Uma aventura no deserto em pleno Death Valley
Death Valley, um dos lugares mais quentes do planeta, pode reservar algumas surpresas
Poderia ser roteiro de filme, mas aconteceu de verdade (e comigo!).
Quatro amigos atravessando um deserto de carro. Fazia 50°C lá fora. O vento quente e abrasador dava a sensação de estar dentro de um forno com o bolo assando. Para tentar amenizar o calor e conseguir respirar direito, o ar condicionado do carro ligado no máximo.
Então o carro quebra do nada! Paramos n.o.m.e.i.o.d.o.d.e.s.e.r.to. , no lugar mais inóspito que eu já estive. Não passa mais ninguém. Cadê todo mundo? Quantas garrafas de água a gente tem? Até quando será que a gente vai ficar aqui? Até quando a gente consegue ficar aqui? Celular até tem, mas pra quê, se aqui n.o.m.e.i.o.d.o.d.e.s.e.r.t.o. não pega?
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Engole seco.
Isso aconteceu em um lugar chamado carinhosamente de Death Valley (ou Vale da Morte).
Death Valley é um parque nacional desértico perto da fronteira entre os estados da Califórnia e Nevada, nos EUA, e um dos lugares mais quentes do mundo. Para constar: a temperatura mais alta das Américas e a segunda mais alta no planeta foi registrada ali mesmo onde estávamos, no Vale da Morte, em 10 de julho de 1913. A temperatura máxima foi de 57°.
Dentro do parque existem mais de 300 quilômetros de estradas pavimentadas e 300 km de estradas de terra, além de estradas 4×4 sem manutenção. E muita coisa pra ver e explorar! Para entrar, paga-se uma taxa de preservação e manutenção, que estão descritas no site oficial de Death Valley.
Era agosto, verão. Estávamos fazendo uma road trip e vindo de Las Vegas, há 230 km. O roteiro era entrar no Parque Nacional Vale da Morte e lá dentro fazer uma parada em Badwater Basin, uma bacia conhecida como o ponto mais baixo da América do Norte, 86 m abaixo do nível do mar. Uma terra de extremos, como dá para notar!
Quando chove em Badwater Basin, o que é raro, o acumulado de sais em torno da bacia junto com a evaporação dos laguinhos formados, cria uma crosta de sal. A água fica parada, pois não tem para onde fluir. Como diz o próprio nome, não é uma água boa.
Mas o legal mesmo é você ver a plaquinha lá em cima nas rochas marcando o nível do mar; quase não dá para enxergar e é difícil acreditar que estamos tão abaixo do mar!
Saímos do carro e tiramos algumas fotos bem rapidamente em Badwater Basin, pois ventava forte – o que piorava muito a sensação térmica. Era insuportável ficar fora do veículo. Cubro o rosto com uma camiseta para amenizar o vento que ardia e queimava. Além de muito quente, o ar é extremamente seco e você não transpira, parece que o suor evapora.
Entramos no carro e seguimos viagem em Death Valley pela Artist’s Drive, uma via de mão única, estreita e cheia de curvas fechadas com cerca de 14 km. A atração dessa estrada é o Artist Palette, uma área de montanhas rochosas com vários tons de cores. Essa variação de cores é causada pela oxidação de metais presentes. Dizem que ver o pôr do sol nessa área é maravilhoso.
Saindo da Artist’s Drive, mas ainda dentro do Parque de Death Valley, qual não foi o nosso desespero quando o nosso carro simplesmente para. Eita!! Abre o capô, mexe, remexe e nada. E aquele forno industrial. Não tinha outra coisa a não ser esperar alguém aparecer no deserto para nos ajudar (até parece piada pronta, né?).
Estávamos convencidos que o motor do carro havia sofrido um superaquecimento causado pelo ar condicionado ligado no máximo, combinado, obviamente, com os 50° que fazia.
