Descobrindo Lecce, no coração do território salentino
O sul da Itália possui muitas opções para quem busca novos destinos, já que a região é rica em cultura, gastronomia e praias com águas cristalinas
As pequenas cidades preservadas no interior da Itália nem sempre estão próximas dos destinos mais turísticos, mas guardam relíquias que sobreviveram aos séculos e propõem uma nova mirada a um dos dez países mais visitados do mundo.
Deixando de lado por um momento as tradicionais Roma, Veneza e a região da Toscana, que estampam com imagens muitos dos bilhetes promocionais com destino à Europa, é possível ter uma experiência mais íntima e, muitas vezes, mais barata em regiões menores ou ainda pouco exploradas.
O sul da Itália possui muitas opções para quem busca novos destinos, já que a região é rica em cultura, gastronomia e praias com águas cristalinas. A combinação desses fatores nos leva ao salto da bota italiana, onde está Lecce, uma pequena cidade encravada no coração do território salentino, na região da Apúlia (Puglia –-em italiano), destino principal dessa experiência.
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Com mais de 2 mil anos de história e uma arquitetura rica no estilo barroco, Lecce preserva memórias que podem ser apreciadas até hoje em seu centro histórico.
A cidade possui cerca de 100 mil habitantes e está estabelecida como a principal da península salentina.
Um passeio pelo centro histórico
No centro da cidade existem muitas construções que encantam e fazem os olhos mirarem ao alto em qualquer passeio. Logo na entrada para a região histórica está a Porta Napoli, que recepciona os visitantes com uma construção imponente em arco. Similar a essa obra há ainda a Porta Rudiae e a San Biagio que fazem margem ao centro.
Quando entramos pela Porta Napoli, rumo ao centro histórico, a ideia é de que estamos fazendo uma viagem no tempo. Lecce é limpa, iluminada e possui ruas estreitas decoradas por restaurantes e construções antigas. Do alto das janelas das casas feitas com pedras de calcário, os habitantes locais, geralmente os mais velhos, nos observam como se já fizessem parte da decoração daquele trajeto. Mais à frente, os artesãos presenteiam os visitantes com obras feitas à mão acomodadas no chão. Ali, com seu trabalho, contam um pouco da história local.
As ruas são predominadas por um amarelo desbotado das construções erguidas por pedras de calcário maciço. As cores quentes geralmente se apresentam nas janelas das casas que dão um charme único para o percurso. As ruas estreitas normalmente são disputadas por pequenos grupos de turistas e suas câmeras fotográficas que miram em todos os detalhes.
O centro é o palco para apresentações de artistas de rua, festivais e um local importante para o comércio. É ali que em todos os verões é celebrada a Pizzica, da família da Tarantella, uma dança tradicional folclórica que tem como berço o Salento. Reza a lenda que a tradição surgiu quando uma mulher foi picada por uma tarântula. Nessa ocasião, ela teria pegado um pandeiro e dançado até o veneno sair por completo do seu corpo.
Também no centro histórico está preservada a Piazza Sant’Oronzo a qual apresenta uma estátua imponente de mesmo nome do santo patrono da cidade. Ali está fixada a principal passagem para os turistas em uma área ampla conectada por vielas que levam os visitantes para cafés, lojas e as famosas gelaterias fartas em gelatos artesanais.
Em destaque nessa região também está o Anfiteatro Romano, um grande monumento abaixo do nível das construções atuais da cidade descoberto por acaso durante uma obra. O anfiteatro pode acomodar cerca de 25 mil espectadores, mas apenas uma parte dele é visível no centro de Lecce. Apesar de ser menor, a construção lembra o Coliseu, em Roma, e a data em que foi iniciada ainda é incerta.
Próximo dali está a Piazza Duomo que guarda relíquias históricas como a Catedral Metropolitana de Santa Maria Assunta e uma torre de 70 metros de altura com sino. Com forte domínio do barroco, a praça é também conhecida como “Piazza chiusa” por apresentar um complexo com acesso por apenas uma entrada.
Não menos importante há ainda a Basílica de Santa Croce, uma igreja que arranca suspiros com uma fachada decorada por detalhes. A sua construção iniciou em 1353 e foi finalizada apenas em 1695. Atualmente, é um dos presentes mais delicados da cidade aos visitantes que buscam conhecer mais da arquitetura local.
