‘Retiro office’, uma experiência de viagem e isolamento
Cátia Noronha, do blog Todas as Mães em Viagem, fez um relato de sua experiência no turismo de isolamento de maneira segura e respeitosa
Trabalho remoto, adaptação de rotina (e cômodos) em casa e homeschooling são alguns do termos bem presentes nas casas durante a pandemia. E, em meio a tanta novidade que estamos vivendo, você certamente já ouviu falar do turismo de isolamento.
Eu prefiro usar “retiro office“ (mas também já ouvi como “staycation“), uma experiência para ressignificar a rotina de trabalho e estudos em meio a quarentena, mas em um lugar diferente e inspirador. Não são férias, não é para passear ou almoçar fora, nem abrir uma cerveja ao meio-dia.
Bem diferente do turismo tradicional, onde a gente vai passear, conhecer a cidade de destino e seguir um roteiro de atrações.
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A minha experiência que vou relatar aqui aconteceu em uma casa de Ilhabela, praia do litoral norte de São Paulo (já escrevi um roteiro aqui na Catraca Livre sobre Ilhabela em época de “condições normais de viagens).
Um respiro para os pés, um respiro para a alma
>> O Instituto Bem do Estar realizou o estudo “Saúde da Mente & Pandemia” em maio de 2020 e investigou o impacto do isolamento social no cotidiano do brasileiro. De acordo com a pesquisa, 53% dos brasileiros têm mais alteração de humor no isolamento. O isolamento, por sua vez, pode potencializar os transtornos de ansiedade e depressão.
É viagem ou não é?
No nosso “retiro office” a rotina se manteve: ficamos dentro de casa, trabalho remoto, reuniões, EAD, lições, higienização de compras, incontáveis tarefas domésticas, convivência familiar 24h por dia, 7 dias por semana.
Mas para quem, assim como eu, “está de home office” e com crianças isoladas em casa há mais de 5 meses durante a eterna quarentena, trata-se de pisar na grama entre uma reunião e outra; entre uma lição de Matemática e outra de Geografia, receber a aguardada visita de uma borboleta ou entre uma briguinha e outra entre irmãos, sentir a brisa no rosto para acalmar.
Feito de maneira segura e respeitosa (consigo, com o próximo e com os protocolos locais), o retiro office (ou turismo de isolamento) vem muito de encontro com o movimento slow, defendido pelo jornalista canadense Carl Honoré (autor do livro Devagar: Como um movimento mundial está desafiando o culto da velocidade).
Tem a ver com os atos de desaceleração e de saborear a vida. “Quando as pessoas desaceleram no momento certo, elas percebem que podem fazer tudo de maneira melhor”, afirma Carl Honoré.
Viagens sem abrir mão do isolamento
Segundo levantamento feito pelo Airbnb no Brasil, casas de campo, chácaras e casas de praia em cidades pequenas, próximas de onde se mora, têm sido cada vez mais buscadas como alternativa para viagens curtas com a família sem abrir mão do isolamento com segurança.
Dá um trabalhão “levantar a acampamento”, incluindo o material escolar das crianças (no nosso caso, de uma semana inteira) e, mais ainda a adaptação à viagem que não é bem viagem.
Explicar que não estamos de férias e que as aulas online vão continuar é algo a ser conversado com os pequenos quarenteners. É aqui que aqueles famosos combinados entram!
Além de compras de mercado (prepare-se para carregar o carro) e tudo o que envolve passar muitos dias fora (ops, dentro) de casa, não se esqueça de checar com antecedência se o seu “retiro office” tem acesso à internet que atenda às suas necessidades!
Para otimizar o tempo e evitar ir ao supermercado da cidade, levei bastante comida congelada: assim sobrava um tempinho extra para relaxar.
