‘O que me apaixona, eu vivo’, diz poeta Ferreira Gullar, 85

“A minha vida nasce do espanto. Eu nunca planejei ser poeta ou fazer carreira literária. O que me apaixona, eu vivo”, afirmou o poeta Ferreira Gullar, 85 anos completados no último dia 10, na 17ª Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro.

O poeta maranhense Ferreira Gullar com o neto Mateus Aragão

Membro da Academia Brasileira de Letras desde o ano passado e considerado o maior poeta brasileiro vivo, Gullar participou de um encontro no espaço Café Literário, dedicado a falar sobre cultura, ontem (13), no encerramento da Bienal. Para ele, “a arte existe porque a vida não basta”.

O poeta foi um dos destaques do evento, que bateu recorde de público e de venda de livros, na comparação com a última edição: foram 676 mil visitantes e 3,7 milhões de títulos comercializados. Em 2013, o público foi de 660 mil visitantes e 3,5 milhões de exemplares foram vendidos.

“É muito bom que a Bienal ganhe proporções crescentes a cada edição, pois tem o papel de aproximar as pessoas das obras e de nós, autores. É uma alegria passar pelos pavilhões e ver tanta gente animada com os livros”, comentou Gullar no site do evento.

Na conversa de mais de uma hora, segundo a Agência Brasil, o imortal contou sua trajetória desde os tempos de São Luiz (MA), onde nasceu, e que compara com Macondo, a cidade criada pelo colombiano Gabriel García Márquez em “Cem Anos de Solidão”, pois tudo lá chegava com atraso.

Quando começou a escrever, contou Gullar, era como se estivesse vivendo no século passado. Ao ter contato com o que estava sendo produzido em centros culturais mais avançados, decidiu se mudar.  “Eu não aguentava mais ficar em Macondo e vim para o Rio de Janeiro. Tinha 21 anos de idade.”

Ele também comentou sobre o exílio durante a ditadura militar. Por ser comunista, foi perseguido e teve de sair do Brasil. Morou em Moscou (Rússia), Santiago (Chile), Lima (Peru) e Buenos Aires.

Foi na capital da Argentina que, após passar por momentos difíceis, com passaporte vencido e sem poder sair do país após a morte do então presidente Juan Domingo Perón, escreveu sua principal obra, “Poema Sujo”. Segundo a Agência Brasil, ele disse ter mostrado o poema a Vinicius de Moraes, que pediu que ele o gravasse, e assim a obra chegou ao Brasil.

Aos 85 anos, o poeta não interrompeu sua rotina de trabalho. Acaba de lançar “Autobriografia Poética e Outros Textos”, pela editora Autêntica, e de relançar “Toda Poesia”, pela José Olympio.

“Sinceramente, eu não imaginei que tivesse tanta gente aqui interessada em livro. É fantástico, é muito bom. Acho que o livro é uma coisa fundamental. Não acredito que ninguém vá ler “Guerra e Paz” [de Liev Tolstói] na internet. Eu duvido. As 800 páginas de “Guerra e Paz”. Duvido. Não lê.”

Em parceria com qsocial