Projeto leva jovens estrangeiros para mochilar pelo Egito

26/02/2018 00:12 / Atualizado em 05/05/2020 09:53

O Egito é um país conhecido, entre outros, por seus sítios históricos, alguns com mais de 5 mil anos de idade, pirâmides, faraós e camelos. Porém, a partir de 2011, esse cenário mudou e o país passou a ser manchete nas grandes mídias devido a crises políticas e ataques terroristas. Um grupo de estudantes, com o objetivo de combater essa visão, criou o Backpacking Egypt, projeto que, a cada semestre, reúne jovens estudantes, de 18 a 30 anos, de várias nacionalidades, que viajam pelo país mostrando todo o esplendor egípcio.

Pôr-do-sol no Cairo. Ao fundo, a Cidadela de Saladino
Pôr-do-sol no Cairo. Ao fundo, a Cidadela de Saladino

Participei da última edição, que aconteceu de 1º de janeiro até 15 de fevereiro, juntamente com mais seis brasileiros e 23 outros jovens, do Chile à Malásia. Ao chegar no Cairo, no dia 26 de dezembro, não sabia muito bem o que esperar dessa empreitada, principalmente a 10 mil quilômetros de casa e em um país de língua majoritariamente árabe. A cidade, porém, é extremamente bela em suas exoticidades – por exemplo, descobrimos que a maioria dos prédios não é finalizada pois, se estiverem prontos, o governo cobrará impostos. Resultado: faltam os últimos andares, pintura de fachadas, etc… Porém, ao contrário do que possa parecer, é um fator cultural que torna conhecer a cidade ainda mais atrativo!

Vista do Cairo Velho em Bab Zuweila
Vista do Cairo Velho em Bab Zuweila

Tivemos duas semanas no Cairo antes de viajar ao redor do Egito. Pudemos conhecer o imponente Nilo, que, além de embelezar a cidade, apresenta diversos atrativos noturnos. À noite, costumávamos ir em felucas, pequenos barcos que navegam pelo Nilo, baratos e que permitem belas visões noturnas dos prédios à beira do rio. Outro lugar que vale a pena ser conhecido é o Museu Egípcio, no coração da cidade, que possui peças magníficas da história egípcia de mais de 4 mil anos, desde a época das primeiras dinastias faraônicas até a presença greco-romana no território. É gigante, e vale a pena tirar pelo menos um dia para conhecê-lo por inteiro!

Margens do rio Nilo, no Cairo
Margens do rio Nilo, no Cairo

Um dos pontos altos das primeiras semanas foi conhecer as famosas pirâmides egípcias, que dispensam apresentações. O que a maioria das pessoas não sabe é que, além das Pirâmides de Gizé – as mais famosas – há ainda dois outros complexos de pirâmides, relativamente perto do Cairo: as Pirâmides de Dahshur, de cerca de 4500 anos de idade, e a Pirâmide de Saqqara, de 4.600 anos.

É interessante refletir que essas estruturas, ainda muito bem-conservadas, são parte da história antiga não só do Egito, mas também da humanidade. Pudemos ter a experiência de entrar dentro da Pirâmide Vermelha, em Dahshur, e definitivamente não é algo para claustrofóbicos! O lugar, porém, é lindo e merece ser conhecido por inteiro.

Fachada do Museu Egípcio, no Cairo
Fachada do Museu Egípcio, no Cairo

Já a visita às Grandes Pirâmides de Gizé foi como um sonho sendo realizado. O complexo é relativamente grande, mas dá para conhecê-lo por inteiro a pé ou de camelo. Uma dica: é sempre recomendável ir com guias, pois os egípcios costumam ser bem chatos na hora de oferecer seus produtos –e cobram por absolutamente tudo, incluindo fotos com eles! Fomos com o apoio de um guia credenciado e não tivemos maiores problemas com o assédio dos vendedores.

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Pirâmide de Saqqara
Pirâmide de Saqqara

De resto, aproveitamos o momento para conhecer a Esfinge e as três pirâmides (incluindo tentar escalar Quéops!). Um ponto interessante foi perceber barcos perto das pirâmides –os egípcios acreditavam que, depois da morte, o Rei navegaria ao lado do Rei-Sol.

Além dos museus, da arquitetura da cidade e das pirâmides, outro ponto que me marcou durante a viagem foi a culinária egípcia! Esperei que fosse demorar mais para me acostumar com os sabores e temperos, mas já estava perfeitamente adaptado no primeiro dia. Durante o período, comemos pratos como o Koshary, uma mistura de arroz e 3 tipos diferentes de macarrão com molho de tomate, grão-de-bico, lentilhas e, recomenda-se, um molho picante. O melhor restaurante para provar essa iguaria é, sem dúvida, o Abou Tarek, no centro do Cairo, que inclusive foi o único restaurante do Egito a aparecer na CNN, segundo os locais.

As pirâmides
As pirâmides

Há ainda o shawarma, conhecido por “churrasco grego” no Brasil, delicioso, prático e incrivelmente barato – é basicamente um sanduíche, de frango ou carne assados lentamente fora das lanchonetes, com vegetais e temperos; o falafel, um bolinho frito de grão-de-bico ou feijão; a fetira, pizza egípcia que, na minha opinião, é uma mistura de pizza italiana com folhado, com recheios variados; e, por último, o ful, um tipo de feijão apimentado, que lembra muito o tutu mineiro e é consumido no café da manhã. É difícil eleger um preferido com tantas opções boas!