Entre as dezenas de obras importantes da cidade, há ainda o Obelisco, feito em honra de Fernando I das Duas Sicílias, e o Castelo Carlo V, que foi construído na Idade Média e depois reforçado. O castelo era utilizado para fins defensivos e culturais, já que uma das salas era usada como teatro.
O poder gastronômico
Na Itália como um todo “ci mangia bene”, portanto na Apúlia não poderia ser diferente. Com uma gastronomia típica muito saborosa é impossível conhecer a região sem ganhar uns quilos a mais. Ingredientes frescos e preparo artesanal fazem a diferença nos pratos, além de contribuir também para a saúde dos italianos, que apesar de terem a massa como base na alimentação diária conseguem manter a posição de um dos povos mais saudáveis do mundo.
O azeite é ingrediente vivo na região, sendo que grande parte do território é decorado por plantações de oliveiras. O azeite de oliva extra virgem, facilmente encontrado, é geralmente combinado com vegetais em uma dieta de baixas calorias e não menos saborosa.
A massa, um dos pratos principais da Itália, ganhou um estilo especial na Apúlia – o Orecchiette. Esse é o nome dado para o produto feito em forma de pequenas orelhas, muito popular na região e encontrado facilmente no comércio de Lecce.
Os queijos enfeitam as prateleiras dos supermercados e se apresentam em diferentes formas, sabores e consistências. A Burrata, por exemplo, tradicional da região, é um tipo de queijo fresco feito como se fosse uma “bolsa” com um miolo cremoso e de sabor suave.
O Pasticciotto é um doce também bastante popular. É feito em formato arredondado com massa doce e pode receber diferentes recheios. Ele acompanha outros doces que são apreciados no café da manhã. Segundo os italianos, a vida já é muito amarga para não iniciar o dia com um doce.
Muito improvável também é ir para a região e não provar um negroamaro, vinho produzido de uma casta de uva tinta. A bebida acompanha muitos dos pratos servidos nos restaurantes das vielas estreitas do centro histórico de Lecce. Aliás, os vinhos como um todo possuem preços acessíveis na região, principalmente nos supermercados, que oferecem incontáveis rótulos com valores que partem dos €2.
As praias
Saindo de Lecce é possível também conhecer lugares com paisagens inesquecíveis. A Apúlia é banhada pelo mar Jônio e o mar Adriático o que garante uma costa marítima extensa e com paisagens de encher os olhos de qualquer viajante.
Durante o verão são oferecidos ônibus para fazer o transporte de Lecce para alguns dos destinos próximos. Geralmente é possível passar um dia sem grandes custos em praias com águas cristalinas e com temperaturas agradáveis. Locais como Torre Dell”Orso, Leuca, Gallipoli e Porto Cesario podem ser inesquecíveis. No inverno, porém, o acesso é um pouco mais complicado, mas com um carro alugado é possível fazer um percurso ainda maior e desbravar lugares mais distantes.
Roca Vecchia possui um sítio arqueológico na costa adriática. É lá onde está a Grotta Della Poesia, um dos lugares mais encantadores localizado em uma costa rochosa cercada por mar aberto em uma paisagem que os olhos não conseguem alcançar por completo. Neste local, uma caverna foi cavada pela força da água e concentra uma piscina natural. Nesse ponto de área arqueológica foram encontradas inscrições milenares nas paredes rochosas.
Alberobello, considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, pode ser descoberta com apenas mais alguns quilômetros de viagem. A cidade é famosa por seu conjunto de Trulli, construções em formato cônico que dão um charme especial ao lugar e contam muito sobre o passado desse pedaço da Itália. As casas possuem as paredes brancas e muitas delas contam com símbolos no telhado. As moradias rústicas eram usadas por camponeses e seriam provisórias, mas acabaram tornando-se parte permanente da cidade e atraindo turistas todos os anos.
Subindo um pouco, próximo de Bari, capital da Apúlia, é possível conhecer também Polignano a Mare, cuja parte mais antiga da cidade fica em um complexo rochoso banhado pelo mar Adriático. Nesse local está situado um restaurante que fica dentro de uma gruta e proporciona uma experiência diferente para quem busca novidades.
Independente do período e do meio de transporte, viajar para o Sul da Itália e desbravar cidades pequenas como Lecce, ainda pouco presente nas rotas turísticas, pode ser uma experiência única. A cultura existente nesses espaços de terra, abundantes em riquezas naturais e ainda pouco exploradas, é um prato cheio para qualquer viajante que busca uma experiência íntima com a Itália.
Relato por Jézica Bruno