Fazenda em Aiuruoca mantém tradição das festas juninas
Por Heitor e Silvia Reali
Havia um tempo de festas juninas com terreiro enfeitado de bandeirolas de chita e o mastro lá no alto com as faces dos padroeiros João, Pedro e Antônio. Para animar a dança, o sanfoneiro puxava a marcação para damas e cavalheiros. E quem se lembra daquelas singelas brincadeiras que animavam as festas? Correio elegante, Manda Prender e Manda Soltar, Pescar uma Prenda. Pois, alegrem-se ‘cumpadres’, esse tempo existe ainda hoje na Fazenda São Pedro, na mineirinha Aiuruoca, 350 km de São Paulo.
A próxima página da folhinha anuncia: junho chegou! Êta mês bão!!! Mês de simpatias casamenteiras onde Santo Antônio continua figurando, sempre bem colocado, no inventário dos santos juninos. Junho feito para virar criança, se aquecer com xale e quentão pra ‘mode’ curtir o ar gélido das noites coalhadas de estrelas, e munido de um saco de pipoca, do tupi pi’poka, ou estalando a pele.
Os festejos de junho são a adaptação que os católicos fizeram dos rituais indígenas da época de colher o milho. Hoje essas festas fortalecem a identidade da roça.
Roça mineira, é claro! E, em Aiuruoca ou a ‘casa do papagaio’. A região tem as boas características das cidades sul-mineiras: a morraria ondulada, clima agradável o ano todo, araucárias prenhas de pinhão, e povo acolhedor que recebe os viajantes com fartura de comida e de prosa. Tem também aquele jeito mineiro de nomear seus ‘ trens’, ouça só: a cachoeira Deus me livre, e a das Fadas, o poço dos Macacos, o povoado Quatro Óleos, e o Vale do Matutu. Pera aí, Matutu é nome dos índios e quer dizer “nascentes sagradas”.
Tão abençoadas quanto as montanhas que ao entardecer o sol doura deixando-as mágicas. Aiuruoca é para a gente entender o sentido da felicidade.
E para louvar aos céus toda essa belezura há uma bela tradição que já dura mais de 200 anos. Ela junta fiéis, viajantes, famílias e crianças que trabalham em grupos confeccionando os tradicionais tapetes em comemoração ao Corpus Christi. Elaborados com desenhos dos símbolos sagrados, feitos com areia e serragem colorida, decoram todo o percurso da procissão que segue até a Igreja Matriz onde se realiza a Benção do Santíssimo Sacramento.
E como nem com reza braba dá para se banhar nas cachoeiras – mais de 50 – o dedo gela só de tocar, em junho acontecem no município as festas rurais como o Festival do Pinhão, dia 3 de junho em Quatro Óleos.
Já a Fazenda São Pedro, construída no século 19, vai antecipar os festejos para o dia 2 de junho, com a quadrilha puxada pela festeira Dona Neusa. E, o renomado “Bando de Rua”, com o gogó aveludado de seus seis músicos vai caprichar no forró com temas juninos.
Festa mineira da boa tem que ter comida caipira e ‘t’ar’. Certo? Mas na Fazenda São Pedro vão se juntar duas bambas na cozinha: Dona Neusa Arantes e a chef Maira Helena do restaurante Tia Iraci do Vale do Matutu. Maira se formou em gastronomia em São Paulo e elabora delícias com base nos alimentos da época e da região.
Portanto a comida é da roça sim, mas gourmet! Vai ouvindo só, humm, a boca fica aguando só de pensar. Tem canjiquinha com linguiça artesanal e crisp de couve, pinhão na manteiga com queijo regional, pão de queijo com pernil assado, pastel de angu, milho na brasa com manteiga caipira. Para os doces a canjicada com amendoim, doce de abobora com tangerina e crumble de cravo, e não podia faltar a paçoca douradinha. Tudo servido com aquele quentão bem temperado ou cerveja artesanal.
Bateu aquela saudade quando chegar em casa? Dona Neusa e Maira pensaram nisso também. Fizeram doces da fazenda pra levar e espichar a lembrança gostosa do arraial. É só abrir o pacote e saborear devagarinho.
Gostosuras que só sente quem teve o prazer de conhecer Aiuruoca, Minas Gerais.
Festa Junina da Fazenda São Pedro, com capacidade para 22 hóspedes, que acontece nos dias 31de maio, a 1, 2, 3 de junho. Aiuruoca, Minas Gerais.
Para saber mais: www.fazendasaopedro.com.br.