Brasileira realiza sonho de viver por toda América

Larissa Gomes, mineira, 27 anos, após concluir o curso de direito entregou o apartamento onde viveu seus últimos anos na cidade de Juiz de Fora (MG), vendeu livros, roupas e móveis e doou mais um mundo de coisas que não seriam necessárias na vida que estava tentando começar, uma vida quase nômade, viajando e vivendo por países do continente americano (e quem sabe de outros continentes também). Começou mudando-se para a sala de televisão de um casal de amigos e conseguindo um trabalho como garçonete em um bar novo e de muito sucesso na cidade, assim ela teria tempo para juntar algum dinheiro e para organizar um pouco essa loucura que seria sua nova vida.

 

Antes mesmo de terminar a faculdade a ex-estudante de direito já sabia que não seguiria a carreira jurídica e que daria a si mesma uma viagem como presente de formatura, só não sabia quando e como. A ideia inicial era fazer uma viagem de quatro meses por alguns países da América do Sul, de carona e por meio de hospedagem solidária, mas ainda assim o dinheiro que a viajante provavelmente conseguiria juntar naquele pouco tempo uma hora ia acabar. Aí surgiu a ideia de não apenas viajar, mas sim de viver por toda América, fazendo paradas mais longas em determinadas cidades, conseguindo um trabalho, seja ele formal ou não, até poder seguir viajando por um tempo de novo, uma boa forma de se sustentar e de manter-se em constante viagem.

 

A mochileira saiu de sua cidade natal, Carangola (MG), no dia 15 de março de 2014, daí recorreu várias cidades do Brasil e do Paraguai, parando para viver apenas na linda Colônia do Sacramento – Uruguai, onde, em um momento tenso de sua viagem, quando havia perdido sua carteira com todos os documentos, um funcionário do hostel onde ia dormir aquela noite lhe convidou para morar em uma cabana com sua família e ainda lhe conseguiu trabalho de garçonete em um restaurante de comida deliciosamente italiana. Foi assim, de modo tão simples e fácil que ela logrou viver por um tempo na histórica cidade uruguaia. Depois dessa parada em Colônia ela obviamente rodou e aproveitou de todo litoral uruguaio, que segundo ela, vai muito além da famosa Punta del Leste.

 

Depois de passar por tantos povoados e tantas praias, Larissa foi em busca de mais novidades. Decidida a mudar de paisagem e de país, seguiu para as nevadas montanhas de Bariloche – Argentina. Lá ela teve mais dificuldades em conseguir um trabalho que lhe pagasse razoavelmente bem, então, foi preciso se virar. Fez de tudo um pouco; deu aulas particulares de português, fez artesanatos, vendeu empanadas na rua e mais adiante trabalhou como recepcionista em um hostel. Essa temporada de inverno lhe garantiu bons passeios pela cidade e pela região, uns quantos amigos argentinos e dinheiro suficiente para comprar uma câmera fotográfica e para percorrer a patagônia argentina, a patagônia chilena e a ilha Chloé, viagem que durou aproximadamente dois meses, até que a viajante se apaixonou pelo vulcão Villarrica em Pucón – Chile, onde trabalhou como vendedora em uma agencia de viagens e depois como camareira em um hostel.

 

Além de novas e inesquecíveis experiências profissionais, Larissa tem incontáveis experiências de carona e hospedagem solidária. Dentre suas aventuras de carona algumas se destacam, como a viagem de veleiro entre Colônia do Sacramento (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina), os quase 40 km de carona de moto na contramão de estradas paraguaias, em ferry para cruzar o estreito de Magalhães e chegar ao tão sonhado “fim do mundo” e uma mais recente, ao cruzar a Cordilheira dos Andes com um rapaz que fez várias paradas para que ela pudesse tirar fotos e disfrutar da vista, um verdadeiro guia turístico.

 

As hospedagens também são de todo tipo, já dormiu em posto de gasolina, em cabine de caminhão, na rodoviária de Londrina e de Buenos Aires, em barraca na praia e na montanha, em casa de gente que nunca a viu na vida e ainda assim lhe ofereceu um cantinho para passar a noite, e com os muitos amigos que fez e faz por meio do site couchsurfing.

Segundo a viajante, vivendo em cada país que visita (ou em pelo menos na maioria deles) tem se a possibilidade não apenas de sustentar sua viagem sem parar de viajar mas também de conhecer muito mais sobre a cultura e os costumes locais, tendo mais tempo para conhecer aquilo que é tradicional mas não tão comercial ou turístico, isso sem falar nas profissões que aprendeu, nos esportes que praticou, nas comidas que provou, nas lições de vida que ganhou de cada nativo ou viajante que cruzou seu caminho.

 

Só nesse quase um ano de viagem a mochileira já teve experiências como a de ficar 5 dias em um povoado uruguaio sem água e luz elétrica. Foi ao fim do mundo de carona com um motorista que tinha como hábito dormir ao volante. Voou de asa delta no Rio de Janeiro, fez rafting duas vezes em Pucón, fez um trekking com duração de 5 dias, 4 noites e 1 joelho destruído. Perdeu todos os seus documentos e os recuperou com a ajuda de um caminhoneiro que havia lhe dado carona. Subiu montanha, serra e o vulcão mais ativo da América do Sul. Aprendeu um terceiro idioma e melhorou o segundo. Comeu rim e tripa de vaca e acrescentou uma infinidade de vegetais e temperos ao seu cardápio. Viu raposas, guanacos, golfinhos e lobos marinhos. Inflamou os meniscos e se safou de uma cirurgia graças a muita teimosia. Teve amigdalite aguda acompanhada de febre de 39 graus, o que lhe garantiu perder 2 kg em menos de 10 dias. Viu neve, tormenta, lagos, praias, vendavais, glaciares, florestas, estradas, muitas estradas e gente, de todo tipo, todo idioma, toda nacionalidade, fez e reencontrou muitos amigos nessa sua vida, nessa sua viagem, nessa sua vida-viagem.

 

Larissa já visitou quase 50 cidades em 5 países diferentes, Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina e Chile e depois outros países americanos virão, porque agora a Rosa dos Ventos segue sua rota natural, segue para o norte. Obviamente ainda existem inúmeros e maravilhosos destinos em sua lista de lugares para conhecer, mas seu estilo de viagem não é para os ansiosos que querem conhecer 20 cidades em duas semanas, é para quem vive um dia de cada vez e para quem tem a tranquilidade de desfrutar de uma vida que segue um curso mais lento que o da maioria.

 

A viagem que seria apenas por alguns países e com uma duração “normal” agora não tem data para acabar, e após chegar ao México, seu provável último destino em nosso continente, pensa em morar um tempo na Austrália, para melhorar o inglês, conhecer esse lindo país e mais uma vez juntar uma graninha e poder seguir viajando, mas desta vez pelo leste asiático. Obviamente neste vai e vem de países e lugares incríveis está reservado um bom tempo no Brasil, quando vai rever a família e os amigos!

 

Outros planos da viajante são transformar a página Rosa dos Ventos em blog, onde vai reunir não apenas boas histórias de viagem como também dicas de como viajar de forma muito econômica e/ou de como viver do mesmo modo que ela. Além disso Larissa também pensa em algum dia escrever um livro sobre toda esta longa e deliciosa jornada!