Bolsonaro sobrevoa Petrópolis, mas esconde que cortou verba de combate à enchente

O governo cortou 43% da verba federal destinada ao combate ás enchentes em 2021

De volta ao Brasil após viagem oficial no leste europeu, o presidente Jair Bolsonaro (PL), sobrevoou, nesta sexta-feira, 18, as áreas atingidas pelas fortes chuvas em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, como se preocupado estivesse com a situação dos moradores da cidade, mas em momento algum apontou sua responsabilidade na tragédia por ter promovido grandes cortes nas verbas federais destinadas, justamente, à prevenção de enchentes.

Bolsonaro sobrevoa Petrópolis, mas esconde que cortou verba de combate à enchente
Créditos: Reprodução/TVBrasil
Bolsonaro sobrevoa Petrópolis, mas esconde que cortou verba de combate à enchente

As enchentes em Petrópolis já deixaram 130 mortos e ainda há 218 de desaparecidos.

As equipes da Defesa Civil do município registraram 553 ocorrências desde a terça-feira, 15. Foram 436 deslizamentos, 29 alagamentos e 88 avaliações de riscos. Todas as sirenes do primeiro distrito permaneceram acionadas ao longo da noite, devido ao volume de chuva acumulado das últimas horas, desta sexta, e previsão de permanência de chuva para o município.

Até o fim da manhã de hoje, 849 pessoas desabrigadas estavam acolhidas nos 19 pontos de apoio da cidade.

“Vi uma intensa destruição. É uma imagem de guerra, lamentável. Tivemos uma perfeita noção da gravidade do que aconteceu aqui em Petrópolis”, disse Bolsonaro após sobrevoar Petrópolis.

Mesmo seu governo tendo reduzido 43% os recursos para a Defesa Civil, Bolsonaro afirmou que, assim que soube da tragédia em Petrópolis, quando ainda estava na Europa, entrou em contato com ministros para que a União desse “suporte necessário à população”. “Liguei para o ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, que já havia determinado um recurso extra no orçamento. Entrei em contato com o ministro Paulo Guedes, da Economia, para que também agilizasse a liberação desses recursos”, afirmou.

Porém, ao longo de 2021, o governo Bolsonaro empenhou apenas R$ 918,6 milhões para a área responsável pela preparação do país inteiro para eventos climáticos extremos. Em 2020, o montante destinado para a área foi de R$ 1,63 bilhão.

Bolsonaro é responsável pela União ter feito o menor investimento na Defesa Civil desde 2016, de acordo com dados do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (Siop) do governo federal.

A área não foi contemplada nas emendas RP-9, do chamado “orçamento secreto”, o esquema criado por Bolsonaro para garantir apoio político junto ao Congresso, sem qualquer transparência quanto a distribuição dos recursos. Os investimentos da União na área que combate enchentes foram fortalecidos apenas por emendas de bancadas estaduais: o Congresso destinou R$ 30,8 milhões; outros R$ 4,1 milhões chegaram via emendas individuais.

Dada às informações, o Ministério do Desenvolvimento Regional, que é responsável pela área, disse “condenar qualquer tentativa de uso político da tragédia”. A pasta diz que destinado pouco mais de R$ 1 bilhão para a área em 2021.

A maquiagem que o Ministério usa para declarar que destinou pouco mais de R$ 1 bilhão para a área em 2021 é considerar no montante, ou seja, inclui na conta, o pagamento dos chamados “restos a pagar”, porém, isso quer dizer considerar gasto do governo atual, recursos empenhados em anos anteriores, mas que só foram quitados agora.

O Ministério ainda teve coragem de afirmar que “episódios extremos provocados pelo clima acontecem em todo o mundo e não há ações que poderiam ter evitado o aumento do nível dos rios e alagamentos das áreas, tal o volume de precipitações registradas”.

Com a redução dos gastos com enchentes, o Brasil vive no início deste ano uma catástrofe. Além da situação agora enfrentada em Petrópolis, no final de dezembro o Sul da Bahia foi inundado pelas chuvas, depois Minas Gerais.

Quando Bolsonaro foi sobrevoar Belo Horizonte, após as chuvas na capital mineiro, o prefeito da cidade, Alexandre Kalil (PSD), considerou “uma idiotice”. Indagado sobre o motivo de pensar assim, ele foi taxativo: “ É só para inglês ver”.

Quando a tragédia é vista de perto, o resultado é outro. “Se a gente for lá ver, seu coração será tocado. Eu te garanto que seu coração é tocado. Não há noite sem dormir, sonhando com aquilo”, disse.