Mesmo com limitações respiratórias, professora viaja o mundo
De vez em quando vejo histórias legais na página. E pensei que talvez tivesse uma para dividir com vocês. Eu não, a Marina, minha mulher.
A Marina tem uma cardiopatia congênita: ela nasceu sem a artéria que liga o coração ao pulmão (a tronco-pulmonar). O problema é que na época os médicos não identificaram isso. E quando finalmente descobriram, aos 7 anos, viram que ela tinha pulmões de recém-nascido, praticamente.
Ela fez uma cirurgia nessa época e outra aos 14 para inflar o pulmão “na marra”, encher de sangue e fazer ele crescer o que não tinha crescido até ali. E avisaram que um dia o pulmão cobraria a conta do “bombeamento” forçado de sangue.
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Mesmo com altos e baixos, Marina conseguiu levar a vida, fazer duas faculdades e virou professora pública. Até que em 2006 a conta dos pulmões chegou e ela desenvolveu também uma hipertensão pulmonar. O que foi tirando um pouco da sua qualidade de vida.
Depois de alguns anos dando aula na teimosia, ela se rendeu aos apelos do médico e decidiu poupar a saúde. Por isso está em processo de aposentadoria (por invalidez), e está afastada. Os médicos fizeram um cateterismo esse ano, mas não conseguiram fazer nada que melhorasse sua condição.
Aí vem a parte legal da história. Tem algo que ela ainda consegue fazer, que é passear, mesmo com todas as dificuldades.
Então, decidimos criar um canal de viagens no YouTube. Ele se chama “Não Viaja, Marina”, porque apesar de conseguir viajar, não é algo muito recomendado para alguém na condição dela. Para que ela consiga, a gente vai devagar, no ritmo dela, geralmente pegamos táxi, e visitamos menos pontos que as pessoas “normais”. Ela não consegue andar distâncias médias e longas. E subir escadas e rampas é bem complicado. Mas isso não deixa as viagens menos divertidas.
Compramos um concentrador de oxigênio portátil e eu o carrego nas costas. A gente o apelidou de “Arlindo”. E é graças a ele que ela consegue sair de casa (em casa ela tem oxigênio fornecido pela Prefeitura de São Paulo, em um programa médico que atende pessoas que precisam de O2).
A intenção com o canal é inspirar outras pessoas a conhecerem o mundo, mesmo diante de uma dificuldade. Ou poder mostrar o mundo para aqueles que não podem sair de jeito nenhum. Sempre contando um pouco da história da Marina em cada episódio. Ela sempre foi muito bem-humorada e enfrentou o problema dela de um jeito leve, fazendo piada, etc. E a gente tenta refletir essa personalidade nos vídeos.
No canal produzimos uma série caseira chamada “O Incrível Livro de Viagens”. E também dois vlogs, um com algo legal que a Marina encontra pelo caminho e outro de comida. Tudo feito com nossa câmera mesmo., por nós dois. E o áudio é gravado no celular. A caligrafia da capa do livro, dos lugares, tudo, também é nossa. Abertura, encerramento, posts no Instagram e no Facebook, tudo feito a mão.
Confira os vídeos no canal Não Viaja, Marina!
Relato por Rodrigo Resende