Descobrindo o famoso queijo da Serra da Canastra
Nós do De Casa Para O Mundo já tivemos a oportunidade de viajar por mais de 150 cidades espalhadas pelos cinco continentes e foi justamente depois de voltarmos da maior de todas elas, uma volta ao mundo de 365 dias, que decidimos criar o blog para contar um pouco mais de toda essa nossa experiência para você! No post de hoje, compartilhamos com vocês como foi a nossa caça ao tesouro atrás do legítimo Queijo da Canastra! Tudo o que você precisa saber antes de degustá-lo está descrito tim-tim por tim-tim logo abaixo! Já está com água na boca? Vamos juntos então!
“Brie, Camembert, Chèvre, Edam, Gouda, Gruyère… Quem é que não gosta de queijo, hein? Para ser saboreado puro ou com melado de cana. Harmonizado com um bom vinho tinto ou com aquela cerveja pra lá de especial. De manhã, a tarde ou a noite. Eu sou fã confessa e costumo dizer que só não sou 100% vegetariana porque minha paixão pelos queijos me impede!
Para vocês terem uma ideia da minha fixação, anos atrás eu assisti uma reportagem no Globo Rural (sim, eu assisto Globo Rural e adoro!) sobre um queijo maravilhoso chamado Vacherin Mont-d’Or. O danado é produzido na Suíça somente durante o outono e inverno a partir do leite das vaquinhas de uma raça francesa chamada Montbéliarde. Elas produzem um leite com altíssimo teor de gordura e é claro que o resultado não poderia ser outro: um queijo delicioso, que depois de regado com um pouco de vinho branco e aquecido no forno por alguns minutos, deve ser saboreado às colheradas (fatiá-lo jamais!) acompanhado de batatas cozidas! Saí como uma doida atrás dessa maravilha e até em contato com o Ministério da Agricultura eu entrei. Queria saber que existia algum importador que trazia o queijão da Suíça e como aparentemente só eu tenho interesse nele aqui no Brasil, sobrou para o meu cunhado misturar entre suas meias e cuecas (limpas eu espero…) uma peça do Mont-d’Or de presente para mim! Nem preciso falar que destruímos o queijão em poucos minutos e se eu não me engano, ainda com a colher na mão, rolou até uma salva de palmas para as vaquinhas Montbéliarde. Essas fotos são desse dia memorável em minha vida! E se elas tivessem cheiro, tenho certeza que você estaria arrepiado agora!
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OK, mas e as nossas vaquinhas? As vaquinhas brazucas? Algum queijo é produzido em Terra Brasilis? Será que nós conseguimos produzir alguma coisa além de requeijão e Catupiry® (que eu também, diga-se de passagem, adoro)? Ou o jeito é mesmo seguir gastando uns bons reais em uma peça mequetrefe de Brie? Calma, pessoal, calma… Felizmente a resposta é sim para ambas as perguntas! Nossos problemas acabaram e acabaram faz tempo: por volta de 1552 na verdade. A história conta que a produção de queijo no Brasil começou já nessa época, com vacas trazidas de Cabo Verde e desde então não parou mais. E agora, mais de 450 anos depois, eles estão com tudo! No topo do mundo, na crista da onda. Para a felicidade dos glutões!
Fonte: Diário do Comércio
O Rio Grande do Sul faz queijo (o Serrano, produzido na região de Campos de Cima da Serra com leite de gado de corte). O Pará faz queijo (o de Marajó, feito exclusivamente de leite de búfala). São Paulo faz queijo (de cabra, curado, produzido em Joanópolis). E claro, Minas Gerais faz queijo. Muito queijo. Mas muito queijo mesmo. E dos bons. Dos ótimos. Daqueles que enchem um mineirim de orgulho. Vocês já estão carecas de saber que nós estivemos em BH no final de novembro de 2014 dispostos a desbravar Inhotim e se acabar no pão de queijo (Perdeu esse post? Clique aqui!), mas antes acabamos perdidos dentro do Mercado Municipal da capital mineira. E o que foi que encontramos lá? Sua resposta está nesse post!
Chegamos em BH cientes que “perderíamos” algum tempo razoável explorando o Mercado Municipal da cidade, mas como um dos participantes do nosso pão de queijo crawl fica nesse mesmo lugar, rumamos ao centro de BH sem medo! Meu foco desde o início foi o queijo da Serra da Canastra e como eu já sabia desde o início que o danado não pode ser produzido em qualquer lugar (apesar de ter gente de tudo quanto é buraco do Brasil querendo surfar nessa onda…), é claro que antes de chegarmos lá rolou uma pesquisa básica sobre o que e onde comprar. E como eu sou muito legal e caridosa, faço questão de compartilhar com vocês o que eu descobri depois de mergulhar no Google em busca de conhecimento queijeiro e que eu acho interessante que você saiba antes de se aventurar comprando queijo Canastra por aí:
– O queijo Canastra é o produto típico mais importante da região da Serra da Canastra, distante pouco mais de 350km de BH, quase na divisa com o estado de SP. Ele é produzido de forma totalmente artesanal, a partir de leite cru. Produzido há mais de duzentos anos, é primo distante do queijo português da Serra da Estrela, trazido pelos imigrantes da época do Ciclo do Ouro. Já provei os dois e acho que nem preciso gastar meu latim dizendo qual eu mais gostei, uai…
– Ele é produzido em sete cidades localizadas na região centro-oeste do estado de Minas Gerais: São Roque de Minas, Bambuí, Delfinópolis, Medeiros, Piumhi, Tapiraí e Vargem Bonita. E essa informação é muito importante, viu? Não existe queijo Canastra sendo produzido em qualquer outro lugar que não a Serra da Canastra. Conhecem aquela história que Champagne só é Champagne se for produzido na região francesa de Champagne? E que todo o resto (de qualidade ou não) é só espumante? Pois então, o racional é o mesmo aqui.
