Viajar depois dos 70: Veneza e o desafio das escadas
Jornalista Mariuccia Ancona Lopez dá dicas sobre viajar sozinha depois dos 70
Às vésperas da oitava década, ainda mantenho viva a paixão por viajar por conta própria, escolhendo meu destino, enfrentando as filas de aeroporto, a vigilância pela minha mala, pelos documentos, reservas de hotéis e trens, vacinas e tudo mais. Só uma coisa que desanima: escadas. Sim: escadas, degraus e ladeiras são os maiores desafios –não apenas meus- mas da maioria dos viajantes passados dos 70. Pode apostar.
Subir as escadas da Penha? A cúpula da Basílica de São Pedro? Nem pensar! Alguns locais deslumbrantes como a mina de sal de Wieliczka, na Polônia, com seus 800 degraus já saíram da minha lista. Estes eu visito em filmes e reportagens.
Mas existem passeios que enganam. E Veneza, na Itália, teoricamente plana, é um deles. O perigo começa quando você desembarca do trem na estação de Venezia Lucia e, logo de saída se depara com o canal, as gôndolas, a cúpula da igreja de Jeremias e Santa Lucia, a primeira de tantas lindas construções que ajudam a compor a atmosfera encantadora dessa cidade única no mundo.
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E aí você começa a andar, a fotografar cada cantinho, um mais bonito do que o outro e vai descobrindo curiosidades como o Teatro Itália, (Campiello de l’Anconeta, 30121 ) edificação de 1915, no bairro de Cannaregio, em estilo gótico típico de Veneza, particularmente evidente nas janelas como as do Palácio Ducal e que hoje empresta sua beleza nas pinturas murais e tantos detalhes para cenário de um excelente supermercado.
A caminhada continua olhando as típicas máscaras do Carnaval veneziano, vitrines de peças de Murano, provando sorvetes e doces deliciosos, sempre seguindo os sinais : per San Marco. Sim, logo ali estará a Piazza San Marco, você pensa. Só que no caminho, românticas pontes ligam um lado ao outro dos pequenos canais e todas elas com degraus para subir e descer. No começo do trajeto você nem se importa mas a coisa vai complicando a cada nova “pontezinha” que se avista. E para piorar, nem todas tem corrimão, o que torna tudo ainda mais complicado. Especialmente quando o calor chega a quase 40 graus.
Finalmente, depois de mais de duas horas andando sob um sol escaldante, chega San Marco. Linda, imponente, cheia de história, palco de tantos livros e filmes, com a presença de “Otelo e Desdemona”, dos Dodges, da riqueza e poder da República de Veneza ainda evidentes, a piazza é testemunha também dos meus pobres pés inchados e joelhos escangalhados. Tudo por culpa das pontes. Assim, não me resta outra opção do que a despedida da praça, dando uma olhadela na Ponte dos Suspiros antes de pegar o vaporetto, o ônibus náutico (€ 7,50 por pessoa até a estação ferroviária) uma saída honrosa para a minha jornada neste cenário incrivelmente belo.
Deixar de visitar Veneza em razão das escadas nas pontes? Nem pensar. A solução para uma próxima visita a Veneza, caso haja, será o percurso inverso. Começar com o vaporetto até San Marco seguindo o roteiro sinalizando Rialto. E, vez por outra, pegar novamente o vaporetto parando uma ou duas estações adiante, explorando as ruazinhas –que lá se chamam calle– desfrutando da atmosfera única de Veneza de forma mais suave. Nessa opção, valerá mais a pena comprar por € 20 (R$ 105) o bilhete do vaporetto para 24 horas que pode ser usado várias vezes dentro desse período entre 5h e 23h, todos os dias. E os bilhetes podem ser comprados nos pontos do vaporetto mas também em diferentes locais, em quiosques e supermercados que tenham o logotipo Actv.
Há várias linhas de vaporetto e as mais turísticas são as linhas 1 e 2. Mas este é um transporte público e há vaporettos em todas as direções que podem, por exemplo cruzar o Gran Canale para visitar a Basílica de Santa Maria Della Salute, do século 17, com sua imponente cúpula erguida em agradecimento pelo fim da peste na cidade. Aí você aproveita para agradecer por esse conforto enquanto avista a Piazza San Marco em toda sua imponência.