Três rotas épicas para uma aventura de moto na América do Sul
Continente possui algumas das estradas mais buscadas por motociclistas do mundo para longos percursos em duas rodas
A América do Sul possui algumas das estradas mais buscadas por motociclistas do mundo para longos percursos em duas rodas. Opções é o que não faltam.
Interoceânica, entre Brasil e Peru
Em 2000, o então presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu reunir seus homólogos sul-americanos para discutir um projeto de integração rodoferroviário do continente. Uma das ideias apresentadas por ele foi endereçada aos governos peruano e boliviano: utilizar estradas dos períodos militares dos dois países para construir uma grande ligação entre o Atlântico e o Pacífico — nascia a Interoceânica.
Precisou de uma década para o projeto ser inaugurado, de fato, entre os países envolvidos: são 5,4 mil km entre o início em Porto Velho, em Rondônia, e o final, no porto de San Juan de Marcona, no Peru.
Segundo o país sul-americano, só em seu território a estrada passada por 51 povos indígenas, 207 pontes e diversos vilarejos e cidades importantes, como Juliaca, Cusco e Puno. É no Peru também que ela atinge 4.735 metros de altitude em relação ao nível do mar — é a rodovia pavimentada internacional mais alta do planeta, superando a Karakoram, entre o Paquistão e a China, na Ásia.
No ano passado, uma empresa peruana de ônibus começou a operar a linha Rio de Janeiro-Lima, que foi considerada a mais longa do mundo, percorrendo 6,3 mil km de extensão e 102 horas, mas os custos operacionais eram tão altos que a conexão rodoviária foi desativada meses depois. Hoje, a Interoceânica é um caminho obrigatório para caminhoneiros e um deleite para motociclistas apaixonados por viajar.
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Ruta 40, na Argentina
Uma das estradas mais famosas do continente, a Ruta 40 é também uma das mais longas do planeta: são 5,2 mil km cruzando 11 províncias argentinas, além de 20 parques e reservas naturais, 236 pontes, 27 saídas para o Chile via Cordilheira dos Andes e cenários que vão desde as geleiras, no sul do país, com as salinas, no norte, os bosques de Neuquén ou de Chubut com as árvores de Catamarca e de La Rioja.
A Ruta 40 começa em Cabo Vírgenes, no extremo Sul de Santa Cruz, e vai até La Quiaca, em Jujuy, no extremo Norte, sendo sempre um contorno rodoviário da Cordilheira, passando tanto por destinos turísticos, como El Calafate e Villa La Angostura, até cidades minúsculas encravadas no interior da Argentina.
Suas principais atrações são o Estreito de Magalhães, a geleira Perito Moreno, a trilha das vinícolas, o Parque Nacional Talampaya e a região dos lagos gelados. As províncias cruzadas são Jujuy, Salta, Tucumán, Catamarca, La Rioja, San Juan, Mendoza, Neuquén, Río Negro, Chubut e Santa Cruz.
No entanto, nem tudo são flores (ou bosques, no caso da estrada argentina): depois da geleira Perito Moreno se inicia um dos trechos mais desoladores da estrada, com muitos quilômetros de cascalho. Apesar da paisagem exuberante da Cordilheira à frente, os motociclistas aconselham em fóruns próprios para cruzar o trecho com acessórios especiais, como capacete AGV e luva de couro — há registros de carros atolados que esperam por horas a passagem de um veículo maior.
“Tinha um precipício do lado da estrada e o vento me jogava toda hora: de vez em quando vinha da direita, outra vinha da esquerda. A moto inclinava e eu fazia um contrapeso. Se eu caísse ali, estava morta. Em um momento desci da moto e comecei a chorar. Daí respirei fundo, pensei que me faltava uma semana de viagem, tomei coragem e segui”, recorda Mariana López — uma professora de ensino fundamental de Córdoba que ficou famosa na Argentina por percorrer toda a Ruta 40 para ensinar geografia aos seus alunos.
Camino a los Yungas, na Bolívia
O Camino a los Yungas, que liga La Paz à cidade de Trinidad, no departamento de Beni, na Bolívia, foi considerado a “pior estrada do mundo” pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em 1995. Trata-se de uma pequena rodovia de mão única que servia como tronco da Ruta 3, uma ligação estrutural da metrópole boliviana com as regiões departamentais.
Hoje um destino turístico, o Camino a los Yungas ocupa um pequeno espaço ao lado de montanha e na fronteira com um desfiladeiro. Em 2006, o governo boliviano inaugurou um novo trecho asfaltado e fechado da pista, direcionando o tráfego pesado e deixando a estrada apenas para motociclistas e ciclistas aventureiros. Os precipícios chegam a 4,6 mil metros de altura em certos pontos, e há registros de quedas em que sequer se consegue ver o que caiu, por causa das nuvens e da neblina.
Construída durante os anos 1930 por prisioneiros paraguaios capturados na Guerra do Chaco (1932-1935), o projeto tentou se aproveitar das curvas das montanhas entre as cidades de La Cumbre e Yungas, no departamento de La Paz, e por isso que a rota é repleta de viradas bruscas.
Antes da Ruta 3, o Camino a los Yungas funcionava como única ligação rodoviária entre La Paz e a Amazônia. Segundo motociclistas, entre Coroico, a 80 km de distância de La Paz, e a metrópole boliviana, o perigo é constante. Foi ali, por exemplo, que 100 pessoas morreram em 1983, quando um ônibus perdeu o controle e caiu no abismo.