Mulheres que viajam sozinhas: histórias para conhecer e se inspirar
Conheça e inspire-se na história dessas mulheres que já viajaram sozinhas para diversos países
O hábito de viajar sozinha tem ganhando força entre as mulheres. Os números mostram que, ao longo dos anos, elas têm optado cada vez mais por se aventurar em viagens sem companhia.
Um levantamento feito pela empresa MaxMilhas, mostra que em 2019 houve um aumento de 8% no número de mulheres que compraram voos sem acompanhante.
Esse movimento é corroborado por uma pesquisa do MTur (Ministério do Turismo), que aponta que o porcentual de mulheres que desejam viajar sozinhas (17,8%) é maior do que o de homens que desejam fazer o mesmo (11,8%).
- Entenda os sintomas da pressão alta e evite problemas cardíacos
- USP abre vagas em 16 cursos gratuitos de ‘intercâmbio’
- Psoríase: estudo revela novo possível fator causal da doença de pele
- Escovar os dentes ajuda a prevenir grave doença, revela Harvard
Porém, em comparação ao resto do mundo, esse índice ainda é baixo. Uma pesquisa realizada pela British Airways, batizada de “(Don’t) Come Fly With Me“, mostrou que, no mundo todo, 50% das mulheres estão optando por viajar sem acompanhante. Ou sejam, trata-se de um hábito mais recorrente mundo afora.
Porém, partir para uma viagem solo nem sempre é uma tarefa fácil para mulheres, o que acaba desencorajando muitas a fazê-lo. Ainda há muito receio, uma vez que explorar o mundo sozinha pode significar correr riscos, devido à cultura machista disseminada em muitos países do globo.
Para inspirar e incentivar quem deseja embarcar solo, separamos histórias de algumas mulheres com dicas que podem ser o empurrãozinho que faltava para tirar a viagem –seja curta ou longa – do papel.
Assédio e outras violências
A jornalista Kívia Costa, 33 anos, tem o hábito de viajar sozinha e já conheceu 70 países. Para ela, uma das grandes preocupações da mulher que viaja sozinha é o assédio.
Kívia é uma das diversas viajantes que já sentiu na pele a dificuldade de transitar sozinha pelos lugares. “Sempre tem assédio. Na América Latina é particularmente preocupante, sobretudo no Caribe. No leste e centro da Europa o machismo também é bem forte”, afirma.
A historiadora da arte, Laís Daflon, de 28 anos, relata que o assédio foi um problema em alguns dos destinos visitados.
“Onde mais senti isso foi em Roma. Havia homens que puxavam assunto ou faziam algum comentário e, se eu ignorasse, continuavam falando e até me seguindo”, afirma a jovem, que já esteve em países como Tailândia, Camboja e Singapura.
“No Peru também ocorria bastante de ouvir cantadas insistentes na rua, mesmo estando em grupo”, completa.
Já Patrícia Matos, tradutora e doutoranda em Comunicação, 34 anos, teve uma experiência diferente: “nunca sofri assédio em nenhum local que visitei, só onde moro, no Rio de Janeiro”.
No entanto, para além do assédio, o machismo pode transparecer sob outras formas.
O sexismo por exemplo, pode se manifestar quando tentam impedir uma mulher de fazer algo, sem justificativa além do gênero ou quando há um entendimento de que a viajante não será capaz de fazer alguma atividade que um homem conseguiria.
Kívia diz que isso é uma realidade quando se está sozinha em outro lugar do mundo. “Muitos desconhecidos tentam me impedir de fazer algo porque aquilo ‘é perigoso para uma mulher’. Também há questionamentos constantes sobre onde está meu marido, meu namorado, meu pai… Enfim, onde está o homem”, afirma a jornalista.
Laís viveu experiência parecida. “Me perguntaram algumas vezes se meus pais tinham me deixado viajar, mas eu não precisava pedir a permissão deles. Talvez essa pergunta não fosse feita a um homem da minha família”, reflete.
Apesar de conseguir ter lidado bem com o machismo em viagens mundo afora, Patrícia ainda tem receio de viajar para alguns destinos específicos.
“A única coisa que realmente deixo de fazer por ser mulher e ainda não ter companhia é viajar para países reconhecidamente mais difíceis para mulheres, como o Marrocos, que é um sonho que tenho”, lamenta a tradutora.
A desconfiança de Patrícia tem razão de ser, de acordo com o site internacional sobre viagens Asher Fergusoon & Lyric. O veículo levantou dados de diversos países sobre desigualdade de gênero, a fim de enumerar destinos que seriam mais perigosos para as mulheres que viajam sozinhas. Na lista, o Marrocos aparece como a oitava pior nação para uma mulher visitar só.
