Jujuy, um paraíso entre montanhas coloridas no norte da Argentina
Destino ainda é pouco conhecido pelos turistas
Estava muito ansiosa para essa expedição em Jujuy, no norte da Argentina, entre o Chile e a Bolívia, com minhas amigas. Chegar lá é fácil, um voo para Buenos Aires (te conto aqui como foi!) e depois um direto para Jujuy. Duas horas e meia de carro e você chega em Tilcara, onde seria nossa primeira cidade base.
A viagem começou alucinante já que pela primeira vez na vida eu vi três pôr do sol. Um do aeroporto, um decolando e seguindo ao norte a luz voltou e o sol se pôs novamente.
A empresa Norterama nos acompanhou durante a viagem inteira. Nos pegou no aeroporto de Jujuy e nos levou até a cidade Tilcara, que é pequena mas estruturada com hotéis, restaurantes, museus e uma feira cheia de coisas locais.
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O motorista Gabri nos indicou um restaurante para jantar, Los Puestos. Comemos as famosas empanadas e o milanesa com papas.
A pousada que eu escolhi foi a Posada con los Ángeles e chegando a noite não tinha ideia do que me esperava pela manhã. Acordar e ver a vista com todas aquelas montanhas em volta foi realmente um presente.
Vale lembrar que fomos no começo de agosto e estava um baita frio, mas que não atrapalhou a experiência. Achei uma ótima época e sem chuvas.
Dia 01 – Se ambientalizando
Começamos o dia com a linha de capricórnio, em Jujuy, que também é um relógio solar e é bem massa ficar na divisão do planeta. Ali tinha a Dona Francisca com sua feirinha de artesanato. Ela nos apresentou o muña muña, um chá afrodisíaco e quinoa crua pra comer como snack.
Bem próximo estava a Quebrada de Las Señoritas, um lugar mágico que lembrava Marte. Perdemos um bom tempo ali explorando o lugar e dando uma meditada antes de pegarmos estrada para Hornaditas. Uma comunidade pequena onde conhecemos Clarita e Hector, que nos ofereceram um almoço em sua casa que estava uma delícia. Eu viajo o mundo só pra trocar com os locais.
Nossa próxima parada seria a 4.350 metros de altitude no El Hornocal, também conhecido como Cerro de las 14 colores. O lugar é surreal a quantidade de cores diferentes numa mesma montanha te deixa extasiado e sem fôlego, claro que também tem o ar que é rarefeito!
A última parada foi o Pueblo de Humahuaca, uma volta na praça, uma olhada no monumento e um bom expresso para fechar. A cidade é tranquila, mas era hora de voltar pro hotel pro pôr do sol, despedi do Gabri e fui jantar no Ma’koka, um restaurante que também era uma livraria, e bora de comida andina. Feijão, empanada e pizza de calabresa de lhama.
Hora de dormir que no dia seguinte iríamos em uma vinícola.
Dia 02 – Vinho e caminhada
Acordei naquele lugar lindo e animada, afinal hoje seria dia de vinho e do primeiro pequeno hiking. Atílio da Norterama nos pegou no hotel e seguimos para a Paleta do Pintor, um conjunto de montanhas lindas e coloridas no povoado de Maimará. O povoado é pequeno e pouco turístico, mas é uma graça e dá pra sentir melhor como vivem os locais.
Partimos para Bodega Fernando Dupont que era um dos pontos altos do dia. Daqueles lugares que te abraçam e você já quer ficar pra sempre. Foi isso que aconteceu com Fernando, um cara que sabe tudo da vida, com muita clareza e claro, manja tudo de vinhos.
A Amelie, sua esposa e uma cozinheira de mão cheia preparava nosso almoço. Que vista linda que tem de todos os lugares! Lourdes, uma jovem querida nos levou para conhecer onde os vinhos são feitos e onde são armazenados, nos explicando como tudo funcionava.
Estávamos ansiosas pelo almoço com a harmonização dos vinhos da casa, tudo com uma ótima conversa com Fernando.
O almoço foi servido em três tempos e era feito com as coisas plantadas no própria Bodega. Experimentamos as papas ocas, que era o ingrediente tanto da entrada como do prato principal, bem gostosa. Acabamos um ‘tiquito borrachas’ (meio bêbadas!), mas nos divertimos muito!
