Aline Louzano
A entrada de jovens no mercado de trabalho é marcada por desafios, principalmente para aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade social. Para preencher essa lacuna, o Ensino Social Profissionalizante (Espro) atua na capacitação dessa população. Fundada em 1979, a instituição, que possui 8 filiais espalhadas pelo país, além de 55 núcleos regionais, têm na lei do jovem aprendiz o seu principal aliado.
“A lei da aprendizagem foi um divisor de águas, pois fomos a primeira entidade a ser certificada para atuar nessa área. A partir dali, como o governo estava fomentando essas contratações e existiam poucas organizações que os capacitasse, começamos a crescer muito rápido, inclusive geograficamente”, explica Alessandro Saade, superintendente executivo do Espro.
O Espro trabalha com duas frentes: o Programa de Formação para o Mundo do Trabalho (FMT), um curso com cerca de 100 horas, que acontece no contraturno escolar, todos os dias da semana, e a socioaprendizagem, que é o programa de jovem aprendiz.
No FMT, são ensinados todos os passos do mercado de trabalho. “Lá, ele é alfabetizado no pacote Office, aprende a se vestir e como participar de uma entrevista de emprego. Muitas vezes, essa cultura corporativa não está próxima dele, pois o pai é motorista de ônibus e a mãe é diarista. Então, precisamos mostrar que, apesar das diferenças, ele pode ocupar aquele espaço, só precisa conhecer as regras do jogo”, diz Saade.
Como é um curso de curta duração, há algumas turmas patrocinadas, onde camadas adicionais de aprendizado são adicionadas e também é possível trabalhar com grupos populacionais específicos. Dessa forma, em parceria com empresas como a Leroy Merlin, Fundação Banco do Brasil, Corteva e BMW, foi possível ofertar cursos de automação para meninas negras, curso para refugiados e capacitação para o agronegócio, por exemplo.
Habilidades culturais, como aprender a tocar um instrumento, também são ensinadas em determinadas turmas. “Ao aprender a tocar uma música, fazemos conexão com as habilidades socioemocionais e o que é necessário ter dentro de uma empresa”.
“Por exemplo, apresentar-se com uma banda tem tudo a ver com a cultura corporativa, pois está trabalhando em grupo. Se não houver sincronismo, não haverá harmonia e o resultado final do trabalho será ruim. Alguém fará um solo e brilhará mais que o outro e na empresa isso também vai acontecer. A gente mostra para ele que esse novo aprendizado é equivalente ou até mais importante do que os outros aprendizados técnicos”, ressalta Saade.
Já na socioaprendizagem, os jovens trabalham 4 dias na empresa e vão 1 vez por semana ao Espro. “Enquanto ele está conosco, há encontros todos os meses com assistente social e psicóloga. Se ele quiser, pode pedir atendimento individual com qualquer uma das duas. A assistente social também faz visitas domiciliares e, conversando com a família, analisa se existe algum tipo de vulnerabilidade ou necessidade em que podemos ajudar”, explica.
Também há um analista de acompanhamento, que visita as empresas para saber como está o desempenho do jovem e se não há desvio de função. “Ele não pode ser usado como mão de obra barata. Ele está ali para se desenvolver”.
O início da vida profissional é transformador tanto para o jovem quanto para sua família. Mas Alessandro explica que essa também é uma oportunidade única para as empresas, pois traz a visão da próxima geração de consumidores. “Além disso, ele recebe uma pessoa sem vícios, com a mente limpa, que pode absorver toda a cultura da empresa e se desenvolver como profissional totalmente alinhado com ela”.
Impacto na comunidade
Uma vez por ano, na unidade da Brasilândia, acontece o evento Espro em Ação, onde ocorrem diversas atividades ao longo do dia em benefício à comunidade. Há vans da Prefeitura de São Paulo para a retirada da 2ª via de documentos, registro no NIS e conversas sobre doenças sexualmente transmissíveis.
Além disso, há distribuição de cestas básicas, atividades para crianças, cortes de cabelo, manicure e auxílio para elaboração de currículo no LinkedIn. “No último ano, a Fábrica de Cultura levou a orquestra de metais e fez uma apresentação linda”, acrescenta Saade.
Como funciona?
Para se inscrever como jovem aprendiz ou para participar do Programa de Formação para o Mundo do Trabalho (FMT), é necessário ter entre 14 e 24 anos, além de ter concluído o ensino médio ou estar cursando.
Não há necessidade de realizar provas; basta fazer a inscrição no site do Espro. Após a inscrição, aqueles que optaram pelo programa jovem aprendiz ficam disponíveis no banco de talentos e são chamados de acordo com a compatibilidade do perfil com a vaga disponível.
Saiba como apoiar
O Espro aceita doações de pessoas físicas e de empresas. Para isso, basta entrar em contato através do site. Siga a instituição no Instagram, Facebook, LinkedIn e Spotify.
Aline Louzano – Lupa do Bem
Causadora de Educação