Somente 33% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres, em tecnologia a escassez é maior ainda
A Gerente de soluções e práticas tecnológicas LATAM da Red Hat destaca a importância de termos mais mulheres na tecnologia
Cláudia Pereira, de 42 anos, iniciou sua carreira no mundo da tecnologia ainda adolescente. Incentivada pelo pai, que era da área, ela cursou o Ensino Médio em processamento de dados, para confirmar se realmente gostava da carreira antes de ingressar na faculdade.
Assim, quando estava no segundo ano do curso, Cláudia conseguiu um estágio na Petrobrás, para apoiar a área de desenvolvimento de software, e se encantou pela área. De lá para cá, ela trilhou um longo caminho e hoje é Gerente de soluções e práticas tecnológicas LATAM da Red Hat, empresa global de desenvolvimento de software.
“A área de tecnologia tem muitas possibilidades para você escolher. Eu fui pelo caminho de desenvolvimento de software. Trabalhei muitos anos nisso, como desenvolvedora Java, até que tive a oportunidade de ter contato com gestão”, relembra Cláudia.
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“É uma área que, se você está buscando independência, te abre muitas portas, te possibilita conhecer várias culturas. Então a mulher que está buscando isso é uma excelente oportunidade para você associar o profissional com você conhecer e explorar várias possibilidades”, salienta.
Mulheres na tecnologia
A pesquisa “Women in Business 2024”, realizada pela empresa de consultoria Grant Thornton e divulgada em março deste ano, revelou que, no mundo, a presença feminina em cargos de liderança é de 33,5%.
“A gente ainda tem pouca representatividade de mulheres em posições de liderança em tecnologia. Agora que a gente está começando a falar em ter mais mulheres em cargos de liderança. Eu diria que é a próxima onda e a próxima barreira que a gente tem que quebrar para quem está vindo atrás ter um caminho mais pavimentado e conseguir enxergar a área de tecnologia também como uma possibilidade”, ressalta a gestora.
Além disso, levantamento da Catho, divulgado em 2022, apontou que naquele ano, cerca de 23% dos cargos em tecnologia eram ocupados por mulheres, enquanto os homens ocupavam 76%.
“Ainda é uma área muito estereotipada. Hoje menos, no passado era muito mais e os homens, quando eu comecei, não entendiam muito bem mulheres trabalhando com tecnologia”, conta Cláudia. “Profissionalmente, é importante você demonstrar segurança, levar o seu trabalho a sério, mostrar que você está ali de igual para igual. A gente tem as mesmas competências, a gente tem condições de entregar o mesmo e até mais”, acrescenta.
Ela explica que é importante as mulheres que estão neste mercado serem exemplo para as jovens que estão decidindo a sua profissão ou já tem interesse pela área. “Nós mulheres somos vistas muito por características de cuidado. Então, quando a gente pensa em começar uma profissão, termina pensando naquelas mais atreladas a cuidar”, ressalta a gestora. “O nosso papel de mulheres atuando nessa área é servir de referência para quem está ingressando, puxar essas novas profissionais para essa área que realmente te permite inúmeras possibilidades”.
Papel das empresas
Cláudia destaca que muita gente não enxerga o mercado de tecnologia como um caminho a ser seguido por falta de conhecimento sobre a área. “As empresas também poderiam fazer mais programas, principalmente com universidades. Elas poderiam investir em mais programas e até aproveitar as suas profissionais que são mulheres e são referências”, pontua.
“Hoje eu sou mentora do Instituto Semear, que tem muito essa conexão social e tecnológica. Eu acho importante para a gente conseguir puxar mais mulheres para essa área, demonstrar que não é um bicho de sete cabeças”, explica a gestora.
Além disso, ela ressalta que as famílias também têm um papel importante para que a tecnologia seja uma opção para essas jovens. “Você deve demonstrar que existem várias possibilidades em relação à carreira e sair desse estereótipo menina tem que brincar de boneca, menino de carrinho. Os pais têm um papel educativo muito forte nisso, para não limitar a educação dos seus filhos em estereótipos e não limitar as possíveis escolhas de carreira”, aconselha Cláudia.
O futuro
“Eu acho que falta sensibilizar mais essas meninas. Isso está evoluindo, mas eu acho que a sociedade, as empresas, os pais, ainda pode sensibilizar mais e terminar angariando mais mulheres”, pontua a gestora.
Cláudia argumenta que o país precisa investir em mais mulheres na ciência. “Para essa área, em outras culturas, em outros países, é mais comum você ter mulheres cientistas, mulheres fazendo pesquisa, projetos de desenvolvimento. No Brasil, a gente ainda tem um número limitado desses profissionais, e eu acho que a gente precisa abrir mais espaço para ciência e tecnologia”.
“Quando a gente pensa na evolução de uma sociedade, na evolução de um país, precisamos desse braço de ciência. Estamos no caminho, eu vejo que já melhorou bastante, mas eu acho que falta principalmente esse papel na base para você conscientizar e despertar esse interesse desde cedo, e quando essas meninas tiverem que escolher uma carreira, elas considerarem a tecnologia como uma opção”, finaliza Cláudia.