– E é por essa razão que ele, ao ser tombado como Patrimônio Cultural e certificado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), recebeu também o selo de Indicação Geográfica (IG) na modalidade Indicação de Procedência (IP). Tudo isso para garantir a sua origem e consequentemente qualidade, que é outro ponto que merece muita atenção já que o Canastra é feito com leite cru, ou seja, não pasteurizado…
– O que isso significa? Numa explicação grosseira, te conto que a pasteurização elimina as bactérias indesejáveis transmissoras de doenças assim como as bactérias responsáveis por deteriorar o leite. Ótimo, não? Sim, perfeito. Mas acontece, pessoal, que o leite cru é a alma do queijo Canastra e prepara-lo a partir de um leite pasteurizado é simplesmente ir contra anos de história, cultura e tradição.
– OK, então porque a gente só encontra queijo feito a partir de leite pasteurizado para vender (brie, parmesão, camembert, roquefort etc)? Simples: exigências da legislação sanitária federal. Uma lei criada em 1952 tratava como transgressão a comercialização de queijos de leite cru fora de seus estados de origem. Ou seja, queijo feito a partir de leite cru produzido em Minas, só poderia ser comercializado em Minas ou então os produtores eram obrigados a aguardar o período mínimo de 60 dias de maturação antes da venda interestadual. Até que…
– …uma norma complementar a essa lei, ratificada no segundo semestre de 2013 pelo Ministério da Agricultura, flexibilizou as regras para a comercialização do queijo artesanal em todo o país. Apesar de ainda estarem longe do ideal, ela definitivamente chegou para agregar, fazendo com que queijos de qualidade possam chegar até os outros estados do país sem precisar esperar os tais 60 dias ou sem serem por meio de contrabando. Opa, contrabando sim! Porque se a sua avozinha ia para Monte Sião comprar malha com as amigas e voltava com um queijinho artesanal de presente para o netinho, isso também era contrabando (uma vez que a lei proibia, certo?).
Ufa… Haja fosfato! Infelizmente esse post ficou “pesado” e é beeemmm provável que em algum momento você se perca na leitura (ou perca o interesse – espero que não). Peço desculpas pela “conversa mole” mas reafirmo ser muito importante ter o mínimo de conhecimento sobre o Canastra (e qualquer outro queijo artesanal) antes de compra-lo. Como eu disse, tem muita gente querendo aproveitar o bom momento do queijão mineiro e por isso devemos saber exatamente o que estamos comprando.
E depois desses esclarecimentos todos, eu fico muito feliz de seguir contando para vocês que a nossa experiência pelos corredores do Mercado Municipal de BH foi i-n-e-s-q-u-e-c-í-v-e-l. São muitas as lojas de laticínios funcionando por lá (Queijaria Du Salim, Laticínios Irmãos Costa, Queijaria Barbosa Lima e tantas outras), mas tínhamos como alvo certeiro a já famosa Loja do Itamar, ponto de encontro de quem gosta dos queijos mineiros artesanais da Serra da Canastra, do Salitre, de Araxá etc.
Chegamos bem cedo e demos de cara com exatamente oito queijos da fazenda do Zé Mário expostos na vitrine da loja. Oito! Como essa tinha sido nossa primeira parada, o Tadeu sugeriu que déssemos uma volta pelo Mercado e somente quando estivéssemos voltando para o carro, passássemos no Itamar e comprássemos o queijo. Foi aí que toda a leitura prévia surgiu repentinamente na minha cabeça. Foi como um filme, uma mistura de Matrix com Minority Report. Frases soltas iam surgindo na minha frente enquanto eu pensava na resposta que eu daria. “Produção diária reduzida”. “O clima, a altitude, os pastos nativos e as águas da Canastra dão a esse queijo um sabor único”. “A região da Serra da Canastra concentra cerca de 800 produtores do queijo Canastra, mas o Zé Mário é o mais famoso e faz o melhor queijo”. Pois é, eu surtei. E por causa de um queijo… Murmurei algo como “sem chance” e já chamei um vendedor para me atender. Sonho é sonho, gente. Me deixem.
Além dos queijos produzidos na Fazenda do Zé Mário, você também conseguirá encontrar na Loja do Itamar outros belos exemplares provenientes dos produtores Valter, Miguel e algum outro Canastra em que eles também apostam (não tão famoso, mas de qualidade equivalente). Saiba que para eles estarem ali, certamente foram produzidos conforme a legislação sanitária vigente, que exige ordenha mecânica, curral bem estruturado e asseio dos utensílios. Sem falar dos selos da Aprocan (Associação dos Produtores de Queijo Canastra) e Aprocame (Associação dos Produtores de Queijo Canastra de Medeiros). O que, para um queijo feito a partir de leite cru, é fundamental. Mas isso tudo você já sabe, certo?
O tempo mínimo de maturação do queijo Canastra varia de 12 a 20 dias (mas tem gente que o matura por até seis meses) e quanto maior for o tempo de espera, mais forte serão as características da peça que você irá provar. Eu queria ter trazido o meu queijo para casa e esperar uns dois meses até saboreá-lo, mas eu infelizmente não resisti. Não consegui dormir com meio quilo de Canastra descansando no mesmo quarto que eu. Mas vocês já sabem… Sonho é sonho, gente. Me deixem”.
(Viagem realizada em novembro-14.)
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