Ativista relata experiência de discursar em cúpula de clima da ONU
Paloma Costa participou da mesa de abertura do evento, ao lado de Greta Thunberg
O Climate Action Summit, que aconteceu agora no dia 23 de Setembro em Nova York, foi o principal evento climático do ano, que reuniu líderes de diversos países visando um comprometimento com metas mais ambiciosas para superarmos a crise climática.
Nós, jovens líderes e ativistas climáticos, estávamos com as mesmas expectativas para o Youth Climate Summit. Queríamos ver e co-criar com outros jovens do mundo todo caminhos possíveis e passar essas iniciativas aos nossos líderes.
E é exatamente nesse ponto que vemos a dicotomia. Quando a cúpula é de jovens, as soluções discutidas são impressionantes, mas, quando passamos à cúpula dos adultos, onde tive a honra de participar da mesa de abertura, o resultado deixa a desejar.
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Ainda assim, ter tido a oportunidade de participar da mesa de abertura do Climate Action Summit foi um momento muito importante. Isso porque, ter jovens em espaços como esse, reflete o compromisso do Secretário Geral da ONU, Antonio Guterres, de impulsionar políticas mais ambiciosas e tratar com os jovens e povos originários e tradicionais os caminhos e soluções que as Nações devem seguir. Agora só falta todas as Nações se unirem e seguirem a tendência.
Como disse no discurso de abertura: “Eu sou defensora do socioambientalismo, sou cicloativista, educo sobre as questões climáticas e trabalho com a mobilização de jovens. Eu venho testemunhando como comunidades indígenas e tradicionais e outros grupos minoritários sofrem o impacto da crise climática”.
A responsabilidade foi imensa. Como eu participei da mesa de abertura com a Greta Thunberg, que teve esse papel fundamental de sensibilizar e mobilizar jovens pelo mundo todo a irem às ruas protestar por justiça climática, e com o Anurag Saha Roy, vencedor do Summer of Solutions com seu projeto de empreendedorismo jovem, me sobrou a “simples” tarefa de tentar chamar a atenção e representar as vozes das juventudes diversas — dado o meu trabalho no Engajamundo e no Youth Voices — e, principalmente, dos povos indígenas e tradicionais a quem dedico meu trabalho no Instituto Socioambiental.
Para começar essa missão, recorri a todos meus colegas de trabalho e amigos. Tanto o Engajamundo, como o ISA, como o Youth Voices working group, os meus amigos do Ciclimáticos, o coletivo de cicloativistas fundado por mim e por João Alves Cerqueira, e o time da própria ONU, que marcaram reuniões com figuras chaves da luta socioambiental e treinaram comigo o discurso antes de eu subir ao palco, foram fundamentais para fechar qual seria o meu recado final para a abertura do Climate Action Summit.
Falar tudo nunca nem foi uma opção, eram só três minutos para expressar nossos anos de luta e, infelizmente, todo o retrocesso dos últimos meses. Mas eu sabia o recado que eu queria deixar ali e falei.
Comentei que a juventude está mobilizada e consciente, trazendo uma nova perspectiva para todos esses antigos problemas, com proposições factíveis para superar a crise climática e, principalmente, coragem. Coragem de mudar nossos hábitos e todas nossas escolhas para chegarmos a um futuro e presente possível para todos nós. E é com esse mesmo ânimo que eu espero que nossos tomadores de decisão encarem os fatos e os dados científicos daqui para frente.
Deixei claro que é por meio do conhecimento tradicional e conexão com o território que seremos capazes de manter a floresta em pé. Não existe adaptação ou mitigação aos efeitos climáticos sem floresta. E não existe floresta sem os povos da floresta. Então, para isso, precisamos chamar os povos da floresta para participarem ativamente nas tomadas de decisão. E que essas decisões, em consulta aos povos da floresta, sejam vinculantes, de forma a impulsionar seus modos de vida, que é o que tem protegido a nossa biodiversidade.
O meio ambiente e a crise climática precisam ser encarados de forma séria. Na mesma medida e gravidade que causarão para nós caso entrem em colapso. No curso de direito aprendi que os princípios da precaução e da prevenção, principais do direito socioambiental, são necessários a serem aplicados quando o assunto é o nosso meio ambiente coletivo, nossas vidas. Mas a Amazônia segue queimando, o desmatamento continua sendo endossado pelos nossos tomadores de decisão e o futuro vai ficando assim: como uma promessa sem muito comprometimento.
Não temos mais tempo para ter medo de sermos defensores da vida, do meio ambiente e de toda a nossa biodiversidade — já que o Brasil é o campeão em matar defensores socioambientais. Se nos atrasarmos na luta contra a crise climática, aí não terá nem mundo para ficarmos discutindo ano após ano se somos ambiciosos ou não, se estamos em crise ou não.
Bom, eu continuarei fazendo a minha parte. Junto com os jovens do Brasil e do mundo. Sem desculpa de qualquer tipo. Agora resta saber se vamos fazer isso juntos e ganhar cada dia mais força para superar essa crise climática. Por isso chamo a atenção: para ter floresta em pé, não dá para ficar sentado. Vamos juntos se unir diante da crise climática?