Faça do Mundo uma Biblioteca

Criado para promover a troca de livros, o Bookcrossing cresce no número de adeptos e ganha versão brasileira

Por: Catraca Livre

Quando menina, aos dez anos, Eunira Galioni da Silva mudou-se para New Jersey, onde morou com a família durante quatro anos. O resultado dessa experiência foi sua paixão pela leitura. Na época, era muito tímida para conhecer os norte-americanos e costumava pegar emprestados na biblioteca da escola mais de seis livros por vez. Aos quatorze anos, voltou para o Brasil e procurou dar continuidade ao inglês lendo, daqui, livros de lá.

Em 2004, fuçando pela Internet achou o site “Bookcrossing”, cujo significado é prática de deixar um livro num espaço público para ser pego por outras pessoas que fazem o mesmo, é uma espécie de rede social para os amantes e aficionados por literatura. Assim, se tornou um dos oitocentos mil usuários que amam libertar livros, e falar deles, mundo afora.

O interesse pela literatura de língua inglesa aumentou ainda mais quando descobriu as “M-Bags”, sacos de lona de 20 a 25 livros doados por usuários do site que chega de navio numa viagem de até três meses. “ Eles sabem das restrições que nós temos aqui”, comenta.

Mais conhecida virtualmente por “Metropolitan”, Eunira relembra do primeiro livro libertado por ela. “Foi no aeroporto de Cumbica, perto de um casal americano. O livro era originário do Estado da Virgínia e acabou voltando para os Estados Unidos”, diz.

O Bookcrossing permite que o livro libertado seja rastreado por quem o disponibiliza nos espaços públicos. Um livro de origem do bookcrossing pode ser reconhecido pois, nele, vem uma etiqueta de comentário. Assim, o usuário-doador é notificado por e-mail e sabe o trajeto feito pela obra doada. Um livro que percorre o mundo é conhecido como “ring”, algo como anel.

Libertar um livro não é uma tarefa muito fácil. Para Eunira, o ato de libertar acontece quando a obra amadurece para aquele leitor.  “É preciso estar psicologicamente preparado. Um livro pede para ser libertado”, afirma.

Fã de autores contemporâneos de mistério como Elizabeth George, Reginald Hill e Jodi Picoult, a família e amigos de Eunira já se acostumaram com suas aventuras. O marido construiu uma nova estante para os livros que chegam.  Amigos que viajam para o exterior já criaram o hábito de levar livros para serem entregues a outros amigos, os virtuais. Uma vez, foi até o aeroporto para tomar um café e conhecer pessoalmente uma amiga francesa que fez na rede. E aproveitou também para trocar mais títulos. Mas, nem sempre sua oferta foi o livro pela troca de outro. Ela já chegou a oferecer em troca de livros pó de café, entre outros itens.

Aqui em São Paulo, já se reuniu com outros usuários brasileiros em eventos de Bookcrossing. Neles, pessoas trocam ideias sobre literatura e também títulos entre eles. O seu maior sonho é poder ir a um encontro mundial.

O Brasil no Bookcrossing

Helena Castello Branco é relações públicas e assessora de imprensa. E, depois de um curso de especialização na Universidade de São Paulo em projetos culturais, decidiu trabalhar com algum projeto capaz de difundir a cultura na cidade. Queria promover a troca de livros.

Hoje, o site Bookcrossing possui mais de 6.500 usuários brasileiros. Nele, pessoas dividem sentimentos e críticas dos livros lidos, assim como títulos disponíveis e fóruns. “A ideia do Bookcrossing é a de ser um movimento libertário”, define Helena.

A versão em português do site www.bookcrossing.com.br está prestes a ir ao ar. Hoje, São Paulo possui quatro zonas oficiais de Bookcrossing. A relações públicas já liberou mais de dois mil e duzentos livros e tem mais de mil aguardando serem liberados.

arte: Alexandre de Maio
Mapa das zonas de Bookcrossing encontradas em SP e no interior