Em Mônaco, o verde é o novo ouro
Hoje é impossível definir o principado com um rótulo apenas
Na paleta de cores nos matizes do ocre ao rosa que revestem os edifícios de Mônaco, o que brilha agora é o verde. Verde que tinge áreas escondidas entre construções, nas menos visíveis como telhados, nas varandas, enfim improváveis locais para o cultivo de hortaliças e frutas.
No país mais densamente povoado e rico do mundo, a sustentabilidade é a bola da vez do Principado.
Contudo, essa abordagem ambiental não é novidade em Mônaco, ela está alicerçada no “DNA” de seus governantes há mais de cem anos. E agora ganhou reforço peso-pesado com o monarca príncipe Albert II, que assim como seus ancestrais, tomou para si o trabalho de aumentar a conscientização ecológica dos monegascos.
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Na linha de frente desses esforços está sua fundação criada em 2006, que se concentra nas mudanças climáticas, gestão da água e combate à perda de biodiversidade.
Dentre os vários projetos ambientais, o que me tocou de modo especial foi o “Terre de Monaco”, fundado em 2016 pela suíça Jessica Sbaraglia cujo opbjetivo é a agricultura urbana. O projeto cria microfazendas orgânicas e pomares, com zero desperdício, em varandas, telhados dos prédios, e em pequenos terrenos onde flores se misturam com hortas e pomares. Com uma produção de cinco toneladas de produtos orgânicos, seu projeto é um sucesso, e já tem parcerias com os principais chefs do Principado.
Mas outras iniciativas com viés ecológico e turismo responsável não passaram despercebidas, e ainda ajudam a promover mudanças em direção à sustentabilidade e ao cumprimento de rigorosas metas verdes. A começar pelo transporte público. Há opções elétricas, um ônibus híbrido que ziguezagueá pelas estradas sinuosas de Mônaco, ou ainda um cruzeiro de lazer num barco movido a energia solar que atravessa Port Hercules a cada 20 minutos. Os monegascos têm incentivo para compras de carros e triciclos elétricos, além de tarifas baixas para os transportes coletivos – um quê a mais para deixarem os carros nas garagens. E a população ainda é motivada a andar mais de bicicletas, scooters e até de patins!
Para entrar nessa onda verde, uma frase de escritor americano bem acompanha o percurso a pé em Mônaco: “cidade que não tem lugar para caminhar, também não tem lugar para a alma”. E foi nesse passeio que descobri restaurantes que criam pratos à base de produtos orgânicos. E qual é o crème de la crème desses restaurantes? O Elsa que fica no interior do Hotel Monte-Carlo, o primeiro restaurante 100% orgânico a ser contemplado com uma estrela Michelin.
Atitudes importantes na sustentabilidade e com certificados verdes reconhecendo seus esforços estão presentes em muitos dos luxuosos hotéis de Mônaco. É o caso do Fairmont Monte Carlo, um gigante modernista, onde bombas subterrâneas geram energia limpa a partir da água do mar para alimentar os sistemas de aquecimento e ar condicionado do hotel.
O hotel também trabalha em estreita colaboração com a Fundação Prince Albert II financiando estudos sobre o golfinho listrado do Mediterrâneo, cujo habitat é cada vez mais ameaçado pela poluição e pelo aumento da temperatura da água.
Hotéis e bares em todo território monegasco aboliram há muito tempo pratos, talheres e canudos de plásticos. Muitos deles participam de projetos de reflorestamento em áreas degradadas, ou como no caso do hotel “Mon Arbre à Moi” que plantou oliveiras numa colina anteriormente destruída pelo fogo.
Ah! Mas você pode se perguntar: e o GP de Fórmula 1, com suas máquinas velozes movidas a gasolina, não é uma das competições mundiais que mais poluem? Você está certo. Eu mesmo gostaria de saber como eles estão trabalhando isso. Mas o Principado também recebe o e-Rallye anual (com veículos elétricos ou movidos a hidrogênio) e o ePrix bienal, que percorre as mesmas estradas icônicas e curvas fechadas, promovendo competições mais sustentáveis.
Uma coisa é certa, dependendo de cada olhar, hoje é impossível definir Mônaco com um rótulo apenas. O convite à viagem desta vez ao Principado é seu verde.