Atílio foi nos buscar para irmos à Garganta del Diablo, a ideia inicial era lá do pé da montanha subirmos andando, mas não conseguimos, tínhamos comido e bebido demais! Então, o Atílio com toda sua fofura nos levou de carro. Um carro como instalação de arte no caminho e seguimos morro acima.
Alfred, o guia que iria nos acompanhar pelos próximos dias nos esperava para a caminhada. Um argentino coqueador (em lugares de alta altitude, às folhas de coca são permitidas e muito usadas) e maravilhoso nos levou nos cantinhos mais escondidos de todos os lugares que passemos. A Garganta del Diablo são cânions e tem uma cachoeira! O caminho é lindo e leva mais ou menos 30 minutos. Estávamos precisando daquela energia para curar a ressaca.
Subimos de carro mas descemos a montanha a pé entre cactos e plantas do cerrado. Lá embaixo Atílio já nos esperava para voltar para Tilcara.
Aproveitamos para passear pela cidade com crianças brincando na praça e adultos na feirinha. Um astral de fim de tarde de cidade pequena! Resolvemos ir na vibe local e comemos tortilhas para dar uma segurada na fome.
Para fechar a noite fomos no Chicha Libre Resto Bar, um restaurante com jardim e rooftop pra tomar um vinho e comer um sanduba. Por hoje é isso!
Dia 03 – Camiño de Las Colores
Nosso já querido guia Alfred, nos pegou no hotel em Jujuy, para mais um passeio. O nosso destino seria Purmamarca, uma cidadezinha fofa que também seria nossa próxima e preferida cidade base.
Já ficaríamos por lá no sonho em forma de hotel, Cabañas Los Colorados, e meu favorito no mundo, completamente integrado às montanhas.
Logo de manhã aproveitamos para dar uma volta pela cidade e fazer um conhecimento de território, a igreja, a praça e a feira. Paramos para tomar um café no El Morado, que era tudo o que precisávamos antes da caminhada.
O Camiño de Las Colores é um passeio que pode ser feito a pé ou de carro. E ele te leva pra conhecer o complexo das montanhas super coloridas de Purmamarca. Deixamos para ir mais para tarde, porque o ideal é quando o sol não está batendo direto nas montanhas, para que você possa ver toda a sua riqueza de cores. O passeio é bem tranquilo e
tem dificuldade leve, deixando para cada pessoa o quanto quer explorar de cada cantinho dessas montanhas deliciosas.
Nós estávamos animadas, então sobe aqui, escala ali, desce correndo aqui, descobre uma caverna ali. Nesse momento que eu realmente gostaria de agradecer a Norterama. são poucas as empresas que se preocupam realmente com a experiência e com o bem estar de cada viajante. Seguimos subindo e descendo até conhecer uma caverna maravilhosa, um cantinho especial do nosso já amigo Alfred.
Seguimos caminhando com destino ao mirante para poder ver Purmamarca de cima. No caminho aproveitamos para fazer parte da mandinga do diablito, que é pra ele ficar quietinho durante o ano, mas se soltar durante o carnaval (que esse ano acontece em fevereiro).
Chegando lá em cima pausa para tomar ar, sem esquecer que o ar é rarefeito. Toma um solzinho, curte um solzinho, tira fotinho e segue estrada.
A essa altura, já sentíamos fome e eu tava morrendo de vontade de provar as humaitas, uma comida típica andina feita de milho e com recheios variados. Tava muito boa.
Paramos nesse restaurante que também teve uma música ao vivo para dar uma animada no rolê e claro, um vinho gostosinho.
Para fechar o passeio a gente ia para o Bosque dos Cardones, nada mais é do que um lugar gigantesco cheio de cactos, de tamanhos e formatos diferentes,apesar de serem todos da mesma família.
Íamos em um lugar mais próximo da cidade, mas o Alfred resolveu seguir um pouco mais e nos levar em um gigantesco bosque dos Cardones. Foi inesquecível, o pôr do sol começou por ali e acabou mesmo na estrada.
Voltamos para Purmamarca e comemos hotel tomando um vinho para fechar a noite.
