Puerto Madryn: turismo com baleias e vista deslumbrante na Patagônia argentina
Destino ainda pouco explorado pelos brasileiros é local privilegiado para observação de pertinho da agitada e encantadora vida marinha
Uma cidadezinha simpática e calma, cheia de casinhas que parecem ter sido desenhadas com pincel. De frente a elas, um mar intensamente azul sem ondas, o protagonista local. Só esse cenário já valeria a viagem, mas Puerto Madryn, na Patagônia argentina, oferece muito mais que isso.
No imaginário de muitos, a Patagônia aparece com com suas geleiras brancas rodeadas por floresta verde, mas raramente associada ao mar. No entanto, nesta parte da Patagônia, o cenário é outro: um deserto semiárido e uma vasta extensão de costa, que se estende ao longo da província de Chubut.
Lá, a agitada vida marinha atrai turistas o ano todo. Em sua maioria, os chilenos, europeus e norte-americanos.Ainda é discreta a presença de brasileiros, que costumam visitar mais frequentemente El Calafate e Ushuaia, no sul da Patagônia.
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Puerto Madryn é o paraíso das baleias da espécie franco-austral. Elas são, sem dúvida, o ponto alto da região. A espécie é muito inteligente, sociável e apresenta um comportamento amigável. E elas são enormes, podem chegar a 17 metros de comprimento e pesar até 60 toneladas.
É possível observá-las a partir da principal praia da cidade durante os primeiros meses da temporada, que começa em junho. Em um passeio pela orla, você já corre o risco de ver esse grande mamífero nadando ou esguichando. É muito comum almoçar nos restaurantes de frente ao mar enquanto vê baleias nadando tranquilamente.
Em 2021, o fotógrafo Maxi Jonas, que mora em Puerto Madryn, filmou com seu drone o encontro de duas baleias com uma banhista argentina que praticava stand up paddle. As imagens correram o mundo.
Impressiona a delicadeza da interação, apesar das muitas toneladas do animal.
A cidade de Puerto Madryn também é porta de entrada para a Península Valdés, um santuário ecológico de 400 km de litoral no sul do Atlântico, declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO em 1999.
Um lugar cuja a atração principal é sua fauna de leões-marinhos, elefantes-marinhos, pinguins, orcas e as baleias.
Estivemos em Madryn no início de novembro para uma incursão por sua biodiversidade, no maior estilo ‘National Geographic’.
A preservação e o respeito com os animais torna possível o contato próximo com espécies que costumamos ver somente pela TV ou por fotos.
Se você gosta de viagem com natureza selvagem e aventura, Puerto Madryn é um destino para colocar nos seus planos.
Veja o que incluir no seu roteiro ao planejar uma viagem pra lá.
Falésias com cenário de filme e leões-marinhos
A cerca de 17 km da cidade de Puerto Madryn, se encontra uma área natural com mirante em uma falésia com vista para o Golfo Nuevo. É a reserva de Punta Loma.
De lá de cima, é possível observar leões-marinhos tomando sol sossegados de frente para o mar e a colônia barulhenta de corvos-marinhos, um pássaro conhecido como cormorão.
A paisagem é linda, vários tons de azul!
Espetáculo de baleias na Península Valdés
A cerca de 100 km de Puerto Madryn, uma estrada de linha reta e de cascalho leva à Península Valdés, berçário das baleias francas.
Entre meados de junho e novembro, elas chegam para se acasalar e dar à luz suas crias. São atraídas pelas águas mais calmas e mais quentes do que em outras áreas oceânicas.
Os meses mais favoráveis para observação de baleias são setembro, outubro e novembro, mas é possível avistá-las de forma mais geral a partir de julho.
A Península Valdés é o local onde as chances de avistá-las de perto são maiores que em qualquer outro lugar do mundo.
Há excursões de um dia para lá, saindo de Puerto Madryn. Mas também dá para alugar um carro por conta própria e ir. É cobrada taxa de entrada à Península, que custa 7.500 pesos (cerca de R$ 45).
O caminho para lá é difícil de descrever de TÃO lindo! São paisagens de fazer a gente querer fotografar a cada 5 minutos.
No trajeto, a riquíssima fauna vai se apresentando, em especial as famílias de guanacos, uns bichinhos bem simpáticos, primos dos camelos.
Cerca de 1 hora depois de estrada, chega-se à cidadezinha de Puerto Pirámides, a única da Península Valdés. O povoado é pequeno, mas tem restaurantes, bares, hotéis e empresas de avistamento de baleias.
O passeio de barco para ver as baleias custa 46 mil pesos (cerca de R$ 270).
Assim que a embarcação deixa a praia, o frio na barriga vem! Afinal, dali a poucos minutos, com sorte, você pode ficar frente a frente com uma gigante dessa.
Em determinado ponto, o barco para, desligam-se os motores e todos ficam à espera delas. Uma nadadeira ali, um esguicho aqui e elas vão aparecendo para o encontro.
O barco não a persegue. A ideia é deixar que elas se aproximem.
Mas é preciso trabalhar a expectativa.
O guia avisa antes de partirmos para a expedição que não é possível garantir que elas pulem, mostrem o rabo ou se aproximem a poucos metros do barco. Há sobretudo respeito pelo comportamento natural desses animais.
Mas curiosas que são, algumas chegam bem perto e nadam com seus filhotes em um balé que deixa qualquer um em estado de encantamento.
Durante a observação, os guias vão explicando sobre seus comportamentos e características.
A baleia franca é um animal relativamente fácil de identificar. Ela possui calosidades na cabeça, que são únicas, é como se fossem a impressão digital delas.
