Campanha escancara violência doméstica durante quarentena
AVISO DE GATILHO: violência doméstica; vídeo faz parte de ação do Instituto Maria da Penha para alertar sobre esse problema em meio à pandemia
Uma reunião em videochamada de uma empresa, aparentemente corriqueira, é o cenário de uma campanha do Instituto Maria da Penha (IMP) sobre violência doméstica durante a quarentena. Esse tipo de crime aumentou em até 50% em alguns estados brasileiros no período da pandemia do novo coronavírus, sendo que a maioria dos casos aconteceu dentro de casa.
No vídeo, um encontro matinal da equipe é interrompido após uma das funcionárias, a personagem fictícia Carla, aparecer muito maquiada às 10h da manhã e relatar para a colega de trabalho, Mariana, que foi agredida fisicamente pelo companheiro. Ao saber da situação, ela chama a polícia para salvar a amiga.
Depois de 10 minutos, Carla atende o interfone e avisa o agressor que chegou uma encomenda para ele. Quando ele sai da casa, Mariana grita: “Tranca, tranca! Amiga, já tranca, não perde tempo! Tranca tudo! A polícia chegou?”. Imediatamente, a vítima levanta, fecha a porta e volta ao vídeo da ligação, chorando.
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A história narrada representa a mesma de muitas mulheres no Brasil e no mundo que estão isoladas com seus agressores dentro de casa, em situação de extrema vulnerabilidade. Em meio às restrições de circulação, a denúncia desse tipo de crime acaba sendo ainda menos frequente.
O vídeo “Call” foi criado pelo Instituto Maria da Penha, em parceria com as agências de publicidade F.biz e Vetor Zero, e faz parte de uma campanha da organização para conscientizar as mulheres vítimas de violência e também as pessoas ao redor, que podem vir a se tornar uma rede de apoio a quem precisa.
“E quem não está em situação de risco, fique atento aos sinais. Podemos resgatar amigas, colegas e familiares deste tipo de relacionamento, que não distingue cor, idade ou classe social” ressalta o texto da iniciativa. “Peça ajuda”, diz a ação ao divulgar canais de denúncia como o 190, da Polícia Civil, e o Disque 180.
Como identificar a violência doméstica
Mas como identificar as situações de violência que não são tão explícitas? A psicóloga Kátia Braz cita comportamentos recorrentes que caracterizam um relacionamento abusivo, como o sujeito oferecer algo à companheira que não vai entregar, vender uma ideia de si mesmo totalmente errada e prometer amor e companheirismo eternos.
“Tudo que não tem comum acordo pode ser caracterizado como uma violência. Ele querer controlar a sua vida, ter posse sobre você e fazer com que tudo que você faça seja para o prazer dele são alguns pontos a se destacar”, afirma.
A especialista lista alguns exemplos de situações vistas com frequência em relacionamentos abusivos. Não é possível afirmar que as pessoas com essas atitudes virão a praticar violência física, mas são alguns dos caminhos que historicamente resultaram nesse tipo de situação.
“Quanto mais eu estudo esse tema e mais tenho contato com essas mulheres, mais percebo a sutileza de violências que a gente vai sofrendo no dia a dia. É muito característico, bem triste”, completa.
Veja abaixo alguns indícios:
Demonstra amor de forma exagerada
As demonstrações de amor de forma exagerada, com pedidos de casamento, noivado ou namoro muito prematuros são indícios de um relacionamento que pode vir a ser abusivo.
Se dedica 100% à relação
Sabe aquela pessoa que parou de jogar futebol com os amigos, parou de ir aos passeios e fica 100% do tempo com a namorada, observando tudo o que acontece com ela? Isso é outro indício de uma tentativa de controle e, portanto, de violência.
Faz uso de um falso moralismo
O sujeito fala para que você precisa respeitar a sua família, mas ele não fala com a mãe dele há 5 anos e nunca a tratou bem. É algo que não se encaixa muito bem.
Utiliza chantagens frequentes
Chantagens, muitas chantagens. Para que a mulher não termine, o homem usa aspectos e pessoas essenciais da vida dela e a chantageia. Inclusive, em certos casos, o agressor chega a inventar que está com uma doença grave ou até mesmo ameaça se matar.
Se vitimiza sempre
O homem sempre se coloca como vítima. Às vezes de antigas namoradas, em outros casos de familiares ou chefes mulheres. Todas causaram mal a ele. Ou seja, a raiva com que ele trata a companheira e o resto das pessoas é justificada como se fosse uma reação ao sofrimento que enfrentou ao longo da vida. No entanto, a mulher precisa prestar atenção, pois, após certo tempo, ela mesma será colocada como mais um algoz na vida do rapaz.
Desqualifica a mulher em público
A todo momento, ele tenta desqualificar a vítima em público e deslegitimar todos seus sentimentos, desde a dor, o sofrimento e até a alegria.
Por exemplo: a mulher chega toda feliz em casa porque será promovida no emprego, e ele responde: “Não tem nada a ver com talento, mas sim porque seu chefe está querendo te pegar”.
Além disso, o companheiro passa a minar todas as coisas que são básicas a ela: faz silêncios violentos, ameaça ficar sem falar com ela caso não siga um pedido seu, entre outros comportamentos.
Trai com frequência
Um aspecto que aparece frequentemente são as traições. O indivíduo tem o hábito de trair e colocar essas traições como culpa do outro: “Olha, eu te traí porque você ficou diferente comigo, porque você está muito fria”.
Um caso que acontece sempre é o homem ter brigado o dia todo com a mulher, aí chega à noite e quer ter relação sexual, mas ela nega. Então, ele a trai e ainda diz que fez isso porque ela não tem mais interesse e o jogou nos braços de outra mulher.