O que um plágio em uma campanha publicitária tem a ver com racismo estrutural?

Falta de diversidade e inclusão nas empresas geram casos como o entre a Bauducco, Juliette, Duda Beat e Emicida

Redação

Andressa Dantas

Essa é a primeira vez que escrevo por aqui, então, primeiro, obrigada por iniciar a leitura e já adianto: a ideia é causar! Causar reflexão, desconforto, inconformidade e principalmente mudanças. Acredito que a comunicação transforma e estou aqui pra falar sobre porque Diversidade & Inclusão são temas necessários para marcas, empresas, pessoas. Então, vem comigo!

Começo esse texto com uma pergunta já no título: “O que um plágio em uma campanha publicitária tem a ver com racismo estrutural”? Vem entender como a falta de Diversidade & Inclusão nas empresas geram situações como a que estamos acompanhando entre Bauducco, Juliette, Duda Beat e Emicida.

Antes de tudo é preciso reconhecer privilégios e entender que existe um pacto da branquitude, que há muitos e muitos anos desconsidera e desvaloriza toda e qualquer criação vinda das pessoas pretas.

O eurocentrismo convencionou, inclusive, que grandes avanços científicos e filosóficos foram criados apenas por pessoas brancas, apagando da história registros da contribuição para a evolução social, cultural e tecnológica que pessoas pretas criaram no passado (e muitas vezes ainda no presente).

A exemplo disso, cito a medicina tal qual conhecemos hoje. O filósofo e médico grego Hipócrates é reconhecido como o “pai da medicina”, mas pouco se fala sobre sua imersão na cultura africana. Registros apontam que ele estudou nas escolas médicas do Vale do Rio Nilo, tendo aprendido com os livros médicos de Imhotep.

Mas por que eu to falando do Hipócrates em meio à treta de plágio? Apenas para demonstrar que pessoas brancas vem levando crédito pela criação e estudo de pessoas pretas há muitos anos e precisamos parar de normalizar esse racismo estrutural.

Evandro Fióti publicou nas suas redes sociais um vídeo que contava que a Bauducco negociou com o Laboratório Fantasma para o desenvolvimento de um projeto para a marca. Mas não chegaram a um acordo comercial. E surpreendentemente, a campanha realizada pela agência Galeria com a participação da ex-BBB Juliette e da cantora Duda Beat para o reposicionamento de marca utilizava elementos visuais, textuais, sonoros e conceituais extraídos da obra AmarElo, do Emicida, disco que é muito conhecido do público e tem até Grammy.

Veja bem, não estamos falando apenas de plágio. É muito simbólico ver pessoas brancas tirando o que há de mais valioso de pessoas pretas. Inclusive, além de plágio e racismo estrutural, o que vimos essa semana é uma prática de epistemicídio, que é quando uma cultura se sobrepõe à outra, criando formas de dominação política e ideológica, desqualificando o conhecimento do outro.

Em todos os posicionamentos públicos ninguém assumiu ter cometido plágio. Mas, convenhamos que é um tanto quanto inacreditável um trabalho que envolve tantas pessoas: marketing da marca, agência de publicidade, produtora, artistas, ninguém tenha percebido o quanto o trabalho estava remetendo à obra do Emicida. Pior é ler nota que diz que perceberam indícios de plágio. Mas se perceberam, por que participar do trabalho?

Agora você deve estar se perguntando: “Mas o que isso tem a ver com Diversidade & Inclusão”?

E eu te respondo, leitor: tudo. O mercado de agências de publicidade é majoritariamente branco, assim como cargos de lideranças nas empresas. E isso reflete num comportamento baseado no pacto da branquitude. Onde as pessoas, mesmo que inconscientemente, acham normal tomar para si o trabalho de pessoas pretas.

Se as empresas tivessem mais Diversidade & Inclusão, essas situações seriam minimizadas, pois pessoas pretas nas agências e no marketing das empresas teriam evitado que algo assim acontecesse.

Quando falamos que empresas diversas e inclusivas performam melhor, não é apenas na questão financeira, mas é porque elas levam reflexões para as pessoas entenderem seus privilégios e isso impacta em um movimento de transformação que gera benefícios para as equipes, para a sociedade e para o mercado.

Como está a diversidade aí onde você trabalha? O que acha de levar essa reflexão para causar transformações em suas redes? Vem comigo causar uma mudança de impacto.

E minha opinião sobre o caso Bauducco e Emicida? Não tem como explicar o inexplicável. É apropriação. É plágio e fim!

Andressa Dantas
CEO da Arebo e Causadora de Diversidade e Inclusão