Turismo na Índia para mulheres que viajam sozinhas

Foram oito meses viajando sozinha pela Índia

Quando se fala em mulher viajando para a Índia, um conflito vem à cabeça: ao mesmo tempo que o país permeia o sonho de muitas viajantes, acaba deixando uma incógnita sobre os riscos reais que uma turista pode encontrar por lá.

Viajei pela Índia sozinha por mais de oito meses e, ao contrário do que eu imaginava, me sinto mais segura lá do que em São Paulo, onde moro atualmente. Hoje, levo grupos de mulheres ao país, pelo qual criei um amor inexplicável.

O próximo grupo será em outubro/novembro desse ano. Clique aqui para ver os detalhes.

Brasileiras no Taj Mahal, viagem exclusiva de mulheres organizada por Gilsimara Caresia, da GirlsGo
Créditos: arquivo pessoal
Brasileiras no Taj Mahal, viagem exclusiva de mulheres organizada por Gilsimara Caresia, da GirlsGo

A meu ver, os riscos são bem diferentes dos que enfrentamos por aqui. Não vi assaltos, não escutei falar de assaltos à mão armada, apenas pequenos furtos, bem raros, que acabam afetando turistas mais distraídos.

Fui para mais de 30 cidades, peguei os mais diversos tipos de transportes públicos, participei de festivais com milhares de indianos e não me senti ameaçada, tudo correu na maior traquilidade, tomando alguns cuidados básicos.

Trem noturno na Índia
Créditos: arquivo pessoal
Trem noturno na Índia

E por que a fama? Não dá para negar que a cultura indiana tem pontos machistas, o papel da mulher e do homem é muito definido dentro da sociedade, no ocidente, os papéis são mais flexíveis. O casamento é um dos ápices da vida de uma família indiana, nele, não são estipuladas apenas relações, mas negócios.

O pagamento de dote da esposa para o marido faz parte da cultura, o que já gera uma preferência por filhos homens. Embora, atualmente, o dote seja proibido pelo governo, ele ainda existe, mas, bem aos poucos, os casamentos deixam de ser arranjados.

O número de estupros é alto, porém, infelizmente, próximo ao de países como Estados Unidos e Brasil, se olharmos os dados da ONU. O risco maior, acaba sendo mais para mulheres locais que vivem em pequenas vilas do que para turistas.

Talvez, pelo sexo só ser permitido depois do casamento, haja no país uma repressão sexual, que gera curiosidade pelas estrangeiras. Pode ser que o indiano lhe observe como uma possibilidade de sexo fácil ou pode ser que se apaixone por você ser diferente e pela liberdade que representa. Mas saiba, uma turista sozinha dificilmente passa muito desapercebida na Índia. Seja pelas roupas, pela cor da pele, cultura, etc. Os olhares vêm tanto das mulheres como dos homens e quanto menos turística a cidade, mais vão olhar.

Holi Festival, em meio à multidão, sem incidentes
Créditos: arquivo pessoal
Holi Festival, em meio à multidão, sem incidentes

Vou deixar aqui algumas dicas para quem quer viajar à Índia:

  • Evite passar sozinha perto de grupo de adolescentes, eles são os mais “engraçadinhos” e costumam mexer mais com as mulheres;
  • É normal por lá pedirem fotos com as turistas, principalmente selfies. Eu, particularmente, optava por só tirar foto com famílias, crianças e mulheres. Mas fica a seu critério. Isso acontece porque nos lugares turísticos, muita gente local vêm de cidades pequenas, onde turistas não são frequentes. E há também um estigma de que é legal ter um estrangeiro como amigo.
Foto a pedido da família indiana
Créditos: arquivo pessoal
Foto a pedido da família indiana
  • No caso de pedir uma informação, aconselho a mesma estratégia: fale com mulheres ou famílias. A comunicação é fácil, por ter sido colônia inglesa, muitos indianos falam inglês;
    Vai um tempo até entender como o país funciona, então, se não quiser pegar transporte público, lá tem famosos aplicativos de táxis, também;
  • Voos internos na Índia não são caros e o país tem muitos aeroportos. Nos trens e ônibus existem poltronas e vagões específicos para mulheres, mas não são muitos. Eu viajei dezenas de vezes em vagões mistos e não tive problemas, na maioria das vezes, eram famílias grandes que dividiam os espaços comigo. Nos trens de longa distância, você pode optar pela primeira classe, onde a sensação de segurança é maior;
A Índia vai muito além do Taj Mahal: Palácio na Cidade de Orchha
Créditos: arquivo pessoal
A Índia vai muito além do Taj Mahal: Palácio na Cidade de Orchha
  • Se for ao banheiro, peça para alguém ficar de olho na sua mala. Tenha sempre com você uma bolsa/mochila menor para dormir com ela próxima ao corpo durante viagens noturnas;
  • Sobre andar a noite sozinha, varia muito. Depois de certo tempo eu já me sentia segura e circulava bastante, principalmente, em lugares de grande movimento em Déli ou turísticos como Arambol, em Goa. Em lugares muito desertos ou que você não conhece direito, fique de olho;
  • Já aconteceu comigo e com outras pessoas de indianos esbarrarem nos seios, a gente nunca sabe se foi por querer ou não. Na dúvida, use echarpe, evite decotes e roupas justas, em especial no Norte do país. Alguns estados do Sul são mais tranquilos, em Goa, por exemplo, que é praia, tem gente até de biquíni.
As plantações de chá de Munnar
Créditos: arquivo pessoal
As plantações de chá de Munnar
  • A cultura na Índia tem muito toque, então, homens e mulheres podem enconstar em você em uma fila, segurar seu braço para lhe chamar, crianças podem puxar sua mão, o que é muito invasivo para nós, lá é normal;
  •  Nunca tive problemas de saúde por causa de alimentos lá, mas por via das dúvidas, viaje com seguro. A Índia chega a ser polo de turismo hospitalar, muita gente do mundo vai lá se tratar das mais diversas doenças em razão do preço acessível;
  • No geral, o povo indiano é muito doce e pouco agressivo. Chegam a ser excessivamente receptivos, puxando muito assunto, até para festas de casamento fui convidada;
  • Pode acontecer de vendedores lhe seguirem pela rua, não dê atenção que eles desistem. Se for comprar algo, barganhe até cansar;
  • As belezas da Índia vão muito além do famoso Taj Mahal. Pode demorar um pouco até você se acostumar com um país tão diferente. Mas não tenha dúvidas, será uma experiência inesquecível.

Ainda não criou coragem para ir sozinha? Acompanhe meu caledário de grupos pelo instagram ou página.

Em parceria com GirlsGo

Gilsimara Caresia, jornalista e turismóloga, viajou mais de 80 países sozinha, é criadora do projeto GirlsGo. Acredita na viagem como ferramenta de autodescoberta.

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