Mapa revela os sabores da comida de rua mais amados do Brasil
Levantamento inédito mostra como pratos típicos carregam identidade e história de todas as regiões brasileiras
A comida de rua no Brasil é mais do que uma opção acessível. É um elo cultural que atravessa gerações e regiões. Democrática por natureza, ela carrega os traços de cada povo, revelando sotaques, tradições e histórias de resistência em cada receita.
Para mapear esse universo tão rico e diverso, a Unilever Food Solutions realizou um levantamento dos pratos de rua mais emblemáticos do país, com curadoria do chef Vitor Tsuru, colaborador do relatório Menus do Futuro. O documento, publicado anualmente, identifica tendências que ajudam a orientar o mercado alimentício. Em 2025, uma das principais apostas é justamente a reinvenção da comida de rua, impulsionada pela Geração Z em busca de experiências gastronômicas com propósito.

O apelo da comida de rua brasileira está na informalidade e na atmosfera acolhedora que ela oferece. É uma culinária que atrai públicos diversos, especialmente os mais jovens, que valorizam sabores autênticos e influências globais. Mais do que saciar a fome, ela cria conexões — entre pessoas, culturas e territórios. Cada cidade tem sua própria cena, moldada por ingredientes locais e práticas regionais, transformando calçadas, feiras e praças em espaços de convivência e troca.
Essa valorização crescente tem inspirado também o setor de food service. Restaurantes e operadores vêm incorporando receitas populares aos seus cardápios, resgatando tradições e adaptando-as a novos formatos. O resultado é uma fusão entre o clássico e o contemporâneo, que amplia o alcance da gastronomia brasileira e abre caminhos para inovação e rentabilidade.

A comida de rua, portanto, não é apenas uma tendência —é uma expressão viva da identidade nacional. E ao ganhar novos contornos, ela reafirma seu papel como patrimônio afetivo e cultural, capaz de se reinventar sem perder suas raízes.
As comidas de rua mais icônicas de cada região
O chef Vitor Tsuru selecionou alguns dos pratos mais amados no Brasil para inspirar quem busca incorporar a tendência dessa versão atualizada da comida de rua em sua cozinha. A curadoria do chef incluiu quitutes já bem conhecidos e queridos pelos brasileiros nas cinco regiões do país. No Norte, segundo ele, o tacacá é mais que uma sopa de tucupi, jambu e camarão: é ritual afetivo do fim de tarde, carregando sabores da floresta e simbolizando a resistência cultural do Pará.

Outro clássico da região Norte é o pirarucu à casaca, mistura de peixe amazônico, farinha de mandioca e temperos nativos com influência portuguesa, presença garantida nas festas juninas. Também ganham destaque o pato no tucupi, ícone da tradição indígena sofisticada, e o x-caboquinho, sanduíche de tucumã e banana pacovã que se tornou patrimônio cultural de Manaus.
No Nordeste, o chef cita o acarajé das baianas de Salvador, que representa a fusão das tradições africanas com o paladar urbano, transformando o bolinho dourado de feijão-fradinho em símbolo de identidade e espiritualidade. “Das raízes africanas às esquinas de Salvador, o acarajé é mais do que comida: é história viva que se encontra no paladar”, lembra o chef.

A carne de sol também ocupa papel central no repertório nordestino, aparecendo em pratos como a paçoca ou o escondidinho, sempre associada ao sabor sertanejo e às festas populares. Outros ícones são a tapioca, de origem indígena e hoje estrela das feiras, e o cuscuz de milho, que acompanha desde o café da manhã até celebrações típicas.
Na região Centro-Oeste, o Cerrado se revela nos ingredientes que viram protagonistas nas ruas. A pamonha, feita com milho fresco, se reinventa em versões doces e salgadas, tratada pelos goianos como parte de sua identidade cultural. “Na tradição goiana, a pamonha não é só comida: é elo entre o campo e a cidade”, explica. O caldo de piranha, por sua vez, nasceu da pesca abundante do Pantanal e hoje é presença marcante nas cozinhas pantaneiras e nas paradas de estrada.

Na lista de imperdíveis da região Centro-Oeste também entram o arroz com pequi, prato emblemático de Goiás, e o empadão goiano, farto e recheado, estrela das festas e feiras locais.
No Sudeste, a região mais urbana do país, os clássicos de rua refletem a diversidade cultural. O pastel frito, nascido da influência europeia e disseminado pelos imigrantes asiáticos em São Paulo, tornou-se sinônimo de feira e símbolo da mistura de culturas. Já o cachorro-quente brasileiro ganhou fama pelo excesso criativo de recheios: purê de batata, milho, vinagrete, queijo e batata-palha. “O cachorro-quente brasileiro é único no mundo: cada mordida é um retrato da inventividade urbana”, comenta.

Vale destacar ainda o pão de queijo mineiro, que espalhou tradição pelo Brasil, o sanduíche de pernil das madrugadas paulistanas e a coxinha, salgado que é uma verdadeira paixão nacional.
Já no Sul, o churrasco gaúcho segue como um dos maiores ícones, preparado em fogo de chão e tratado como verdadeiro ritual de encontro e orgulho regional. Já o barreado, cozido lentamente em panela de barro até a carne desmanchar, conecta passado e presente no litoral paranaense, mantendo viva a herança açoriana das festas comunitárias.

“O barreado é pura memória coletiva: nasceu nos mutirões e continua sendo celebrado até hoje”, afirma. Para completar, o arroz carreteiro, herança dos tropeiros, o xis gaúcho das lanchonetes e a carne de onça, patrimônio de Curitiba, mostram a diversidade do paladar sulista.