Koshary no Abou Tarek, Cairo
Koshary no Abou Tarek, Cairo

Antes de fazermos a viagem principal do projeto, passamos 2 dias em Alexandria, a 200 km do Cairo. Conhecemos a Biblioteca Alexandrina, um enorme local que abarca não só milhares de livros, mas um museu, exposições, auditórios e centros multimídia –apresenta a maior coleção de livros da África e a maior coleção de livros em francês do mundo árabe! Logo após, fomos no que, pra mim, é um dos lugares mais lindos de todo o Egito: a Cidadela de Qaitbay, um forte do século 15 à beira do Mar Mediterrâneo que mescla a arquitetura árabe da Idade Média com vistas incríveis tanto do mar, quanto da cidade! Algo que me marcou muito durante a viagem foi tirar alguns minutos para poder sentar, sobre o forte, e admirar a paisagem.

Cidadela de Qaitbay, um forte do século XV à beira do Mar Mediterrâneo
Cidadela de Qaitbay, um forte do século XV à beira do Mar Mediterrâneo

Os dias se seguiram e, finalmente, começou o mochilão pelo Egito –oito cidades em 15 dias! Iniciamos em Luxor, cidade de templos muito bem preservados e de história riquíssima. Lá, é possível, tanto no templo de Luxor quanto no templo de Karnak, identificar as cores originais das pinturas dos locais, mesmo depois de mais de 4 mil anos. Além disso, a cidade possui um dos melhores pontos de balonismo do Egito e do mundo –andar de balão em Luxor, em minha opinião, é, além de emocionante, algo obrigatório em qualquer viagem para o Egito.

Vista da Cidadela de Qaitbay
Vista da Cidadela de Qaitbay

Após ficarmos 2 dias em Luxor, seguimos viagem para Assuã, a 225 km de distância. O ponto alto da cidade é o vilarejo núbio, de população bastante antiga, que remonta a 3.000 a.C. Pudemos nos hospedar nas casas do povo núbio, onde fomos super bem acolhidos.

Templo de Luxor
Templo de Luxor

Na cidade, há o Museu Núbio, que conta a magnífica história do povo local, e o templo de Ísis, à beira do Nilo, que me impressionaram pela imponência e importância histórica. Por fim, nossa última atividade na região foi conhecer o Templo de Abu Simbel, um dos mais importantes do Egito e localizado a cerca de 3 horas de Assuã.

Vista de Balão em Luxor
Vista de Balão em Luxor

Continuamos para Marsa Alam, a qual foi provavelmente um dos nossos melhores destinos da viagem –principalmente por ter sido a primeira cidade litorânea da viagem. Pudemos conhecer Alnayzak, um lago natural formado pela queda de um meteoro, e Qulaan Bay, onde há uma árvore no meio do mar –quase poético. O litoral possui águas transparentes e calmas, perfeitas para descansar e prosseguir viagem.

Vilarejo Núbio
Vilarejo Núbio

O quarto destino do projeto foi Hurghada. Ficamos somente 1 dia na cidade, mas suficiente para fazer snorkeling no Mar Vermelho e observar a rica vida marinha do local –peixes, corais, anêmonas… foi perfeito! Um dos meus lugares preferidos e revigorantes!

Templo de Abu Simbel
Templo de Abu Simbel

Finalmente, rumamos a St. Catherine para escalar o Monte Sinai, lugar onde diversas religiões acreditam que Moisés recebeu a placa dos Dez Mandamentos de Deus. Iniciamos a subida, de cerca de 3 km, no início da tarde, e tivemos algumas dificuldades ao longo do percurso. Além do esforço físico realizado, a temperatura, que chegou à sensação térmica de -12ºC no topo, e o nível de oxigênio, que diminuiu consideravelmente devido à altitude, também foram obstáculos bastante relevantes. Finalmente, conseguimos, após 5 horas, subir o Monte Sinai.

Alnayzak, Marsa Alam
Alnayzak, Marsa Alam

Ficamos lá até o nascer do sol; sem dúvida, um dos melhores que eu já vi na vida! Uma mistura de fé, felicidade por ter conseguido cumprir meu objetivo e não acreditar na visão que eu tinha à minha frente. Descemos, após o café da manhã, e prosseguimos para Dahab, nosso último destino de viagem do Backpacking.

Dahab foi a cidade mais movimentada e inesperada do projeto. Possui em torno de 10.000 habitantes e significa “ouro”, em árabe – não à toa. No projeto, passamos 4 dias incríveis, fazendo atividades como snorkeling –no Blue Hole, um dos pontos de mergulho mais lindos (e perigosos) do mundo, trilhas em cânions surpreendentes, escaladas, passeios em jipes no meio do deserto, mergulho e quadriciclo pela cidade. Mais que me mostrar suas belezas naturais, Dahab me ensinou a superar meus limites.

Chegando ao fim da viagem, e, logo, voltando para o Brasil, pude perceber o quanto o Egito é um país incrível! É, sim, mais do que pirâmides, do que camelos, do que faraós. É mais do que um litoral de águas cristalinas, um monte desafiador ou comidas saborosas. Porque é tudo em um só. E, definitivamente, vale a pena ser conhecido, desfrutado e admirado.

Para mais fotos e vídeos do projeto, segue lá no Facebook! Backpacking Egypt

Relato por Bruno Volpini