Mapa revela os sabores da comida de rua mais amados do Brasil

Levantamento inédito mostra como pratos típicos carregam identidade e história de todas as regiões brasileiras

06/10/2025 12:35

A comida de rua no Brasil é mais do que uma opção acessível. É um elo cultural que atravessa gerações e regiões. Democrática por natureza, ela carrega os traços de cada povo, revelando sotaques, tradições e histórias de resistência em cada receita.

Para mapear esse universo tão rico e diverso, a Unilever Food Solutions realizou um levantamento dos pratos de rua mais emblemáticos do país, com curadoria do chef Vitor Tsuru, colaborador do relatório Menus do Futuro. O documento, publicado anualmente, identifica tendências que ajudam a orientar o mercado alimentício. Em 2025, uma das principais apostas é justamente a reinvenção da comida de rua, impulsionada pela Geração Z em busca de experiências gastronômicas com propósito.

Levantamento inédito mostra como pratos típicos carregam identidade e história de todas as regiões brasileiras
Levantamento inédito mostra como pratos típicos carregam identidade e história de todas as regiões brasileiras - BrazilPhotos/iStock

O apelo da comida de rua brasileira está na informalidade e na atmosfera acolhedora que ela oferece. É uma culinária que atrai públicos diversos, especialmente os mais jovens, que valorizam sabores autênticos e influências globais. Mais do que saciar a fome, ela cria conexões — entre pessoas, culturas e territórios. Cada cidade tem sua própria cena, moldada por ingredientes locais e práticas regionais, transformando calçadas, feiras e praças em espaços de convivência e troca.

Essa valorização crescente tem inspirado também o setor de food service. Restaurantes e operadores vêm incorporando receitas populares aos seus cardápios, resgatando tradições e adaptando-as a novos formatos. O resultado é uma fusão entre o clássico e o contemporâneo, que amplia o alcance da gastronomia brasileira e abre caminhos para inovação e rentabilidade.

Mapa revela os sabores da comida de rua mais amados do Brasil
Mapa revela os sabores da comida de rua mais amados do Brasil - Divulgação

A comida de rua, portanto, não é apenas uma tendência —é uma expressão viva da identidade nacional. E ao ganhar novos contornos, ela reafirma seu papel como patrimônio afetivo e cultural, capaz de se reinventar sem perder suas raízes.

As comidas de rua mais icônicas de cada região

O chef Vitor Tsuru selecionou alguns dos pratos mais amados no Brasil para inspirar quem busca incorporar a tendência dessa versão atualizada da comida de rua em sua cozinha. A curadoria do chef incluiu quitutes já bem conhecidos e queridos pelos brasileiros nas cinco regiões do país. No Norte, segundo ele, o tacacá é mais que uma sopa de tucupi, jambu e camarão: é ritual afetivo do fim de tarde, carregando sabores da floresta e simbolizando a resistência cultural do Pará.

Pirarucu de casaca é receita tradicional da Amazônia
Pirarucu de casaca é receita tradicional da Amazônia - iStock/BrazilPhotos

Outro clássico da região Norte é o pirarucu à casaca, mistura de peixe amazônico, farinha de mandioca e temperos nativos com influência portuguesa, presença garantida nas festas juninas. Também ganham destaque o pato no tucupi, ícone da tradição indígena sofisticada, e o x-caboquinho, sanduíche de tucumã e banana pacovã que se tornou patrimônio cultural de Manaus.

No Nordeste, o chef cita o acarajé das baianas de Salvador, que representa a fusão das tradições africanas com o paladar urbano, transformando o bolinho dourado de feijão-fradinho em símbolo de identidade e espiritualidade. “Das raízes africanas às esquinas de Salvador, o acarajé é mais do que comida: é história viva que se encontra no paladar”, lembra o chef.

O acarajé é facilmente encontrado nas ruas de Salvador
O acarajé é facilmente encontrado nas ruas de Salvador - GlauceRodrigues/iStock

A carne de sol também ocupa papel central no repertório nordestino, aparecendo em pratos como a paçoca ou o escondidinho, sempre associada ao sabor sertanejo e às festas populares. Outros ícones são a tapioca, de origem indígena e hoje estrela das feiras, e o cuscuz de milho, que acompanha desde o café da manhã até celebrações típicas.

Na região Centro-Oeste, o Cerrado se revela nos ingredientes que viram protagonistas nas ruas. A pamonha, feita com milho fresco, se reinventa em versões doces e salgadas, tratada pelos goianos como parte de sua identidade cultural. “Na tradição goiana, a pamonha não é só comida: é elo entre o campo e a cidade”, explica. O caldo de piranha, por sua vez, nasceu da pesca abundante do Pantanal e hoje é presença marcante nas cozinhas pantaneiras e nas paradas de estrada.

Arroz com pequi, uma das iguarias da culinária de Goiás
Arroz com pequi, uma das iguarias da culinária de Goiás

Na lista de imperdíveis da região Centro-Oeste também entram o arroz com pequi, prato emblemático de Goiás, e o empadão goiano, farto e recheado, estrela das festas e feiras locais.

No Sudeste, a região mais urbana do país, os clássicos de rua refletem a diversidade cultural. O pastel frito, nascido da influência europeia e disseminado pelos imigrantes asiáticos em São Paulo, tornou-se sinônimo de feira e símbolo da mistura de culturas. Já o cachorro-quente brasileiro ganhou fama pelo excesso criativo de recheios: purê de batata, milho, vinagrete, queijo e batata-palha. “O cachorro-quente brasileiro é único no mundo: cada mordida é um retrato da inventividade urbana”, comenta.

Boas opções de cachorro-quente em São Paulo, do clássico ao gourmet
Boas opções de cachorro-quente em São Paulo, do clássico ao gourmet - Divulgação (Hot Pork, Black Dog)

Vale destacar ainda o pão de queijo mineiro, que espalhou tradição pelo Brasil, o sanduíche de pernil das madrugadas paulistanas e a coxinha, salgado que é uma verdadeira paixão nacional.

Já no Sul, o churrasco gaúcho segue como um dos maiores ícones, preparado em fogo de chão e tratado como verdadeiro ritual de encontro e orgulho regional. Já o barreado, cozido lentamente em panela de barro até a carne desmanchar, conecta passado e presente no litoral paranaense, mantendo viva a herança açoriana das festas comunitárias.

O barreado é um prato tradicional e icónico do litoral do Paraná
O barreado é um prato tradicional e icónico do litoral do Paraná - Getty Images/iStockphoto

“O barreado é pura memória coletiva: nasceu nos mutirões e continua sendo celebrado até hoje”, afirma. Para completar, o arroz carreteiro, herança dos tropeiros, o xis gaúcho das lanchonetes e a carne de onça, patrimônio de Curitiba, mostram a diversidade do paladar sulista.