Bolsonaro: ‘Gostaria de ter estado mais vezes ao lado de Cunha’

Deputado foi entrevistado do "Roda Viva"

Jair Bolsonaro no “Roda Viva”
Créditos: Reprodução/TV Cultura
Jair Bolsonaro no “Roda Viva”

O candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), afirmou, em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira, 30, que “gostaria de ter estado mais vezes ao lado” do deputado cassado Eduardo Cunha (MDB-RJ), que está preso por corrupção desde outubro de 2016.

“Não é porque andei com corruptos que sou corrupto”, afirmou, ao ser questionado também por ter feito parte do PP, partido do ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf. 

Bolsonaro disse ter estado com Cunha “raras vezes” e agradeceu ao deputado cassado por ter aprovado sua primeira PEC (proposta de emenda à Constituição), a que obriga a impressão do voto. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, no entanto, questionou a lei no STF, e a medida foi suspensa.

O candidato do PSL criticou a procuradora-geral, dizendo que ela prestou um “desserviço”: “Lamento que Raquel Dodge tenha atuado para derrubar o voto impresso. Não consigo entender como a impressão do voto prejudica, como ela argumentou”. E finalizou: “Eleições, de qualquer forma, estarão sob suspeição [sem impressão do voto]”. Confira mais trechos da entrevista:

Economia

“Eu tenho vários postos Ipiranga”, citando Paulo Guedes, responsável pelo programa econômico do deputado, admitindo que não domina o assunto. Ele também afirmou não ter “plano B”, caso se afaste de Guedes.

Bolsonaro, no “Roda Viva”
Créditos: Reprodução/TV Cultura
Bolsonaro, no “Roda Viva”

Tortura

“De acordo com a Constituição, ninguém pode ser declarado culpado sem sentença tendo transitado em julgado, como é o caso do [coronel Carlos Alberto Brilhante] Ustra. Nós abominamos a tortura, mas o pessoal que se diz torturado, é uma forma de dizer, para conseguir indenizações e piedade da população. Essa história não tá bem contada.”

Ustra foi o único militar brasileiro reconhecido pela Justiça como torturador.

Arquivos da ditadura militar

Defendeu que o período tem de ser “esquecido”. “Ferida tem de ser cicatrizada. Esquece isso aí, é daqui pra frente. Não vou abrir nada, desconheço esses arquivos, esses papéis com certeza já sumiram.”

Ao ser questionado se acredita que Vladimir Herzog, então diretor da TV Cultura, foi torturado por militares, desconversou. Disse que há uma “suspeita”. E mudou de assunto: “Quero pegar os papéis do BNDES, esses sim. Doaram dinheiro para Chávez, Cristina Kirchner… Os demais [papéis da ditadura], aconteceu…”

O Ministério Público Federal de São Paulo reabriu a investigação sobre a tortura e o assassinato do jornalista.

Cotas

“Fantástica pra ele, pra mim, não”, respondeu, ao ser questionado sobre política de cotas para negros. Um negro não é melhor do que eu, nem sou melhor do que um negro. Por quê cota? Não posso falar que vou terminar [com a Lei de Cotas] porque depende do Parlamento, mas vou propor a redução do percentual.”

Bolsonaro também responsabilizou os próprios negros pelo tráfico negreiro no Brasil, que durou do século 16 ao 19:  “O português nem pisava na África. Foram os próprios negros que entregavam os escravos”, afirmou, distorcendo fatos históricos.

Desemprego no campo

“É difícil ser patrão no Brasil. No campo, a CLT tinha de ser diferente. O homem do campo não pode parar no Carnaval, sábado, domingo e feriado. A planta ali vai morrer.”

Refugiados

Questionado sobre ter dito que os refugiados são a “escória” do mundo, disse que “nunca generalizei no tocante a refugiado”. Para generalizar em seguida: “Entra quem bem entender pra cá, vem gente que não presta. Isso não é xenofobia, é cuidar do seu país”.

Mortalidade infantil

Quando questionado sobre o crescimento da mortalidade infantil, um problema  que voltou a aumentar no Brasil pela primeira vez desde 1990, o candidato deu uma resposta confusa em que responsabilizou o crescimento da taxa ao nascimento de prematuros e à saúde bucal da mulher.

“Um prematuro tem mais chances de morrer. Tem que jogar na prevenção”, e completou: “Gestante não cuida da saúde bucal”. A questão, bem mais complexa, envolve políticas públicas, vírus da zika e crise econômica.