Pesquisando sobre possíveis incidentes (perrengues, melhor dizendo) com veículos dentro do Death Valley, descobri que o pneu furar na estrada quente também pode acontecer. Ou ainda carros que não sejam 4×4 quebrarem nas estradas não pavimentadas.
Depois, revendo as fotos, percebo o aviso em uma das placas que fotografamos antes da pane do carro: “Se o seu carro quebrar, fique dentro dele até a ajuda chegar”. E no guia oficial impresso ainda diz: “Abandonar o carro e encarar o deserto a pé sob o sol é um risco de vida”.
Dez minutos parados sozinhos no deserto no verão é muito tempo! Eu imaginava ter mais gente circulando por lá rs (apesar do parque receber mais de 360 mil pessoas por ano). Mas a nossa ajuda chegou. Quer dizer…
Finalmente uma van passa por nós (a essa altura já tínhamos pensado em todas as desgraças possíveis). O motorista, que era americano, levava uns 10 turistas franceses. Eles estavam ali pra andar de skate no deserto (!!). No final do texto vocês verão a foto e entenderão direito. Não cabia a gente e muito menos as malas nessa van.
Perguntaram se a gente precisava de água e ficou combinado que eles seguiriam pela estrada e, assim que o sinal de celular deles pegasse, iriam ligar para pedir ajuda.
Nossos amigos vão embora pelo deserto afora e nos deixam a esperança de que logo mais um reboque iria nos salvar. Hoje, pensando friamente (desculpem o trocadilho), percebo que foi muito arriscado continuarmos com o carro. Mas também não tinha o que fazer…
Longos minutos depois e algumas tentativas de partida, nosso carro liga! Um alívio misturado com o medo do carro quebrar novamente fizeram com que a gente seguisse viagem sem ligar o ar condicionado por um bom tempo – o que não é recomendado pelo parque.
E adivinhem o que a gente notou depois? Uma placa na estrada sugerindo para desligar o ar condicionado em pequenos intervalos para evitar o “overheat” (o superaquecimento do carro). Não preciso nem comentar nada aqui, né?
Mas estávamos andando e sairíamos do deserto logo mais. E olha lá quem a gente alcança e encontra no caminho! Nossos amigos franceses andando de skate no deserto, como haviam nos contado. Buzinamos e acenamos para mostrar que estávamos salvos. Mas ficou uma dúvida no ar: naquele ponto o celular ainda não pegava. Ou seja…provavelmente ninguém tinha pedido ajuda pra gente :/
Nossa aventura no deserto chegou ao fim algumas milhas depois. Paramos em um restaurante em Furnace Creek Ranch e em seguida seguimos viagem por mais 5 horas até Mammoth Lake, onde pernoitamos, para chegar no dia seguinte em Yosemite.
E o que fica de lição dessa façanha toda, além de uma boa história para contar?
Incluir o Vale da Morte no roteiro de viagem é incrível, mas vale fazer um bom planejamento antes. Tenha em mãos mapas impressos (celular e GPS não pegam), tanque de gasolina cheio e água, muita água para viajar com você, pois é fácil desidratar no meio do deserto sem se dar conta. A recomendação é de levar em seu carro pelo menos um galão (4 litros) de água por pessoa por dia, mais água extra para emergências. Agora me pergunte se a gente tinha tudo isso de água no carro?
O carro também é um ponto de preocupação. No site do parque tem um alerta importante: “carros de aluguel muitas vezes não têm a troca de pneus adequada e ferramentas, por isso vale a pena verificar antes de se aventurar”.
Se eu faria essa viagem com crianças? No cruel calor do verão, com toda certeza não os levaria para o Death Valley. Mas nessa road trip que fizemos que incluiu Los Angeles – Las Vegas – Death Valley – Lake Tahoe – Napa Valley – San Francisco – Pacific Cost Highway – Los Angeles de novo – San Diego e Disneyland – eu repetiria fácil fácil e ainda iria de motorhome!
Aliás, já leu o relato da nossa viagem de motorhome pelo Canadá?