Enoturismo em Portugal: que regiões visitar sem ser especialista
História e tradição fazem de Douro e Alentejo as regiões mais indicadas para quem não é especialista em vinho
O vinho se confunde com a própria história de Portugal, que tem forte tradição na produção dessa bebida. Por todas as regiões do país há vinícolas abertas à visitação de turistas. Eles podem tanto desfrutar de excelentes rótulos e ótima gastronomia quanto se hospedar em algumas destas propriedades. Em certos casos, a programação inclui participar da vindima, o período da colheita, realizada entre os meses de agosto a setembro.
Nas últimas duas décadas, o enoturismo em Portugal tem servido de pretexto para o viajante do Brasil conhecer também a natureza, a cultura e um pouco do povo lusitano. Oportunidade de se embrenhar por um país que não se resume à capital Lisboa, mas cujo interior carrega no cultivo da uva traços igualmente reconhecíveis de nossa origem.
Essa disposição em desbravar o território português é facilmente percebida, segundo Filipe Silva, diretor do Visit Portugal, o órgão oficial de divulgação turística do país. “Há um crescente número de brasileiros interessados em viajar por rotas gastronômicas e de vinho”, afirma. Silva conta que, nos últimos dois anos, cerca de 170 mil profissionais de turismo foram requalificados, muitos deles do enoturismo. “O brasileiro que nos visita hoje é exigente e experiente, então temos de estar preparados”, completa.
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Ninguém precisa ser especialista para desfrutar de um roteiro de vinho em Portugal. Mas dá para aprender um pouco sobre tanino, reconhecer notas (aromas) e até descobrir que rótulo vai bem com qual comida (harmonização) percorrendo algumas vinícolas. “Natural de quem visita Portugal pensar em duas regiões, Alentejo e Douro, pela história e tradição”, afirma Sónia Martins, enóloga-chefe e presidente do conselho administrativo da Lusovini, vinícola localizada em Nelas, cidade a 30 minutos de Viseu, na região do Dão.
Rota do Alentejo reúne tradição e preciosidades
A maior região de Portugal tem 73 produtores associados à Comissão Vitivinícola Regional do Alentejo (CVRA), com sede em Évora. Neste espaço o visitante pode bebericar quatro vinhos locais (5 euros por pessoa, durante 50 minutos). Também está disponível ali a programação das propriedades alentejanas, como a Adega Cartuxa, casa do Pêra-Manca. Considerado um dos melhores do mundo, sua produção não ultrapassa 40 mil garrafas.
No Alentejo, a viticultura também remete a vestígios da ocupação romana na região, cerca de 2 mil anos atrás. A herança mais notada é o vinho de talha, produzido de modo artesanal a partir de uma técnica em que as uvas são fermentadas dentro de enormes recipientes de barro. Honrado Vineyards e Adega Cooperativa Vidigueira, Cuba e Alvito são exemplos de onde é possível provar esta tradição milenar. Já na Ervideira a curiosidade está no processo conhecido como vinho da água, em que parte da maturação da bebida é feita em garrafas submersas no lago Alqueva.
O passado permeia qualquer viagem que se faça por Portugal, garantindo ao turista experiências genuínas. Sede da antiga Ordem dos Hospitaleiros, o mosteiro-fortaleza da Flor da Rosa converteu-se em pousada de luxo. Nela, o hóspede dorme em um quarto medieval, mas com o conforto e serviço da hotelaria contemporânea. Fica a 22 km da cidade de Portalegre, na Serra de São Mamede, local escolhido por Sónia Martins para o desenvolvimento do Sericaia, o rótulo alentejano da Lusovini.
No Douro, o mundo do vinho no Porto
O Douro é considerada a mais antiga região de produção demarcada do mundo (1756) e onde se fabrica um artigo visto por muitos especialistas como complexo. Além da fama e da popularidade obtidas, principalmente na Inglaterra do século 18, o vinho do Porto trouxe dor de cabeça aos portugueses pelas inúmeras tentativas de falsificação da bebida. Razão pela qual houve a necessidade de criação de uma zona de origem controlada, algo feito de forma semelhante na francesa Bordeaux cerca de um século mais tarde.
Hoje, quem visita a cidade no norte de Portugal não escapa à tentação de participar de tours guiados de caves como Taylor’s e Sandeman, devidamente seguidos da prova de um vintage (com sua clássica coloração escura) ou de um tawny (versão amarelada da bebida).
Desde 2020, o centro histórico de Vila Nova de Gaia, cidade vizinha ao Porto, ganhou uma nova atração. O World of Wine (WOW) é um complexo que envolve vinho e gastronomia, composto por 12 restaurantes, bares e cafés. Neste mundo à parte há ainda lojas temáticas, sete museus e uma escola de vinho onde são organizados workshops e degustações para especialistas e, claro, curiosos.
Quem escolhe percorrer de carro as estradas da região do Douro encontra pelo caminho uma grande quantidade de plantações nas encostas montanhosas do rio. Locais como Mesão Frio, Peso da Régua e Vila Real são rodeados de vinhas. Para Sónia Martins, da Lusovini, propriedades menores permitem um contato mais próximo com o produtor, o que pode resultar numa experiência mais interessante. “Se conseguir ir a uma pequena quinta, se puder falar com o proprietário, saber como surgiu a marca ou conversar com o enólogo local, talvez seja algo mais genuíno”, explica.
Requalificada para o enoturismo em 2018, a Quinta do Val Moreira guarda uma história de 250 anos de produção de vinho do Porto e do Douro. Parte da propriedade é ocupada pelo Vila Galé Douro Vineyards, uma das maiores redes hoteleiras de Portugal. Hospedar-se ali é ter a chance de contemplar o rio, percorrer vinhas, olivais e ainda ver amendoeiras em flor. Fazer um cruzeiro pelas águas do Tedo e do Douro, para visitar outras vinícolas da região, é uma das sugestões do hotel.
Por Fernando Victorino
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