A pesquisa leva em conta índices de feminicídio, ocorrências de estupros e a porcentagem de mulheres que se sentem confortáveis andando sozinhas na rua em seus próprios países.
Apesar de muitas mulheres temerem territórios mais longínquos, o Brasil figura na lista como segundo pior país do mundo para receber mulheres viajantes. O número, provavelmente é impulsionado pela taxa alarmante de feminicídio no país: a quinta maior do mundo, com uma média de 4,8 assassinatos para cada 100 mil mulheres, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Por outro lado, os países considerados mais seguros para mulheres que viajam sozinhas foram a Espanha, Singapura, Irlanda, Áustria e Suíça respectivamente.
Por que viajar sozinha?
Para muitas mulheres, tomar a decisão de viajar sozinha é um processo complicado. Mas, para essas três viajantes, a escolha veio da forma mais tranquila possível.
Kívia, que realizou o desejo de dar a volta ao mundo entre 2013 e 2014, relembra que encarou todo o processo com naturalidade. “Era um sonho antigo e sempre via minha mãe viajando sozinha, achava isso muito normal”, afirma.
Laís decidiu voar sem companhia depois de acompanhar várias histórias de pessoas que viajavam sozinhas em fóruns virtuais. Porém, a jovem admite que essa escolha chocou algumas pessoas que conhecia.
“Ouvi muitas perguntas sobre minha coragem. As pessoas ficavam chocadas e diziam que nunca teriam a mesma coragem ou que achavam que não iriam gostar da experiência”, relembra.
Viajar sozinha pode garantir uma experiência enriquecedora. Além de ser mais fácil planejar a viagem -visto que não é preciso conciliar agendas e gostos para comprar a passagem aérea- a vivência do destino pode ser mais completa, pois é preciso estar mais atenta aos detalhes, se informar bem sobre o que fazer e como chegar.
Outros benefícios são a possibilidade de conhecer pessoas novas e o amadurecimento. Afinal, especialmente em viagens longas, é preciso tomar decisões e fazer acompanhamento do orçamento.
Patrícia tinha certeza de sua vontade de viajar sozinha desde cedo. “Nunca considerei viajar de outra forma. Valorizo muito minha independência e a minha liberdade, difícil pra mim é viajar com outras pessoas, ter que conciliar planos e expectativas”, afirma a tradutora.
Dicas para as viajantes solo
Além de escolher um destino que passe segurança, uma boa dica é procurar outras mulheres que já passaram por essa experiência, para conhecer um pouco mais sobre sua vivência.
Se for o caso de não conhecer ninguém pessoalmente, há fóruns digitais destinados para isso.
“Existem muitos grupos online para falar sobre o assunto, com dicas de hospedagem, indicações de lugares mais seguros, além de haver mulheres combinando de se encontrar em alguma cidade”, indica Laís.
Quando se opta por serviços como o Airbnb, por exemplo, um passo essencial é checar várias vezes as referências e avaliações sobre a hospedagem e o hóspede.
Se a mulher for viajar sozinha pela primeira vez e pretende se hospedar em um hostel, procurar locais que disponibilizem quartos exclusivamente femininos pode ser uma boa ideia. Eles costumam ser um pouco mais caros do que os mistos mas podem ajudar muito no sentimento de confiança da viajante.
Seguem outras dicas para viajar sozinha que podem ser bastante úteis:
Bagagem leve: como será preciso monitorar a mala a todo momento, inclusive indo com ela a locais como o banheiro, carregar muito peso pode atrapalhar bastante. Nesse caso, vale considerar levar a boa e velha mochila.
Informação salva: logo ao chegar ao destino, vale checar com o hotel se há pontos da cidade perigosos para andar sozinha. Na rua, priorizar famílias, mulheres e funcionários de lojas e restaurantes ao pedir informação é mais seguro.
Mantenha-se conectada: é essencial ter em mãos contatos de emergência e da embaixada, caso a viagem seja para outro país.
“Não dá pra ser ingênua e é sempre bom estar atenta, mas deixar de viajar por medo definitivamente não é a solução”, afirma Patrícia, que lança mão de aplicativos e grupos digitais, como o ‘Couchsurfing das Minas’, para buscar hospedagem entre mulheres.
“Tem mais gente boa do que ruim no mundo e durante minhas viagens sempre fui muito bem acolhida por todos”, conclui otimista.