Dia 4 – Costa do Lipán e Salinas Grandes
Falar desse dia em Jujuy é fácil, já que eu acordei para realizar mais um sonho. Começamos com o pé na estrada e o passeio iniciou pela Costa do Lipan, uma estrada que é toda em ziguezague e considerada das mais bonitas do mundo e também das mais integradas à natureza, além de chegar a 4.200 metros de altitude.
A Cabaña Los Colorados e a Norterama desafiaram entaovah e suas super amigas pra fazer um downhill de bike pela Costa do Lipan até chegar em Salinas Grandes.
A estrutura era maravilhosa e a gente se sentiu super segura para fazer os 30 km de Costa, o nível de dificuldade é baixo já que é praticamente tudo uma descida.
O salar é uma imensidão branca e realmente impressiona, temos somente 3 salares no mundo, os outros ficam na Bolívia e no Chile.
Fizemos uma pausa pra comer uma frutinha e recarregar as energias para poder fazer os 16 km que nos faltava no salar, também de bike. Ali a dificuldade é um pouco mais alta e o terreno é bem instável por conta dos quadrados que formam na hora que o sal tá subindo lá debaixo da terra. Mas com força de vontade e animadas como nós estávamos, deu pra fazer tranquilo!
Conhecemos a extração manual, feita pelo homem do sal e também a extração natural. São lugares que você não consegue acreditar no que seus olhos estão vendo. Todo passeio tem que ser guiado, com guia local certificado. Infelizmente o salar não pode ser explorado da maneira que a gente adoraria, soltas por aí. Mas isso também é importante para preservação de um lugar tão perfeito feito pela Natureza. De qualquer maneira, a Norterama acabou nos dando um pouco mais de tempo no retorno e a gente pode curtir o salar um pouco mais. Esse passeio de bike realmente não é comum e você não vê a galera fazendo muito, mas pode acreditar, vale muito a pena!
A volta também seria pela Costa do Lipan e pela Ruta 52, eu tava muito feliz e agradecendo a Pachamama pela oportunidade de conhecer aquele lugar e aquela estrada maravilhosa. Como as coisas não param de melhorar, no caminho de volta avistamos um condor, que é o senhor dos Andes e é considerado imortal, símbolo de sabedoria e a maior sorte andina!
Voltamos direto para Purmamarca ansiando para descobrir cada pedaço de montanha de todas as janelas da Cabana los Colorados. Anote na sua agenda e não deixe de ir alguma vez na vida, é impressionante e os quartos são completamente integrados as montanhas e você não consegue dizer muito bem o que é hotel e o que é montanha. De dentro do quarto se consegue ver de todos os lugares um pedacinho de montanha.
O jantar foi na praça principal, no restaurante La Posta a comida era típica andina e a comida gostosa.
Dia 05 – Treking
Hoje eu acordei com café da manhã no quarto com vista para as montanhas para me preparar para o dia de treking mais intenso. A travessia de Tumbaya Grande até Purmamarca, subindo nuvens acima. Vamos à 2.900 metros de altitude e estaremos paralelos a Ruta 9 que vai até a Bolívia e é conhecida como o caminho de los contrabandistas.
Sebá, nosso montanhista de altura, acompanhado pelo Alfred nos levariam pelo caminho com sabedoria, segurança e diversão. Iríamos nos desafiar na caminhada que iria em alta altitude. A primeira hora é sempre a mais difícil, até que a gente se acostume com a subida e o ar rarefeito.
Estávamos em terras aborígenes, que são os nativos da região. Esse treking tem dificuldade moderada, sobre bastante e tem alguns pontos da subida em que os caminhos são estreitos. Algum tipo de conhecimento é importante para conseguir chegar até lá em cima. As paisagens são impressionantes e as cores são realmente infinitas, parece que quanto mais você sobe, mais coloridas as montanhas ficam.
Passamos também por uma pedreira no caminho, onde fizemos uma pausa pra comer uma banana e tomar água e seguir montanha acima.
A subida nos levou aproximadamente 2 horas e chegar no pico, a única vontade era sentir que fazia parte de toda aquela natureza. Ficamos um bom tempo relaxando e curtindo o pico. Almoçamos, brincamos de malabares, ouvimos música. Foi muito Importante esse tempo para relaxar e conseguir absorver tamanha beleza da natureza. Estar completamente no meio das montanhas é uma sensação que eu nunca mais vou esquecer e que realmente mudou minha vida.