É claro que alugar uma casa, investir uma grana para sair da cidade e continuar trabalhando na frente do computador pode não parecer interessante para alguns (que preferem ter essa gasto para viajar a lazer), mas isso depende de cada família e suas necessidades em meio à quarentena que muitos ainda estão praticando.
Higienização
No perfil do Instagram do blog Todas as Mães em Viagem (onde você também pode visualizar todos os stories que fiz durante o nosso retiro office) perguntei para as pessoas que já alugaram casa de temporada durante a pandemia quais as principais medidas de prevenção e todas as respostas seguiram a mesma linha: levaram roupa de cama, além de lavar os utensílios de cozinha antes de serem usados e higienizar com álcool tudo o que tocarem.
O Airbnb criou protocolos de higienização para os anfitriões seguirem e assim, ganharem destaque especial na página do anúncio. As diretrizes incluem capacitação da comunidade de anfitriões sobre como higienizar todos os cômodos de uma casa e certificação das acomodações que seguem esses padrões. Mas cuidados a mais nunca serão um exagero!
Crianças e o contato com a natureza
O pediatra Daniel Becker abordou, em seu perfil no Instagram Pediatria Integral, sobre a importância da saúde emocional das crianças e “como o confinamento nos fez perceber com clareza a importância da natureza para a infância”.
Em uma série de stories sobre a Covid-19, o médico afirmou que é preciso levar em consideração a gradação do risco de levar as crianças para fora de casa. Por exemplo: “Levar uma criança para uma escola fechada com 20 crianças na sala é risco máximo. Levar uma criança sozinha para a natureza, ao ar livre, o risco é praticamente zero. Entre essas duas possibilidades, existe toda uma gradação de risco” disse o médico em seu Instagram, que seguiu com outros exemplos (como por exemplo levar crianças em uma pracinha lotada com pessoas sem máscara sendo um risco alto) e completou: “Não existem respostas definitivas ou só boas. Existem as possíveis”.
No meio da semana eu deixei as crianças cabularem um dia de aula e, aproveitando o baixo movimento, fomos à praia para pisar na areia, molhar os pés e voltarmos pra casa. Foi uma visita rápida mesmo, de 15 minutos, em um ambiente vazio e livre – em nada lembrava as cenas de praias lotadas que vimos pela TV no final de semana. E a ideia era essa mesma! O nosso distanciamento tinha um raio de 20 metros no mínimo (rs) e usamos máscara o tempo todo.
Não levei cadeira, guarda sol, nada disso, bem diferente como escrevi no post “Viagem para a praia com bebê e criança: o que levar“.
Levei: lenço umedecido, álcool gel, saquinhos para as máscaras e uma máscara extra para cada pessoa (caso alguma caísse na areia ou molhasse, por exemplo). É indispensável ter essa preocupação na hora de arrumar a sua bolsa.
Chegou o final de semana e aí sim foi descanso de verdade: sem lições, compromissos online nem hora pra dormir! Mas ainda dentro de casa, já que imaginamos que as praias estariam lotadas e, definitivamente, participar de aglomerações está totalmente fora dos planos de quem faz o turismo de isolamento.
Resorts, hotéis e pousadas
Há quem se sinta mais seguro com os protocolos de higiene e ambiente controlado dos hotéis e resorts, que também estão se adaptando à realidade do momento.
Além de adotar medidas de higiene rigorosas baseadas no selo de Turismo Responsável do Ministério do Turismo, muitos hotéis também estão atraindo hóspedes com o apelo do homeoffice/ homeschooling: são pessoas que querem viajar sem abrir mão do distanciamento social, e ao mesmo tempo trabalhar ou estudar.
Para isso, expandiram o acesso Wi-Fi aos hóspedes (como disse lá em cima, item primordial para quem passa o dia em reuniões virtuais), além de oferecerem um espaço de estudos para as crianças ou uma estação de trabalho para os adultos.
Se o trabalho e as aulas não são mais iguais neste momento, por que o turismo tem que ser o mesmo, não é?