Por uma vida mais simples, jornalista deixa emprego para montar sebo em pequena garagem

 

Ricardo Lombardi tem 44 anos, é jornalista e mora em São Paulo. Ele é casado, tem dois filhos e cuida da mãe já idosa.

Construiu uma carreira bem sucedida e ganhava um bom salário. Foi diretor do Yahoo! e trabalhou na Editora Abril.

Mas Lombardi conta que ia para o trabalho acompanhado de um sensação “incomum” e começou a questionar algumas de suas escolhas.

 

“Eu sempre gostei de ler histórias de pessoas que mudavam radicalmente de vida e não quis esperar um fato dramático para mudar a minha. Eu mudei porque quis”, comenta o jornalista.

O projeto de Ricardo Lombardi é simples. É simplificar a vida. “Menos dinheiro e menos estresse. É claro que todos os trabalhos tem os seus problemas, mas eu sentia que estava carregando o problema dos outros”, comenta.

E a sua ideia, segundo ele, era suficientemente boa para mudar de vida: aliar o seu blog de literatura com o seu acervo de 5 mil livros. Montar um sebo e passar para a frente a paixão pelos livros. Aqui você encontra parte do acervo de Lombardi.

Por um ano dedicou os seus finais de semana na construção do sebo. Uma pequena sala na qual fixou prateleiras extensas e uma mesa central. As habilidades ele adquiriu em um curso de marcenaria.

Assim nasceu o sebo Desculpe a Poeira, na pequena garagem de sua mãe, no número 28 da na rua Sebastião Velho, em Pinheiros, São Paulo.

Desapego

Para mudar de vida, o jornalista teve que desapegar-se da própria coleção. Ficou apenas com uma pequena prateleira, com cerca de 30 livros. As obras completas de Machado de Assis, Tragédia Sombria de Shakeaspeare e livros sobre a imigração italiana.

“As pessoas me perguntam o quanto eu investi para abrir o sebo. É um investimento de uma vida inteira, tem livros do meu pai, revistas de 30 anos. Algumas coisas estão sem preço e talvez não às venda”, diz Lombardi.

 

Vida simples

Para o impacto da diminuição da renda, Ricardo Lombardi tem uma receita fácil: divertir-se.

Ao invés de comer em um restaurante, cozinhar em casa tornou-se um divertido programa em família. A mensalidade da academia foi trocado pelo prazer de colocar um tênis velho e correr na rua. O carro foi vendido e o meio de transporte é a bicicleta.

Bicicleta aliás, que tem papel importante no plano de negócios do sebo.

Isso porque boa parte de seu acervo é adquirido quando pessoas querem se desfazer de suas coleções pessoais e a parte mais difícil do serviço é carregar os livros.

E Ricardo Lombardi utiliza uma bicicleta cargueira para fazer o transporte dos livros. “Antes de abrir já foram seis viagens. Tá bom né? Eles tem um eixo de equilibrio diferente, as ciclovias ajudam”, cometou.

Sobre livros

A paixão de livros de Lombardi transborda as folhas, versos e palavras. “O livro é funcional. Um objeto do século passado que nós podemos ler, retransmitir a informação e conhecimento para outras gerações”, diz.

Por isso, não existem livros somente para preencher espaços nas prateleiras. “Aqui só existem livros que eu indicaria. A edição é feita por mim”.

Continuidade

Já no fim da conversa, Ricardo revela que seu pai tinha um antiquário de móveis e arte cusquenha. Trabalhava em um pequeno espaço na casa em que moravam quando era criança.

“Me arrependo de não ter me aproximado mais do ofício do meu pai”, diz.  Revelando que não foi só a paixão pelos livros e o cansaço com a antiga rotina que o fizeram manter a tradição de revirar a poeira.