Sebá (que já tinha me sacado) me dizia brincando, Patricia suba como uma velha, para poder descer como uma criança. Mas eu queria era sair correndo tanto na subida como na descida, mas nada como uma pessoa experiente para nos ensinar como fazer coisas que a gente está aprendendo!
Nada como estar com nativos que conhecem cada pedacinho daquela terra e a gente teve a oportunidade de aprender sobre a vegetação, os cactos que fazem parte da paisagem e sobre uma famosa pimentinha que eu trouxe pra casa pra moer.
Respeitando o tempo e o ritmo de cada uma, esperamos para nos reunir em uma caverna linda. Poder estar não só entre as montanhas, mas estar dentro de uma montanha, é uma sensação muito gostosa e que eu recomendo!
Missão cumprida, o dia caindo, era hora de voltar pra casa e nos despedir daquelas pessoas que me transformaram.
Paramos em um café que também é uma loja, que se chama Infinitas Possibilidades (essa não está no Google, mas é 2 minutos para cima do hotel, à direita). Uma loja incrível, com uma música incrível, naquele lugar tão pequenininho feito com tanto cuidado e com tanto carinho por duas pessoas maravilhosas. Jimena e Javier são donos do seu paraíso e nos enriqueceram com histórias e vivências de morar nesse pedaço do mundo.
Estávamos animadas pela noite na cidade, já que não tínhamos nos entregado à night ainda.
Vinho na varanda do hotel para o entardecer, antes de seguir para o restaurante La Diablada, com música nativa ao vivo e só nos animou. Fomos pro Don Heriberto, um bar. O lugar é vivo e local, cheio de pessoas querendo se divertir. Eu fiz a minha estreia nos palcos como cantora Jujeña e mandei “olha que coisa mais linda, mais cheia de Graça” à pedidos, e embriagada, voltei pra casa!
Dia 06 – Passeio do fim!
Hoje o entaovah acordou em Slow Motion, em Jujuy para aproveitar que o dia tinha nascido lindo pra curtir a interação com a natureza que o Cabana Los Colorados nos proporciona.
Café da manhã e um bom livro em boa companhia ao sol, na varanda no meio das montanhas. Tudo com muita calma antes de ir pra cidade aproveitar o último gole de Jujuy. Passeamos pela feira e por lojinhas até pararmos para almoçar. Fomos de comida andina para fechar viagem com tudo que eu queria, especialmente, as humaitas. Curtimos um almoço devagar!
Saímos dali e fomos para uma loja de charangos, o instrumento local que mais parece um cavaquinho ou um ukelele. O cara tocava de uma maneira impressionante!
Seguimos para tomar o nosso café predileto da cidade e comemos doces e tortas e claro, um expresso!
Fiz uma descoberta genial e trouxe história em forma de arte de volta pra casa. Kunza é um estúdio que trabalha com a menor interferência possível ao meio ambiente de dois artista de Jujuy, e o significado da palavra é um dos dialetos nativos da região. Levei pra casa o Yapu que é o Deus da abundância, que nesse caso tá vestido de diablito pro carnaval!
Seguimos passeando mais um pouco antes de voltar pra casa pro entardecer com a luz do sol batendo nas montanhas coloridas e a sensação de plenitude de mais um sonho realizado. Saímos para ver as estrelas no meio das montanhas a noite sem luz nenhuma a não ser a da própria lua e das estrelas.Acabamos levando um vinho!
Seguimos o baile e fomos comer uma pizza no também bar Entre amigos, cheio de locais mas também com um monte de gringo. Um bar onde toda a galera jovem se encontra, bom demais. Mais uma vez não resisti e a hora que eu fui ver já estava de novo nos palcos de Jujuy, dessa vez cantando Mama áfrica, de Chico César. Assim foi nossa despedida desse sonho de viagem.
No dia seguinte era pegar estrada e voltar pra São Paulo, com escala para comer um doce de leite em Buenos Aires.
Já foi pro lugar mais legal do Mundo? Entaovah!