Alunos vão para USP armados e postam foto com ameaças
Estudantes anunciaram uma 'nova era' e chamaram petistas de safadas; Faculdade vai abrir sindicância para investigar
A direção da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) divulgou uma nota de repúdio depois de alunos aparecerem armados na faculdade na segunda-feira, 29, um dia depois das eleições.
Uma foto, que está circulando nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, mostra os alunos vestidos com roupa militar, camiseta com o nome do presidente americano Donald Trump e outra roupa em referência ao ditador norte-coreano Kim-Jong Un. Na imagem, eles aparecem sentados em uma mesa onde foram colocadas duas placas com as frases “está com medo, petista safada?” e “a nova era está chegando”.
No quadro atrás dos estudantes, também aparece a inscrição “B17”, em referência à vitória de Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais.
Em nota, o diretor da FEA, Fábio Frezatti, disse que a situação pode ser o estopim para o aumento da agressividade e é inaceitável. “Queremos um ambiente em que a comunidade possa pensar, discutir, aprender e crescer. Truculência não faz parte desse cardápio seja qual for a sua forma de exteriorização”, escreveu.
Os alunos do Centro Acadêmico Visconde de Cairu também se manifestaram em nota no Facebook. “É um retrato misógino e violento, de caráter fascista, que ameaça os direitos democráticos da coletividade dos estudantes”, afirma a nota.
Confira a publicação dos alunos do CAVC FEA-USP:
A Gestão Delta do Centro Acadêmico Visconde de Cairu vem por meio desta nota mostrar sua indignação perante as demonstrações fascistas que têm ocorrido em nossa Universidade.
Na manhã desta segunda-feira (29), após o resultado das eleições presidenciais, uma foto bastante preocupante circulou pelos grupos de Whatsapp da comunidade FEAna. Na imagem, um conjunto de alunos em sala de aula da faculdade seguram armas e cartazes com os dizeres “está com medo, petista safada?”; além disso, a imagem acompanha frases como “nova era” e “B17”, comemorando a vitória do candidato Jair Bolsonaro. Apesar do cunho eleitoral, não se trata de uma simples manifestação política: é um retrato misógino e violento, de caráter fascista, que ameaça os direitos democráticos da coletividade dos estudantes.
A foto faz parte de uma onda de extremismo e práticas violentas por todo país. Só em nossa Universidade, observamos também suásticas sendo pintadas na porta de residências estudantis e apologia à violência dentro dos campi. Diante deste cenário, é preciso que nós tenhamos posicionamento em nome da democracia e pela paz. Entendemos que a Universidade deve permitir a livre expressão e a militância política de seus associados, entretanto, posições contra os direitos humanos ou que propaguem o medo e a violência não devem, de forma alguma, ser toleradas. Devemos nos colocar por um país onde a manifestação política e o engajamento seja livre, e não motivo de ameaça e medo. Por um país onde pobres, mulheres, LGBTs, nordestinos, negros e negras e qualquer outra pessoa não se sintam ameaçadas dentro de seu próprio ambiente de ensino por pensarem de forma contrária ao governo. Devemos nos posicionar contra qualquer manifestação de cunho fascista que ponha em risco as liberdades democráticas.
Demonstrações de ódio como a presente na imagem são inadmissíveis em quaisquer contextos, principalmente dentro de uma sala de aula universitária. Nesse sentido, repudiamos a prática e aqueles responsáveis, e saudamos o posicionamento da instituição* diante do ocorrido. Esperamos que o caso seja encaminhado com a seriedade devida.
Não podemos ficar calados diante de uma ameaça como esta.
Nós, estudantes, resistimos!
Nota de repúdio da direção da FEA-USP
A direção da FEA vem a público para repudiar as ações de incitação à violência que estão ocorrendo dentro do ambiente da USP e, particularmente, da FEA.
A Universidade existe como um campo de debate de inúmeros temas, inclusive o político, e a nossa tradição é pacífica. E queremos que assim continue, para todos, num ambiente em que a pluralidade seja uma prática real, politica, religiosa, de gênero ou outra perspectiva.
O período eleitoral foi tenso e as expectativas oscilaram com muita radicalização. Uma vez terminado o processo eleitoral, imagina-se que as acomodações ocorram e os ânimos sejam acalmados. Afinal a vida segue.
Em algumas situações algo que pode ser pensado como “brincadeira” pode ser o estopim para aumento da agressividade e mesmo ameaças. Isso é inaceitável pois queremos um ambiente em que a comunidade possa pensar, discutir, aprender e crescer. Truculência não faz parte desse cardápio seja qual for a sua forma de exteriorização.
Além de todos os esforços para manter integridade e paz no ambiente da FEA, ações que intimidem, ofendam e causem reações e danos serão rigorosamente coibidas e punidas.
Fábio Frezatti
Diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP