Ativista trans denuncia transfobia no banheiro do Aeroporto de Guarulhos

A pesquisadora Caia Maria contou que foi encaminhada para a área de cadeirantes quando se dirigia ao banheiro feminino. "Inadmissível", disse a ativista

18/03/2022 16:35

A ativista e pesquisadora Caia Maria Coelho denunciou em suas redes sociais um episódio de transfobia da qual foi vítima ao tentar usar o banheiro feminino no Aeroporto de Guarulhos.

Ativista trans denuncia transfobia no banheiro do Aeroporto de Guarulhos
Ativista trans denuncia transfobia no banheiro do Aeroporto de Guarulhos - Reprodução/Instagram

Caia conta que estava entrando no banheiro feminino do aeroporto, quando uma funcionária a barrou e indicou para ela o banheiro de cadeirantes. “Fui impedida de usar o banheiro feminino no Aeroporto de Guarulhos. Quando estava prestes a cruzar a porta, uma funcionária me direcionou para área de cadeirantes. Como tinha pouco tempo e precisava fazer xixi, não discuti. Mas essa situação é inadmissível em 2022“, relatou a ativista em suas redes sociais.

“Me senti constrangida, envergonhada. Quando saí, já estava na última chamada e apenas eu não havia embarcado ainda. Ela [a funcionária da limpeza] me coloca em um lugar de desidentificação mesmo, que é muito violento contra pessoas trans no Brasil”, afirmou Caia ao G1.

A ativista, que é Coordenadora da Nova Associação de Travestis e Transexuais de Pernambuco (Natrap) e conselheira estadual dos Direitos da População LGBTQIA+,  contou que nunca havia passado por uma situação dessas. “O aeroporto precisa se comprometer com atividades formativas e se responsabilizar com o combate à transfobia. Um papel na parede ou uma placa no banheiro já pode minimizar esses riscos“, afirmou. “É muito triste que a gente esteja demandando políticas públicas e a devolutiva seja assim, violenta.“

Em nota, a GRU Airport, concessionária privada responsável pela administração do aeroporto em Guarulhos, informou que o caso está sendo apurado e que “repudia veementemente qualquer tipo de ofensa e prática discriminatória e reforça que qualquer opinião que contrarie o respeito à diversidade não reflete os valores e os princípios da empresa“.

Importante destacar que o Aeroporto de Guarulhos tem sido palco de ataques transfóbicos não é de agora. Em dezembro, a vereadora de São Paulo, Carolina Iara (PSOL) relatou ter sido tratada no masculino todo o tempo enquanto pedia informações para realizar check-in.

Transfobia é crime!

Apesar de transfobia e homofobia não serem a mesma coisa – um diz respeito à violência contra a identidade de gênero e o outro à orientação sexual – a criminalização da homofobia pelo STF, em junho de 2019, se estende a toda comunidade LGBT e também equipara atos transfóbicos ao crime de racismo. Nesta matéria aqui, explicamos como denunciar esse tipo de crime.

Mulheres trans e Lei Maria da Penha

Outra lei que protege as mulheres trans, em especial, da transfobia é a Lei Maria da Penha. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, em maio de 2019, um projeto que inclui mulheres transgêneras e travestis na Lei de proteção à mulher.

A proposta altera um artigo da lei que diz “toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião” não pode sofrer violência, incluindo o termo “identidade de gênero”. A proposta está parada na Câmara e especialistas preveem que caráter mais conservador dos Deputados será um obstáculo.

Entretanto, há casos de transfobia julgados como violência doméstica. Em maio de 2018, uma decisão inédita da Justiça do Distrito Federal indicou que os casos de violência contra mulheres trans podem ser julgados na Vara de Violência Doméstica e Familiar e elas devem ser abarcadas em medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha.

A linguagem é simbólica

Atualmente, a transfobia no Brasil é um crime equiparado ao racismo, assim como a homofobia
Atualmente, a transfobia no Brasil é um crime equiparado ao racismo, assim como a homofobia - iStock/@Baluchis

Não pense que tudo isso que listamos aqui é frescura! Nada disso, a linguagem é simbólica e respeitar essas diferenças é um grande passo para neutralizarmos a transfobia no Brasil.

É legal ressaltar também que não é crime você não saber algo – crime é atacar de forma preconceituosa a comunidade trans.

Tente se lembrar dos termos e do uso dos artigos corretos quando for conversar com uma pessoa transgênero, que tudo ficará bem!

Caso tenha dúvidas, pergunte a pessoa com quem está conversando ou se referindo como ela prefere ser chamada.