Por que Decotelli foi massacrado por mentir, mas Salles e Witzel não?

[OPINIÃO] Provavelmente você nem deve se lembrar que os políticos brancos cometeram os mesmos erros que o ‘futuro ex-ministro da Educação’ negro cometeu

A nomeação de Carlos Alberto Decotelli como ministro da Educação no governo Bolsonaro (sem partido) gerou uma série de polêmicas na última semana. Isso porque o currículo que Decotelli apresentou contestações sobre a sua formação acadêmica. São elas:

  • Declaração de um título de doutorado na Argentina, que não foi obtido;
  • Denúncia de plágio na dissertação de mestrado da Fundação Getúlio Vargas (FGV);
  • Pós-doutorado na Alemanha, não realizado;
  • Apoio de empresa no pós-doutorado, não obtido;
  • Vínculo como professor da FGV, quando na verdade ele é colaborador.
Carlos Alberto decotelli cometeu os mesmos crimes que Witzel e Salles, por que só ele foi massacrado?
Créditos: Reprodução/Agência Brasil
Carlos Alberto decotelli cometeu os mesmos crimes que Witzel e Salles, por que só ele foi massacrado?

O massacre em cima do ‘futuro ex-ministro’ foi tão grande que, na tarde desta terça-feira, 30, ele apresentou uma carta de demissão ao presidente, por conta da pressão que tem sofrido devido às inconsistências dos dados apresentados.

A população alega, e com razão, que uma pessoa que mente no currículo, ainda mais no âmbito educacional, por diversas vezes, não pode assumir um cargo de ministro da Educação.

Contudo, essa não é a primeira vez que a gente dá de cara com alguma mentira contada por membros do governo Bolsonaro. Em fevereiro de 2019, por exemplo, veio à tona que Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, se formou na Universidade de Yale. Contudo, ao The Intercept Brasil, a instituição negou que Salles tenha estudado lá.

Outro caso bem alarmante foi o de Wilson Witzel (PSC-RJ), que afirmou ter feito doutorado em Harvard. Outra balela. O governador do Rio de Janeiro (RJ) foi desmentido e, para se defender, incluiu em seu currículo que o doutorado estava em andamento.

Muita gente sequer se lembra destes dois últimos exemplos. Isso porque eles foram abafados e não tiveram um espaço considerável na mídia, a ponto de serem achincalhados. Mas por que agora, com Decatelli, isso tem acontecido sem nenhuma trégua?

Antes de chutar qualquer palpite, vamos a mais um exemplo, que talvez te ajude a chegar a uma conclusão: Quem se lembra do episódio de Joana D’Arc? Em 2014, a professora de ensino técnico foi condenada pela Justiça a devolver R$ 369,2 mil para a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por uma pesquisa que ela não comprovou ter feito.

E mais: Em 2019, Joana foi acusada de ter falsificado um diploma de pós-doutorado em Harvard. Em sua defesa, a professora acusou o jornal que divulgou a informação racismo, por duvidar da capacidade dos negros.

Mataram a charada? Pois é, Decotelli e Joana são negros. E a revolta coletiva em cima deles é muito gritante e perceptível. O julgamento justo só vai existir quando todos passarem a pagar pelos erros da mesma forma. É muito fácil apontar as falhas do outro, certo? Que tal se a gente começar a apontar as falhas de todos sem se aproveitar dos privilégios brancos para justificar o que deve ou não ser condenável?

Felipe Neto abriu margem para tal discussão com o tuíte abaixo e o espaço, de fato, deve ser usado para a problematização.