Essas calosidades são acinzentadas, mas parecem brancas por conta da vasta colônia de ciamídeos, conhecidos como piolhos de baleias. Eles vivem ali e acompanham a baleia franca por toda sua vida.
O esguicho das baleias francas é bastante característico, em forma de “V”. É resultante do ar quente expelido do pulmão que, ao encontrar o frio da atmosfera, condensa-se, criando uma nuvem de gotas de água.
Elas parecem ser muito consciente do seu tamanho. Ao interagir com os barcos, a impressão que passam é que limitam seu comportamento para evitar qualquer susto ou acidente.
O passeio para observação das baleias dura cerca de 1 hora e meia, mas a gente fica com vontade de ficar ali um pouco mais.
Caleta Valdés
Na costa leste da península fica um acidente geográfico formando uma pequena península. É a Caleta Valdés, que abriga uma grande colônia de lobos-marinhos e leões-marinhos.
Do alto de mirantes, é possível avistar esse animais estirados em grupos ou isolados.
Com sorte, de setembro a abril, você também pode chegar a ver orcas encalhando na areia propositalmente, na tentativa de comer um leão-marinho distraído.
Reserva de pinguins na Estancia San Lorenzo
A próxima parada é a Estancia San Lorenzo, uma fazenda patagônica dentro da Península Valdés, que guarda uma reserva com a maior colônia de pinguins de Magalhães do mundo.
É lá, com o mar ao fundo, que eles chocam seus ovos em tocas cavadas no chão. O interessante é que você pode percorrer uma trilha em meio a essas tocas e ficar a poucos palmos de distância deles.
Após décadas de preservação, eles entenderam que o ser humano ali não representa uma ameaça para eles. Por isso, andam no meio das visitas e dormem sem se importar com as presenças.
Mas é preciso cuidado para não correr o risco de pisar nos ninhos e quebrar ovos ou machucar os pinguins.
A população dessas aves chega a ultrapassar os 400 mil exemplares, e pode ser avistada entre os meses de setembro a março.
Mergulho com lobos-marinhos
Madryn possui 11 áreas protegidas onde a preservação da biodiversidade se encontra em harmonia com a civilização.
É considerada o melhor ponto da Argentina para se fazer mergulho. São 24 parques submarinos preparados para incursões mar adentro.
Há ainda opção de fazer snorkel com lobos-marinhos. Curiosos, eles chegam pertinho para um selfie.
No momento em que visitamos a cidade, no entanto, essa atividade estava suspensa por conta da epidemia de gripe aviária, que causou muitas mortes da espécie ao longo da costa argentina.
Astroturismo
Deixando a vida marinha de lado, o céu pode ser protagonista em uma excursão para descobrir as constelações, os planetas e as estrelas.
Na fazenda San Guillermo, a 8 km do centro de Puerto Madryn, se pratica o turismo astronômico, que tem crescido na Argentina.
Infelizmente, não houve tempo para essa vivência, mas deu para imaginar que presenciar dali uma superlua, uma chuva de meteoros ou um cometa, deve valer a pena.
Como chegar a Puerto Madryn?
O melhor jeito de chegar é via Buenos Aires. Voei pela Flybondi, companhia aérea argentina de baixo custo, saindo de São Paulo.
A aérea possui 3 rotas entre o Brasil e Buenos Aires. Os voos saem de São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis, com tarifas a partir de R$ 424, dependendo do mês.
É importante saber que por ser uma empresa low coast, em rotas internacionais, não é oferecido lanche. A ideia é reduzir ao máximo os custos operacionais para baratear as tarifas. Já em rotas domésticas, há possibilidade de comprar lanches e bebidas.
De Buenos Aires a Puerto Madryn são duas horinhas de voo. A Flybondi também opera esse trecho com voos diários.
Em que época do ano ir?
A melhor época para ir a Puerto Madryn depende do que mais deseja ver. Pode-se dizer que entre os meses de setembro e início de dezembro é o período em que se consegue ver um pouco de tudo: baleias, pinguins, lobos marinhos e — com sorte— orca.
Onde ficar?
Puerto Madryn conta com uma ampla oferta de hotéis e pousadas de 1 a 5 estrelas.
O hotel Rayentray é um dos que estão localizados de frente para o mar, possui uma vista lindíssima da cidade e fica a cerca de 20 minutos a pé do centro. Tem um café da manhã bem farto e delicioso!
Se a ideia é fazer um roteiro mais econômico, há também albergues e opções de camping e Airbnb na cidade.
Dicas
- Leve um bom casaco! Mesmo que a previsão indique uma temperatura alta durante sua estadia, o vento forte é quase uma constante. (Não o subestime!)
- Vista-se em camadas. Vá com roupa leve por baixo para os passeios durante o dia, mas esteja sempre preparado para se adaptar às várias condições atmosféricas.
- Não deixe de conhecer o ateliê Julia Chocolates, no centro de Puerto Madryn. Os doces são verdadeiras obras de arte, além de deliciosos! O chocolate em formato de baleia é uma ótima lembrança da Patagônia.
- Se possível, fique pelo menos 4 dias em Puerto Madryn para poder fazer os passeios com calma.
- A cidade de Puerto Madryn conta com inúmeras agências de turismo autorizadas que oferecem serviços de excursões aos diversos atrativos com guias bilíngues. Procure por uma quando chegar à cidade ou informe-se no seu hotel.
A repórter viajou a convite do Instituto Nacional de Promoção Turística (INRPOTUR) da Argentina.