Vida nômade: O que a estrada me ensinou

Todo mundo deveria, uma vez na vida, sair para uma longa viagem

O que uma vida nômade, sem endereço fixo nem residência, pode nos ensinar? Estou, desde 2015, vivendo na estrada e, apesar de todos os desafios que encontro diariamente, tenho certeza que os aprendizados que extraí desta experiência são tão preciosos que eu aconselharia que todo mundo, uma vez na vida, dissesse adeus ao conforto de um lar e fosse passar um tempo solto no mundo.

Todo mundo deveria, uma vez na vida, sair para uma longa viagem
Créditos: Acervo pessoal
Todo mundo deveria, uma vez na vida, sair para uma longa viagem

Alguns aprendizados foram muito práticos e palpáveis, mas nem por isso menos importante. Quando começamos a planejar uma grande viagem de carro, meu parceiro, Plácido Salles, não sabia nem dirigir! Posso considerar essa a primeira lição que tivemos e logo ele estava devidamente habilitado.

Depois disso, várias outras pequenas coisas vieram, entre elas algumas noções de fotografia e filmagem, edição, acampar, línguas… tudo aconteceu de forma orgânica e fomos aprendendo aquilo que tínhamos necessidade.

Mas, além dessas pequenas grandes coisas, muitas outras vieram e hoje posso enxergar o quanto são úteis para a vida:

Resiliência

Percebi que o sucesso depende de tempo e que, se queremos verdadeiramente alguma coisa, é preciso insistir, vencer obstáculos e ter paciência até que consigamos.

Empreender

Dar a volta ao mundo partindo do zero – zero experiência, zero dinheiro – exigiu muito empreendedorismo. Para concretizar esse grande sonho, meu parceiro e eu tivemos que ser criativos para aumentar a nossa renda. Aumentamos a dedicação ao trabalho e criamos muitos extras: vendemos lanchinhos na praia e no carnaval, fizemos bazares, vendemos cosméticos, realizamos jantares e acabamos criando uma série de fontes de arrecadação, que bancaram a vida na estrada por um bom tempo.

Viajar em um motorhome é uma das melhores formas de não ser turista
Créditos: Livre Partida
Viajar em um motorhome é uma das melhores formas de não ser turista

Minimalismo

Quando a sua proposta é viver na estrada, não dá para a bagagem ser grande. Aprendi o que é, de fato, necessário na minha vida e, com isso, diminuí muito o meu consumo. Mais do que a questão do espaço físico, hoje em dia o que determina se comprarei algo é a real necessidade daquilo. Caso não seja essencial, nem entra na mochila.

Resolução de problemas

Nenhum problema é tão grande que não possa ser resolvido. Essa grande lição é uma pérola que tornou minha vida muito mais leve. Depois de passar por desafios de todos os tipos, consigo ter clareza e calma para resolver tudo o que preciso.

Autossuficiência

Uma consequência do aprendizado anterior, desenvolvi na estrada a habilidade de ser completamente autossuficiente. Quando se está longe de tudo e todos, a única pessoa com quem você pode contar é consigo mesmo e a consequência disso é que você aprende a se virar sozinho.

Aceitar ajuda

Pode parecer uma contradição com o que acabei de dizer, mas aceitar ajuda também foi um aprendizado valioso que a estrada trouxe. Nos momentos mais difíceis, a ajuda de terceiros mostrou que é quase impossível fazer as coisas sozinho. Você pode, sim, ser autossuficiente mas, em muitas situações, sua autonomia só levará até um certo ponto e, se quiser seguir adiante, precisará aceitar alguma ajuda. E, quer saber? É muito bom ter a capacidade de mostrar-se vulnerável e aceitar que precisa dos outros!

Adaptação

A vida na estrada nos deixa longe da zona de conforto. Não existe um dia igual ao outro ou que seja previsível. Com isso, estamos o tempo todo lidando com a adaptação. Conviver com culturas diferentes, climas adversos e até mesmo com marcas desconhecidas nas gôndolas do supermercado gera uma enorme necessidade de adaptação. Quer coisa mais valiosa?

Enxergar possibilidades

Quanto mais viajo, mais observo a diversidade que existe no planeta. Com isso, sou capaz de ver as milhões de possibilidades que existem para viver. Esse aprendizado trouxe uma paz que não tem preço: se tudo der errado de um jeito, ainda existirão milhões de outras maneiras de fazer dar certo!

Essas são apenas algumas das muitas coisas que aprendi vivendo na estrada. Abandonar o conforto e ir em busca da aventura, seja ela qual for, obriga-nos a enfrentar o desconhecido e, inevitavelmente, a crescer. Esse crescimento nem sempre é fácil, mas vale cada sacrifício. Posso afirmar que isso escola nenhuma ensinará.

Falamos um pouco sobre isso no vídeo abaixo:

Por Mariana Beluco

Junto com seu parceiro, Plácido Salles, já passou por mais de 60 países; publicou o livro Livre Partida: causos e contos de uma viagem pelo mundo; ministra cursos e palestras sobre viagens e vive uma grande aventura pelo Brasil através do seu projeto, Livre Partida.

Em parceria com Livre Partida

Somos Plácido Salles e Mariana Beluco, nômades viajantes desde 2015! Compartilhamos aqui o nosso cotidiano de viagens, dicas e conhecimentos importantes para quem tem o sonho de fazer uma grande viagem. Passamos por 57 países durante a primeira expedição e agora estamos vivendo uma grande aventura de carro pelo Brasil. Temos um livro publicado e ministramos cursos e palestras sobre o tema. Bora viajar junto!

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