundial. Esses pensaram então que aqueles belgas franco-falantes eram franceses e surgiria então a expressão ‘french fries’ (ou “batatas fritas”, em português).
E os belgas se sentem tão orgulhosos disso que Bruges, cidade medieval a uma hora de Bruxelas, abriga o Fritemuseum, um inusitado museu com acervo de 400 objetos que contam a trajetória da batata desde a sua utilização nos Andes, há mais de dez mil anos.
BOLO FLORESTA NEGRA
A paisagem selvagem e as tradições das florestas do sul da Alemanha não só inspiraram fábulas e histórias mágicas, no século 19, como também deram origem a uma das iguarias locais mais populares fora da Alemanha: o bolo floresta negra.
Com 12 mil km² de floresta densa, no sudoeste da Alemanha, em Baden-Württemberg, a região da Floresta Negra deu origem a esse bolo com inspirações nos trajes tradicionais de mulheres solteiras da região.
As blusas brancas das moças seriam o creme da cobertura; seus vestidos pretos, o chocolate escuro da massa; e as cerejas sobre o bolo são uma referência ao bollenhut, os chapéus típicos com bolas vermelhas que, tradicionalmente, indicam o estado civil daquelas jovens solteiras. Junta-se a tudo isso o kirsch, um licor feito à base de cerejas escuras.
CERVEJA EM MUNIQUE
Presente em diversas cidades da Alemanha, o ‘jardim de cerveja’ (biergärten, em alemão) é outra mania tradicional das terras germânicas.
Trata-se de uma grande área verde com bancos coletivos onde são servidas canecas com até um litro de cerveja. Uma espécie de paraíso na Terra para os fãs do ‘pão líquido’, como era conhecida a bebida entre monges.
Um dos destinos alemães mais populares é Munique, a 380 km de Frankfurt.
Esses jardins etílicos surgiram há pouco mais de 200 anos, quando Maximilian I, o rei da Baviera, autorizou os produtores a comercializarem suas cervejas, diretamente, aos consumidores em áreas ao ar livre, em 1812.
Nascia então a prática de vender bebida fresca guardada em adegas sob cascalhos e castanheiras, onde os clientes aproveitavam a sombra das árvores locais para provar ali mesmo a bebida recém-adquirida.
Munique, endereço da Oktoberfest, abriga mais de 180 jardins de cerveja, cuja capacidade pode chegar a oito mil lugares como o Hirschgarden. A cidade preserva até hoje espaços em funcionamento desde a época do decreto do rei Maximilian I, como o tradicional Augustiner Biergarten, declarado o mais antigo de Munique.
COMIDA INDIANA NA ÁFRICA DO SUL
A sul-africana Durban, às margens do Índico, concentra o maior número de imigrantes da Índia fora da Ásia e, atualmente, abriga uma curiosa mistura entre as culturas zulu e indiana.
Mulheres saem às ruas envoltas em saris coloridos, templos dedicados a Krishna emocionam os mais espiritualizados como o Temple of Understanding, riquixás fazem passeios turísticos e a gastronomia local carrega no tempero com açafrão, canela e massala.
Uma das criações gastronômicas desse encontro inusitado entra a África e a Índia é o bunny chow, prato criado na década de 40 com pedaços de pão recheado com molho de curry que eram servidos nos fundos de restaurantes proibidos de vender comida a indianos, nos anos de apartheid.
A chegada de indianos à região teve início na segunda metade do século 19 quando a África do Sul ainda era colônia inglesa e começou a receber mão de obra da Índia para trabalhar em plantações locais de cana-de-açúcar.
Um de seus moradores mais ilustres (indiano, diga-se de passagem) foi Mahatma Gandhi, líder espiritual que morou em Inanda, subúrbio a 27 km de Durban, por 21 anos. Foi naquela época que Gandhi teve inspiração suficiente para desenvolver sua filosofia de não violência.
EMPANADAS SUL-AMERICANAS
A América do Sul é dona de um dos mais tradicionais (e cobiçados) pratos salgados do continente: as empanadas, como são conhecidos esses pastéis recheados e assados.
As primeiras versões foram trazidas pelos espanhóis que, por sua vez, teriam tido contato com essa espécie de pão recheado durante a longa passagem dos mouros pela Espanha, durante a Idade Média. Mais do que um período longo de disputas políticas e econômicas, que duraria 700 anos, árabes e espanhóis protagonizaram um troca linguística, literária, arquitetônica, comercial e, claro, gastronômica.
Atualmente, o prato é conhecido como saltenha (na Bolívia e em Salta, no norte da Argentina), tucumana, pastel frito boliviano, empanada de pino (a versão chilena com carne moída) e também como criolla, na Argentina.
TAPAS ESPANHOLAS
Basta sentar para tomar uma cerveja para um espanhol pedir as famosas porções conhecidas como tapa, o típico aperitivo espanhol que também vem acompanhado de diversas versões históricas.
Uma das mais populares é a de que o termo teria surgido na Idade Média, quando um pedaço de salame foi utilizado para tapar uma jarra de vinho rodeada por moscas em uma taberna onde se encontrava Fernando II de Aragão.
Alfonso 13 teria sido outro personagem da história que protagonizou o surgimento das tapas. Acredita-se que, a caminho de Cádiz, o rei teria parado em uma venda para tomar uma taça de vinho Jerez, cuja borda foi tapada com uma fatia de presunto para evitar a entrada de areia.
A ideia teria agradado não só Alfonso como toda a Corte.
O decreto dos Reis Católicos que obrigava servir bebidas alcoólicas acompanhadas de alimentos para evitar acidentes com carruagens, uma espécie de Lei Seca medieval, é outra das versões usadas para explicar a prática. Valia de tudo: pedaços de presunto, linguiça, salame e até queijo.
Seja qual for a explicação histórica, as ‘tapas’ se tornaram uma espécie de símbolo gastronômico de todo o país e, atualmente, podem ser encontradas receitas modernas nos diversos bares e gastrobares de grandes cidades espanholas como a capital Madri e seu tradicionais bairros como Cavas Baja e Alta, Puerta de Sol e La Latina.
DIM SUM EM HONG KONG
Considerada a ‘capital culinária da Ásia’, Hong Kong é responsável por um variado mundo de sabores trazidos por imigrantes de todas as partes do mundo.
Só para se ter uma ideia, essa Região Administrativa Especial da República da China tem mais de 11 mil restaurantes, cujo ritual mais famoso é o dim sum, uma sequência de mini porções de pratos fritos ou a vapor que chegam à mesa em cestos de bambu ou potes de porcelana, acompanhada de chá de jasmim à vontade.
O dim sum cantonês (‘tocar o coração’, em português) tem origem em um tradicional estilo de servir chá: o yum cha.
Casas especializadas da milenar Rota da Seda, entre o sul da Ásia e a Europa, serviam chá acompanhado de uma grande variedade de pratos para repôr as energias de viajantes e agricultores que cruzavam aquelas antigas vias comerciais. E nem a recomendação de um respeitado médico imperial do século 3 d.C. que desaconselhava a ingestão de chá com comida, foi capaz de cessar a venda desses pratos e o dim sum logo se popularizou em toda a região.
Por Eduardo Vessoni, do blog Viagem em Pauta